Doença da insensatez

Duas boas notícias encerraram o mês de março. A primeira foi a visita de Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio Lula da Silva, no final da manhã do dia 27. O encontro foi no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Lula, que fazia exames de fonoaudiologia, voltou para sua casa em São Bernardo do Campo no mesmo dia.

A segunda boa notícia veio no dia seguinte, também de manhã, com o anúncio feito pelos médicos de que não há mais resquícios do tumor que se formou na laringe de Lula. Depois de ser diagnosticado com câncer, em 29 de outubro de 2011, Lula passou por três ciclos de quimioterapia e 33 de radioterapia, em um tratamento que se encerrou no dia 17 de fevereiro. Os médicos não usam a palavra cura, o que só pode acontecer após cinco anos, mas a notícia é muito boa.

O encontro durou 50 minutos, tempo suficiente  para conversar sobre saúde e também, imagino, para abordar outros assuntos. Porque seria impensável que dois políticos da importância de Lula e FHC não se preocupem, por exemplo, com o desenrolar do caso Demóstenes-Cachoeira.

O gesto de Fernando Henrique é tão louvável e festejável quanto um câncer curado. Ele atinge ou deveria atingir os excessos que permeiam a polarização política que vivemos há um bom tempo. Os dois sorrisos desta página, em foto de Ricardo Stuckert, amplamente divulgados, deveriam amenizar os ódios entre fernandistas e lulistas, tucanos e petistas, simpatizantes de uma ou outra das facções políticas. Os dois foram personagens de proa de momentos importantes, de acontecimentos vitais do País. Lula e Fernando Henrique participaram da derrubada da ditadura militar, dividiram os louros pelo feito e, a partir daí, cada um foi para o seu lado. Mas ambos são filhos da mesma mãe: a Democracia.

O gesto de FHC deveria servir para aplacar desvarios que chegaram a gerar comentários insensatos do tipo: “Se fosse o contrário, duvido que Lula fizesse o mesmo”.

Tanto o gesto de FHC agora como o de Lula no dia 25 de junho de 2008, com sua presença na Sala São Paulo (capa da Brasileiros aqui acima), no velório de Ruth Cardoso, deveriam ter o efeito de uma bem-sucedida quimioterapia contra o câncer da insensatez.


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