Luisa Strina: Nome chave da arte contemporânea brasileira

Meu interesse por arte?vem desde menina. Minha matéria preferida na escola era pintura e artes e eu estava certa de que queria ser artista. Naquela época, não havia faculdades de artes e, com 15 anos, fui fazer um curso livre na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Estudei pintura com o Nelson Nóbrega, gravura com o Marcelo Grassmann e o Mario Gruber, e escultura com o Caciporé Torres. Nesse ínterim, ingressei na faculdade de psicologia, mas abandonei o curso, em dois anos, e decidi estudar na Escola Brasil, quando ela foi fundada, em 1970. Ao longo de dois anos, passei a ter contato com os artistas com quem, logo depois, eu abriria a galeria. Comecei a agenciar o Luiz Paulo Baravelli, o Carlos Fajardo, Wesley Duke Lee, Babinski e o José Resende e, em 1972, eu trouxe uma exposição de artistas americanos de Pop Art para o Brasil, com obras de Roy Lichtenstein, Andy Warhol, James Rosenquist e Jim Dine. Uma exposição feita na Interdesign, uma loja de design. Em 17 de dezembro de 1974, abri a galeria e ela foi a primeira a ter um time próprio de artistas. Eram o Baravelli, o Fajardo, o Wesley, o Babinski e o Nelson Leirner. Mais adiante, a eles, se juntaram Waltercio Caldas, Tunga, Cildo Meirelles, e nosso primeiro artista internacional, o Antoni Muntadas.

Nos anos 1970, o Brasil era completamente fechado para tudo. Não se podia vender nada fora e tampouco comprar algo de fora do País. Mesmo assim, fiz uma parceria com o Banco do Brasil, que tinha agências internacionais, e fizemos exposições em Cingapura, Viena e Caracas. Apesar de conseguir realizar essas exposições, eram tempos de muita burocracia. Mesmo sendo parceira do Banco do Brasil, muitas obras eram presas na alfândega. Em 1979, tive obras que ficaram por dois anos apreendidas, sendo que quem as tinha mandado de volta ao País foi o próprio Banco do Brasil. Eram trabalhos que não estavam à venda. O futuro presidente Figueiredo, que ainda era apenas General, foi quem me ajudou a liberar as obras e cheguei a jurar que jamais faria exposições fora do Brasil.

Por volta de 1986, 1987, durante o governo Sarney, quando começaram a ser abertas algumas portas por aqui, o Peter Ludwig, do Museum Ludwig, em Colônia, Alemanha, veio ao Brasil com a intenção de fundar em Brasília um novo museu, só de arte brasileira, e estava disposto a gastar 5 milhões de dólares em obras daqui. Em contrapartida, ele queria um terreno, e também que o museu levasse o seu nome. O governo brasileiro, simplesmente, disse não. Ludwig ficou muito chocado e convidou, a mim e ao João Sattamini, um dos maiores colecionadores do País à época, para irmos a Feira de Colônia [Art Cologne], pois ele iria, de qualquer forma, comprar obras de arte brasileiras e deixar por lá, na Europa mesmo. Foi só aí, em 1989, que voltei a trabalhar fora do Brasil. Logo depois, fui convidada para fazer a Art Basel, a mais importante feira do mundo. Desde então, nos inserimos no mercado internacional e, hoje, a coisa mudou radicalmente. No começo, ninguém conhecia a arte brasileira e era tudo uma grande aventura-mas eram desafios que eu tinha assumido. Desde os anos 1970, quando abri a galeria, minha grande meta era levar nossa arte para fora do País. É engraçado lembrar destes fatos porque, naquela época, eu ia à Nova York, por exemplo, levava portfólios de artistas brasileiros, e era recebida com aquela expressão de “Mas quem é essa latino-americana?”, “Arte brasileira, como assim?!”. Hoje, estes mesmos galeristas são grandes amigos meus, mas demorou muito para que o Brasil tivesse o devido reconhecimento no mercado internacional.

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Em outubro, fizemos três feiras internacionais. Estivemos na Frieze, em Londres, na FIAC, em Paris, e na ArtBo, em Bogotá. As três feiras foram muito boas e só reiteram um sucesso que resultou de muitos anos de trabalho. Nos anos 1970 e 80, até mesmo o mercado internacional não era tão bem estabelecido. Aqui, ele mal existia e penso que o fato de o Brasil ser muito fechado, ironicamente, foi algo muito positivo para os nossos artistas. Não havia muitas referências de fora por aqui e os brasileiros criaram uma arte muito específica e diversa. O fato de não ter escolas, também conferiu mais liberdade a nossos artistas. Os americanos, por exemplo, tinham regras rígidas, havia o que podia e o que não podia ser feito. Aqui, não. Aqui podia ser feito tudo!


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