EM 1965, dois anos antes de Hélio Oiticica realizar Tropicália, o penetrável que buscava envolver o espectador de forma integral, os argentinos Marta Minujín e Rubén Santantonin (1919 -1969) criavam La Menesunda, uma instalação de certa forma ainda mais radical que a obra do brasileiro. Mais radical por sua complexidade: La Menesunda, que em gíria portenha significa confusão, é composta por um labirinto com 11 salas distintas, onde em cada uma o visitante passa por uma experiência diferente. Pode-se adentrar um ambiente refrigerado onde a porta de entrada e saída é a mesma de geladeiras; ser massageado em uma versão amalucada de salão de cabelereiro recoberto de batom; ou atravessar o quarto de um casal deitado na cama. A cada ambiente, uma surpresa aguarda o espectador, em alguns deles com atores que permanecem na instalação o tempo todo.
Em maio de 1965, centenas de argentinos formaram filas à frente do Instituto Torcuato Di Tela, onde, a convite de seu diretor, Jorge Romero Brest, a obra foi instalada. Cinquenta anos depois, em maio de 2016, novamente centenas de portenhos aguardavam para conhecer La Menesunda, desta vez, remontada no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, o Mamba. “Essa obra buscava provocar o espectador e levá-lo à ação: mobilizá-lo, agitá-lo e oferecer a ele uma nova experiência estética”, diz Victoria Noorthoorn, diretora do museu, ao descrever La Menesunda com palavras que caberiam igualmente à Tropicália. A diferença, contudo, está em que, enquanto a obra de Oiticica evitava o caráter espetacular, buscando se aproximar de uma estética essencialmente popular, La Menesunda abusa de efeitos especiais, como um corredor inteiro com luz neon ou uma pequena gaiola onde se pode entrar e que ao girar enche o ambiente de papel picado.
Para a remontagem, a obra ganhou um nome um pouco maior: La Menesunda Segundo Marta Minujín. “Isso ocorreu porque se trata de um trabalho muito complexo e, apesar de muito dele ter sido reconstruído com objetos originais e baseado em fotos da época, foi a memória da Marta que determinou a forma final”, explica Noorthoorn. A obra ficou oito meses em cartaz, e mesmo no último fim de semana as filas começaram antes da abertura do museu. Noorthoorn busca agora uma parceria no Brasil para expor La Menesunda. “Acho que teria muito sentido apresentar essa obra em um museu de São Paulo”, afirma.
Nascida em Buenos Aires, Minujín é uma das principais artistas conceituais e da performance na América Latina. Uma de suas obras mais conhecidas, Parthenon de Livros (1983), uma reprodução do Parthenon de Atenas construída com livros, dever ser remontada na próxima Documenta, em 2017, que ocorrerá em Atenas e Kassel. A artista estará presente nas duas cidades-sede da mostra. La Menesunda é a materialização das preocupações e interrogações de seus criadores sobre as possibilidades da linguagem artística e sua capacidade de afetar e transformar o espectador”, define Sofía Dourron, no catálogo que acompanha a remontagem da obra.
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