Fotos Associação das Vítimas do Césio 137 e Divulgação
Um aparelho de radioterapia abandonado. Este foi o princípio do maior acidente radioativo no Brasil e o maior do mundo fora de usinas nucleares. Há exatos 25 anos, no dia 13 de setembro de 1987, o dono de um ferro-velho no centro de Goiânia, Devair Alves Ferreira, comprou de dois catadores de lixo um aparelho de radioterapia que havia sido encontrado em um terreno onde funcionava uma clínica de exames médicos. Ao abrir a máquina, ele encontra uma cápsula contendo uma pedra azul que emitia um brilho intenso. Maravilhado com o achado, ele leva o objeto para casa e o mostra à sua família, entre os presentes, a sua mulher, Maria Gabriela Ferreira, sua sobrinha Leide das Neves Ferreira, e os irmãos, Ivo Ferreira e Odesson Alves Ferreira.
Naquele dia, e nos dias que se seguiram, a família presenteou amigos e vizinhos com porções da pedra brilhante que facilmente se transformava em pó. Foi só quando começou a sentir os sintomas da radiação – náuseas, vômitos, fortes dores de cabeça e queimaduras – que a família buscou saber de que se tratava o material. De ônibus, Maria Gabriela levou o que restou da pedra até a Vigilância Sanitária da cidade.
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Enquanto a família e as demais vítimas que tiveram contato com o material tratados no Hospital de Doenças Tropicais, descobre-se que o produto era césio 137, um metal altamente radioativo criado em reatores nucleares como produto da queima de urânio 235. A descoberta se deu 16 dias após o acidente, no dia 29 de setembro.
Para tentar conter a radiação, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) monitorou os níveis de radioatividade dos locais onde o aparelho passou e de mais de 110 mil pessoas, que formaram filas gigantescas para serem analisadas no Estádio Olímpico. Em 271 delas a radiação foi constatada.
Dezoito dias depois, em 1º de outubro, 14 pessoas foram levadas para o Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, em estado grave. Quatro morreram, entre elas a menina Leide das Neves Ferreira, de apenas 6 anos, sobrinha de Devair, que se tornou símbolo da tragédia. Maria Gabriela Ferreira, 37 anos, Israel Batista dos Santos, 22 anos, e Admilson Alves de Souza, 18 anos, foram as outras vítimas fatais diretas. A Associação das Vítimas do Césio 137 estima-se, no entanto, que 104 pessoas tenham morrido e cerca 1,6 mil tenham sido afetadas pela radiação em Goiânia.
O episódio causou pânico na cidade. Nos enterros das vítimas – em valas de concreto e caixões de chumbo – populares atiravam pedras nos caixões protestando contra a presença dos corpos em cemitério comum.
Autoridades destruíram o ferro-velho e residências da região, além de pertences das famílias contaminadas. Toneladas de lixo radioativo resultante dessa limpeza foram enviadas para um depósito construído especialmente para abriga-las em Abadia de Goiás.
Condenação dos responsáveis
Sócios na Clínica de Radiologia de Goiânia, que abandonou o aparelho, os médicos Carlos Bezerril, Criseide Castro Dourado e Orlando Alves Teixeira e o físico hospitalar Flamarion Barbosa Goulart foram condenados por homicídio culposo – sem intenção – em fevereiro de 1996 pelo Tribunal Regional Federal de Brasília. Todos cumpriram três anos e dois meses de prisão em regime aberto, com prestação de serviços à comunidade.
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