“Não quero mais carregar segredos, não há perdão, mas posso buscar contrição daquilo que fiz”. É assim que se apresenta o delegado Cládio Guerra, chamado de “Fleury Capixaba” em homenagem ao também delegado e linha-dura Sérgio Paranhos Fleury, no livro Memórias de Uma Guerra Suja, escrito pelos jornalistas Marcelo Neto e Rogério Medeiros. E os segredos que ele resolveu revelar podem colocar fim à alguns dos mistérios mais tenebrosos daquele período.
Como o que teria acontecido com a militante de esquerda Ana Rosa Kucinski, uma das presas que “desapareceu” durante a ditadura. Guerra garante que deu um sumiço no corpo da jovem, e de outros nove mortos pelo regime, incluindo o político David Capistrano. Todos eles foram incinerados numa usina de açúcar em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro. O engenho pertencia a Heli Ribeiro, então vice-governador do estado. Capistrano havia tido a mão decepada. Kucinski apresentava marcas de violência sexual.
“Enquanto servi ao regime militar, lhe fui absolutamente leal, a ponto de aceitar a autoria de um crime que não era meu”, diz Guerra, que hoje é pastor evangélico. O livro também promete jogar luz no episódio do “atentado do Rio-Centro”, quando um grupo de militares de ultradireita teria tentado plantar uma bomba num show popular no dia 1º de maio de 1981 para perpetuar o regime, que na época começava sua abertura. Guerra afirma que participou diretamente do planejamento da ação, que é negada até hoje pelas Forças Armadas.
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