Césio 137: Para não esquecer

Fotos Associação das Vítimas do Césio 137 e Divulgação

Um aparelho de radioterapia abandonado. Este foi o princípio do maior acidente radioativo no Brasil e o maior do mundo fora de usinas nucleares. Há exatos 25 anos, no dia 13 de setembro de 1987, o dono de um ferro-velho no centro de Goiânia, Devair Alves Ferreira, comprou de dois catadores de lixo um aparelho de radioterapia que havia sido encontrado em um terreno onde funcionava uma clínica de exames médicos. Ao abrir a máquina, ele encontra uma cápsula contendo uma pedra azul que emitia um brilho intenso. Maravilhado com o achado, ele leva o objeto para casa e o mostra à sua família, entre os presentes, a sua mulher, Maria Gabriela Ferreira, sua sobrinha Leide das Neves Ferreira, e os irmãos, Ivo Ferreira e Odesson Alves Ferreira.

Naquele dia,  e nos dias que se seguiram, a família presenteou amigos e vizinhos com porções da pedra brilhante que facilmente se transformava em pó. Foi só quando começou a sentir os sintomas da radiação – náuseas, vômitos, fortes dores de cabeça e queimaduras – que a família buscou saber de que se tratava o material. De ônibus, Maria Gabriela levou o que restou da pedra até a Vigilância Sanitária da cidade.

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Enquanto a família e as demais vítimas que tiveram contato com o material  tratados no Hospital de Doenças Tropicais, descobre-se que o produto era césio 137, um metal altamente radioativo criado em reatores nucleares como produto da queima de urânio 235. A descoberta se deu 16 dias após o acidente, no dia  29 de setembro.

Para tentar conter a radiação, a  Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) monitorou os níveis de radioatividade dos locais onde o aparelho passou e de mais de 110 mil pessoas, que formaram filas gigantescas para serem analisadas no Estádio Olímpico. Em 271 delas a radiação foi constatada.

Dezoito dias depois, em 1º de outubro, 14 pessoas foram levadas para o Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, em estado grave. Quatro morreram, entre elas a menina Leide das Neves Ferreira, de apenas 6 anos, sobrinha de Devair, que se tornou símbolo da tragédia.  Maria Gabriela Ferreira, 37 anos, Israel Batista dos Santos, 22 anos, e Admilson Alves de Souza, 18 anos, foram as outras vítimas fatais diretas. A Associação das Vítimas do Césio 137 estima-se, no entanto, que 104 pessoas tenham morrido e cerca 1,6 mil tenham sido afetadas pela radiação em Goiânia.

O episódio causou pânico na cidade.  Nos enterros das vítimas – em valas de concreto e caixões de chumbo –  populares atiravam pedras nos caixões protestando contra a presença dos corpos em cemitério comum.

Autoridades destruíram o ferro-velho e residências da região, além de pertences das famílias contaminadas. Toneladas de lixo radioativo resultante dessa limpeza foram enviadas para um depósito construído especialmente para abriga-las em Abadia de Goiás.

Condenação dos responsáveis
Sócios na Clínica de Radiologia de Goiânia, que abandonou o aparelho, os médicos Carlos Bezerril, Criseide Castro Dourado e Orlando Alves Teixeira e o físico hospitalar Flamarion Barbosa Goulart foram condenados por homicídio culposo – sem intenção – em fevereiro de 1996 pelo Tribunal Regional Federal de Brasília. Todos cumpriram três anos e dois meses de prisão em regime aberto, com prestação de serviços à comunidade.

Leia mais:
Cnen: acidente com césio não deve se repetir no Brasil


Comments

10 respostas para “Césio 137: Para não esquecer”

  1. […] em uma coloração azul no escuro e quando friccionado se transformava em pó. Ele passou a distribuir entre seus amigos e familiares, inclusive para um de seus irmãos que levou para sua fil…Todas as pessoas expostas ao material desenvolveram sintomas de contaminação em diferentes tempos. […]

  2. Avatar de samia rodrigues
    samia rodrigues

    e muito triste a história toda vez quando eu olho o video eu choro.

  3. muito triste isso nunca devemos esquecer para não coremos risco de pegarmos coisa sem ter

  4. muito triste na escola estou estudado isso sobre o ceiso 137 minha prof comtou

    mais mesmo assim muito obrigada descobri mais

    1. Avatar de Eduarda Gabrielle
      Eduarda Gabrielle

      A Minha professora de Geografia contou a História desse Césio… Pio que aconteceu aqui, na minha cidade!! História Muito Triste e Trágica, O segundo pior acidente do mundo!

  5. A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha cloreto de césio – um sal obtido a partir do radioisótopo 137 do elemento químico césio. A cápsula radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico que, dentro deste, encontrava-se revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo. Essa caixa protetora possuía uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da radiação para o exterior. A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, posicionada num contentor giratório que dispunha de um colimador. Este servia para direcionar o feixe radioativo, bem como para controlar a sua intensidade. Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa mas pensa-se que a mesma tenha sido produzida por volta de 1970 pelo Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos EUA. O material radioativo dentro da cápsula totalizava 0,093 kg e a sua radioatividade era, à época do acidente, de 50,9 Terabecquerels (TBq) ou 1375 Ci. O equipamento radioterápico em questão era do modelo Cesapam F-3000. Foi projetado nos anos 1950 pela empresa italiana Barazetti e Cia. e comercializado pela empresa italiana Generay SpA. O objeto que continha a cápsula de césio foi recolhido pelos militares e encontra-se exposto como troféu no interior da Escola de Instrução Especializada, no RJ (capital), em forma de agradecimento aos que participaram da limpeza da área contaminada. A origem do acidente O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era um instituto privado, localizado na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas algumas salas – inclusive aquela em que se localizava o aparelho – foram mantidas em ruínas.[4] Houve onze mortes e 600 pessoas foram contaminadas. O desmonte do equipamento radiológico Foi no ferro-velho de Devair Ferreira que a cápsula de césio foi aberta para o reaproveitamento do chumbo. O dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl), mas que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para a mulher Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos, o irmão de Devair, Ivo Ferreira leva um pouco de césio para sua filha, Leide Das Neves, que ingere as partículas do césio junto ao pão; outro irmão de Devair Alves Ferreira também tem contato direto com o césio. Pelo fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo internamente. No dia 23 de outubro morrem Leide das Neves e Maria Gabriela, esposa de Devair. Ele passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital Naval Marcílio Dias, no RJ, e morreu sete anos depois. A exposição à radiação Tão logo expostas à presença do material radioativo, as pessoas em algumas horas começaram a desenvolver sintomas: náuseas, seguidas de vertigens, com êmeses e diarréias. Alarmados, os familiares dos contaminados foram inicialmente a drogarias procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram encaminhados para hospitais. A demora na detecção O que restou do terreno na Rua 57, onde a cápsula de Césio 137 começou a ser desmontada. Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade com os sintomas descritos. Maria Gabriela, esposa do dono do ferro velho, desconfiou que aquele pó que emitia um brilho azul era o responsável pelos sintomas que ocorriam na sua família. Ela e um empregado do ferro-velho do marido levaram a cápsula de césio para a Vigilância Sanitária, que ainda permaneceu durante dois dias abandonada sobre uma cadeira. Durante a entrevista com médicos, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarreia se iniciaram depois que seu marido desmontou aquele “aparelho estranho”. Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi um dos pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vítima da contaminação, falecendo no dia 23 de outubro de 1987 de complicações relativas à contaminação com césio. Outra vítima, considerada o retrato da tragédia, Leide das Neves Ferreira, ingeriu involuntariamente pequenas quantidades de césio depois de brincar com o pó azul. A menina de seis anos foi a vítima com a maior dose de radiação do acidente. Não conseguiu sobreviver e morreu no dia 23 de outubro de 1987, duas horas depois da tia. Foi enterrada em um caixão blindado, erguido por um guindaste, por causa das altas taxas de radiação. O seu enterro virou uma disputa judicial, pois os coveiros e a população de Goiânia não aceitavam que ela fosse enterrada, mas sim cremada para que os seus restos mortais não contaminassem o solo do cemitério. Depois de dias de impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado para que a radiação fosse contida. O governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população, que foi submetida a uma “seleção” no Estádio Olímpico Pedro Ludovico; os governantes da época escondiam a tragédia da população, que aterrorizada procurava por auxílio, dizendo ser apenas um vazamento de gás. Outra razão é que Goiânia sediava, na época, o GP Internacional de Motovelocidade no Autódromo Internacional Ayrton Senna e o Governador do Estado Henrique Santillo não queria que o pânico fosse instalado nos estrangeiros.[7] A contaminação Terreno onde estava edificado o Estádio Olímpico Pedro Ludovico A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. No total 112.800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo. Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o Parque Estadual Telma Ortegal. Até à atualidade, todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira. Após vinte e cinco anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo. E muitas pessoas contaminadas ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás; essas pessoas não oferecem, contudo, mais nenhum risco de contaminação à população. Em uma casa, em que o césio foi distribuído, a residente, esposa do comerciante vizinho à Devair, jogou o elemento radioativo no vaso sanitário e, em seguida, deu descarga. O imóvel ficou conhecido como “casa da fossa”. Entretanto, a Sanego alegou que a casa não possuía fossa, sendo construída com cisterna, para a população não pensar que a água da cidade estaria hipoteticamente contaminada. Lixo atômico A limpeza produziu 13.500 toneladas de lixo atômico, que necessitou ser acondicionado em 14 contêineres que foram totalmente lacrados. Dentro destes estão 1.200 caixas e 2.900 tambores, que permanecerão perigosos para o meio ambiente por 180 anos. Para armazenar esse lixo atômico e atendendo às recomendações do IBAMA, da CNEN e da CEMAm, o Parque Estadual Telma Ortegal foi criado em Goiânia, hoje pertencente ao município de Abadia de Goiás, onde se encontra uma “montanha” artificial onde foram colocados a nível do solo, revestida de uma parede de aproximadamente 1 metro de espessura de concreto e chumbo. Consequências Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus valores reduzidas a preços insignificantes, pois quem morava na região queria sair daquele lugar, mas o medo da população da existência de radiação no ar impedia a compra e construção de novas habitações. Além das desvalorizações dos imóveis, por muito tempo a população local passou por uma certa discriminação devido ao medo de passar a radiação para outras pessoas, dificultando o acesso aos serviços, educação e viagens. Muitas lojas e o comércio que existiam antes do acidente acabaram fechando ou mudando de endereço, sobrando alguns poucos comerciantes que ainda resistiam em continuar na região. ] Revitalização da região Mercado Popular da Rua 57 após a reforma. Somente no final dos anos 90, a região começou a passar uma imagem menos “assustadora” para os novos inquilinos, através de ações do governo municipal e estadual para a revitalização da região, revalorizando as casas que estavam nas mediações do acidente. Em questão de poucos anos, o valor das casas da região central já era entre duas a três vezes maior do que na época do acidente. No início de 2006, a prefeitura municipal de Goiânia resolveu revitalizar o antigo Mercado Popular, sendo reinaugurado em novembro de 2006 com a edição 2007 da Casa Cor Goiás, com a presença de autoridades municipais e estaduais. Em fevereiro de 2007, o Mercado Popular passou a ser um ponto turístico da cidade, por possuir uma feira gastronômica todas as sextas-feiras à noite, sempre acompanhada de música ao vivo. Aos poucos, a região atingida pelo acidente vem sendo valorizada, aumentando o interesse de grandes empreiteiras construírem prédios de luxo, onde antes eram apenas casebres abandonados. Repercussão do acidente O acidente foi descrito em vários documentários internacionais, além de filmes, programas de televisão, canções e livros. Cinema O acidente radioativo é mencionado no premiado curta-metragem Ilha das Flores, escrito e dirigido por Jorge Furtado.
    Em 1990, Roberto Pires dirigiu o filme Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia, que faz uma dramatização do acidente.
    Livros O livro Blindfold Game de Dana Stabenow faz uma menção ao incidente.
    O conto “Witch Baby” de Francesca Lia Block menciona o acidente; muitos dos personagens foram criados a partir de um artigo que a autora leu sobre o incidente.
    O livro “Goiânia rua 57 o nuclear na terra do sol” de Fernando Gabeira faz uma analise do ocorrido.
    O livro “A Menina que Comeu Césio”, do jornalista Fernando Pinto, descreve os acontecimentos a partir de depoimentos e relatos colhidos in loco pelo autor.
    O livro “De pernas pro ar- A escola do mundo ao avesso” de Eduardo Galeano também menciona o episódio.
    O livro “Radiation Narratives and Illness: The politics of memory on the Goiânia Disaster”, da antropóloga Telma Camargo da Silva analisa este evento crítico.
    Música Em 1988, o cantor e compositor italiano Angelo Branduardi lançou a canção “Miracolo a Goiania” no álbum Pane e Rose. Esta canção conta o diálogo que teria ocorrido entre as pessoas envolvidas no acidente.
    Em 1992, o cantor e compositor panamense Rubén Blades lançou a canção “El Cilindro” no álbum Amor y Control. Esta canção conta uma história que teria ocorrido com um dos protagonistas do acidente.
    Na música “O BANDIDO DA LUPA VERMELHA” Patrick Horla faz menção ao ocorrido.
    Televisão O episódio “Thine Own Self” de Star Trek, que foi ao ar em 14 de fevereiro de 1994, apresenta algumas similaridades ao acidente.
    O episódio do dia 9 de agosto de 2007 do programa Linha Direta da Rede Globo teve como tema o acidente, que completava vinte anos.
    O episódio “Daddy’s Boy” do seriado americano House, M.D. apresenta uma trama similar à do incidente.
    Um episódio do desenho animado The New Adventures of Captain Planet foi escrito fazendo um paralelo com o incidente. Nele, um grupo de crianças encontram um fonte radioativa em um equipamento médico abandonado e, consequentemente, contaminam-se, embora os heróis intervenham antes que as mortes ocorram. drxxxxxxxxxxxxxxx

  6. É muito triste após tantos anos lembrar desta terrível história, contando para meu filho de 7 anos, nos fez chorar…

  7. isso e uma coisa que nao podemos superar eu quero ser escritora vou escrever sobre o cesio 137 obrigada, vamos ajudar o mundo a para com isto?

  8. A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha cloreto de césio – um sal obtido a partir do radioisótopo 137 do elemento químico césio. A cápsula radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico que, dentro deste, encontrava-se revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo. Essa caixa protetora possuía uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da radiação para o exterior.

    A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, posicionada num contentor giratório que dispunha de um colimador. Este servia para direcionar o feixe radioativo, bem como para controlar a sua intensidade.

    Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa mas pensa-se que a mesma tenha sido produzida por volta de 1970 pelo Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos EUA. O material radioativo dentro da cápsula totalizava 0,093 kg e a sua radioatividade era, à época do acidente, de 50,9 Terabecquerels (TBq) ou 1375 Ci.

    O equipamento radioterápico em questão era do modelo Cesapam F-3000. Foi projetado nos anos 1950 pela empresa italiana Barazetti e Cia. e comercializado pela empresa italiana Generay SpA.

    O objeto que continha a cápsula de césio foi recolhido pelos militares e encontra-se exposto como troféu no interior da Escola de Instrução Especializada, no RJ (capital), em forma de agradecimento aos que participaram da limpeza da área contaminada.

    A origem do acidente

    O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era um instituto privado, localizado na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas algumas salas – inclusive aquela em que se localizava o aparelho – foram mantidas em ruínas.[4] Houve onze mortes e 600 pessoas foram contaminadas.

    O desmonte do equipamento radiológico

    Foi no ferro-velho de Devair Ferreira que a cápsula de césio foi aberta para o reaproveitamento do chumbo. O dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl), mas que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para a mulher Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos, o irmão de Devair, Ivo Ferreira leva um pouco de césio para sua filha, Leide Das Neves, que ingere as partículas do césio junto ao pão; outro irmão de Devair Alves Ferreira também tem contato direto com o césio. Pelo fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo internamente. No dia 23 de outubro morrem Leide das Neves e Maria Gabriela, esposa de Devair. Ele passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital Naval Marcílio Dias, no RJ, e morreu sete anos depois.

    A exposição à radiação

    Tão logo expostas à presença do material radioativo, as pessoas em algumas horas começaram a desenvolver sintomas: náuseas, seguidas de vertigens, com êmeses e diarréias. Alarmados, os familiares dos contaminados foram inicialmente a drogarias procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram encaminhados para hospitais.

    A demora na detecção

    O que restou do terreno na Rua 57, onde a cápsula de Césio 137 começou a ser desmontada.

    Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa desconhecida, medicando os doentes em conformidade com os sintomas descritos. Maria Gabriela, esposa do dono do ferro velho, desconfiou que aquele pó que emitia um brilho azul era o responsável pelos sintomas que ocorriam na sua família. Ela e um empregado do ferro-velho do marido levaram a cápsula de césio para a Vigilância Sanitária, que ainda permaneceu durante dois dias abandonada sobre uma cadeira. Durante a entrevista com médicos, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarreia se iniciaram depois que seu marido desmontou aquele “aparelho estranho”. Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi um dos pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vítima da contaminação, falecendo no dia 23 de outubro de 1987 de complicações relativas à contaminação com césio. Outra vítima, considerada o retrato da tragédia, Leide das Neves Ferreira, ingeriu involuntariamente pequenas quantidades de césio depois de brincar com o pó azul. A menina de seis anos foi a vítima com a maior dose de radiação do acidente. Não conseguiu sobreviver e morreu no dia 23 de outubro de 1987, duas horas depois da tia. Foi enterrada em um caixão blindado, erguido por um guindaste, por causa das altas taxas de radiação. O seu enterro virou uma disputa judicial, pois os coveiros e a população de Goiânia não aceitavam que ela fosse enterrada, mas sim cremada para que os seus restos mortais não contaminassem o solo do cemitério. Depois de dias de impasse, Leide foi enterrada em um caixão de chumbo lacrado para que a radiação fosse contida.

    O governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população, que foi submetida a uma “seleção” no Estádio Olímpico Pedro Ludovico; os governantes da época escondiam a tragédia da população, que aterrorizada procurava por auxílio, dizendo ser apenas um vazamento de gás. Outra razão é que Goiânia sediava, na época, o GP Internacional de Motovelocidade no Autódromo Internacional Ayrton Senna e o Governador do Estado Henrique Santillo não queria que o pânico fosse instalado nos estrangeiros.[7]

    A contaminação

    Terreno onde estava edificado o Estádio Olímpico Pedro Ludovico

    A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. No total 112.800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e acabaram morrendo.

    Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores a vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas para detecção de radioatividade. Para uma melhor identificação, foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos a vácuo, mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Objetos como brinquedos, fotografias e utensílios domésticos foram considerados material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o Parque Estadual Telma Ortegal.

    Até à atualidade, todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira.

    Após vinte e cinco anos do desastre radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioatividade reclamam por não estarem recebendo os medicamentos, que, segundo leis instituídas, deveriam ser distribuídos pelo governo. E muitas pessoas contaminadas ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, Avenida Paranaíba, Rua 74, Rua 80, Rua 70 e Avenida Goiás; essas pessoas não oferecem, contudo, mais nenhum risco de contaminação à população.

    Em uma casa, em que o césio foi distribuído, a residente, esposa do comerciante vizinho à Devair, jogou o elemento radioativo no vaso sanitário e, em seguida, deu descarga. O imóvel ficou conhecido como “casa da fossa”. Entretanto, a Sanego alegou que a casa não possuía fossa, sendo construída com cisterna, para a população não pensar que a água da cidade estaria hipoteticamente contaminada.

    Lixo atômico

    A limpeza produziu 13.500 toneladas de lixo atômico, que necessitou ser acondicionado em 14 contêineres que foram totalmente lacrados. Dentro destes estão 1.200 caixas e 2.900 tambores, que permanecerão perigosos para o meio ambiente por 180 anos. Para armazenar esse lixo atômico e atendendo às recomendações do IBAMA, da CNEN e da CEMAm, o Parque Estadual Telma Ortegal foi criado em Goiânia, hoje pertencente ao município de Abadia de Goiás, onde se encontra uma “montanha” artificial onde foram colocados a nível do solo, revestida de uma parede de aproximadamente 1 metro de espessura de concreto e chumbo.

    Consequências

    Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus valores reduzidas a preços insignificantes, pois quem morava na região queria sair daquele lugar, mas o medo da população da existência de radiação no ar impedia a compra e construção de novas habitações. Além das desvalorizações dos imóveis, por muito tempo a população local passou por uma certa discriminação devido ao medo de passar a radiação para outras pessoas, dificultando o acesso aos serviços, educação e viagens. Muitas lojas e o comércio que existiam antes do acidente acabaram fechando ou mudando de endereço, sobrando alguns poucos comerciantes que ainda resistiam em continuar na região. ]

    Revitalização da região

    Mercado Popular da Rua 57 após a reforma.

    Somente no final dos anos 90, a região começou a passar uma imagem menos “assustadora” para os novos inquilinos, através de ações do governo municipal e estadual para a revitalização da região, revalorizando as casas que estavam nas mediações do acidente.

    Em questão de poucos anos, o valor das casas da região central já era entre duas a três vezes maior do que na época do acidente. No início de 2006, a prefeitura municipal de Goiânia resolveu revitalizar o antigo Mercado Popular, sendo reinaugurado em novembro de 2006 com a edição 2007 da Casa Cor Goiás, com a presença de autoridades municipais e estaduais. Em fevereiro de 2007, o Mercado Popular passou a ser um ponto turístico da cidade, por possuir uma feira gastronômica todas as sextas-feiras à noite, sempre acompanhada de música ao vivo.

    Aos poucos, a região atingida pelo acidente vem sendo valorizada, aumentando o interesse de grandes empreiteiras construírem prédios de luxo, onde antes eram apenas casebres abandonados.

    Repercussão do acidente

    O acidente foi descrito em vários documentários internacionais, além de filmes, programas de televisão, canções e livros.

    Cinema

    O acidente radioativo é mencionado no premiado curta-metragem Ilha das Flores, escrito e dirigido por Jorge Furtado.
    Em 1990, Roberto Pires dirigiu o filme Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia, que faz uma dramatização do acidente.
    Livros

    O livro Blindfold Game de Dana Stabenow faz uma menção ao incidente.
    O conto “Witch Baby” de Francesca Lia Block menciona o acidente; muitos dos personagens foram criados a partir de um artigo que a autora leu sobre o incidente.
    O livro “Goiânia rua 57 o nuclear na terra do sol” de Fernando Gabeira faz uma analise do ocorrido.
    O livro “A Menina que Comeu Césio”, do jornalista Fernando Pinto, descreve os acontecimentos a partir de depoimentos e relatos colhidos in loco pelo autor.
    O livro “De pernas pro ar- A escola do mundo ao avesso” de Eduardo Galeano também menciona o episódio.
    O livro “Radiation Narratives and Illness: The politics of memory on the Goiânia Disaster”, da antropóloga Telma Camargo da Silva analisa este evento crítico.
    Música

    Em 1988, o cantor e compositor italiano Angelo Branduardi lançou a canção “Miracolo a Goiania” no álbum Pane e Rose. Esta canção conta o diálogo que teria ocorrido entre as pessoas envolvidas no acidente.
    Em 1992, o cantor e compositor panamense Rubén Blades lançou a canção “El Cilindro” no álbum Amor y Control. Esta canção conta uma história que teria ocorrido com um dos protagonistas do acidente.
    Na música “O BANDIDO DA LUPA VERMELHA” Patrick Horla faz menção ao ocorrido.
    Televisão

    O episódio “Thine Own Self” de Star Trek, que foi ao ar em 14 de fevereiro de 1994, apresenta algumas similaridades ao acidente.
    O episódio do dia 9 de agosto de 2007 do programa Linha Direta da Rede Globo teve como tema o acidente, que completava vinte anos.
    O episódio “Daddy’s Boy” do seriado americano House, M.D. apresenta uma trama similar à do incidente.
    Um episódio do desenho animado The New Adventures of Captain Planet foi escrito fazendo um paralelo com o incidente. Nele, um grupo de crianças encontram um fonte radioativa em um equipamento médico abandonado e, consequentemente, contaminam-se, embora os heróis intervenham antes que as mortes ocorram.

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