“Através de brincadeiras e diversão, formaremos cidadãos”, explica Tião Rocha, presidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), uma ONG que promove atividades para meninos e meninas de 7 a 14 anos, do Vale Jequitinhonha – região mineira que sofre muito com a falta de infraestrutura. “Sabíamos que cesta básica era fundamental, mas não era o essencial para tornar a vida daquela nova geração de moradores mais congruente, precisávamos fornecer esperança”.
Foi assim que surgiu o projeto Ser Criança e nós fomos conhecer a iniciativa destinada a crianças e jovens, em Araçuaí: “Sabíamos que era lá onde as coisas boas e ruins refletem em todo o Vale do Jequitinhonha”. O projeto conta com o apoio da Natura Cosméticos.
Na região, os meninos, quando atingem certa idade, são destinados ao corte de cana, onde ficavam nove meses longe de suas famílias, recebendo muito pouco. O diretor da ONG conta que, quando quase perdeu seu primeiro aprendiz para o corte de cana, jurou que proporcionaria um destino totalmente diferente para a vida daqueles garotos.
O interesse das crianças por música foi evidente, Tião entrou em contato com o grupo Ponto de Partida – uma das mais importantes companhias brasileiras de teatro, situada em Barbacena – e pediu ajuda para pensar em novos rumos.
Admirados com a história e canções dos meninos, o Ponto de Partida se tornou parceiro e ofereceu estudos musicais para as crianças. Foi então que nasceu o coral Meninos de Araçuaí.
Tião conta, que durante 15 anos do projeto, nunca perdeu um garoto para o corte de cana. Em compensação, o projeto Ser Criança acabou perdendo 10 crianças para o Bituca – Universidade de Música Popular de Barbacena -, organizado pelo Ponto de Partida. “Mas até ai, é um grande sucesso e o verdadeiro objetivo da organização”.
Hoje, os Meninos de Araçuaí é um espetáculo que circula nos principais palcos, das grandes cidades brasileiras. A excelência do projeto conquistou inúmeros prêmios e teve que estender seus projetos pelos vales do Jequitinhonha e São Francisco, o sertão mineiro, a Bahia, o Maranhão, São Paulo, Peru e Moçambique.
É um processo de formação permanente. Com aulas de música, percussão, voz, dança e interpretação, o coral trabalha com grandes artistas brasileiros, e alguns integrantes construíram carreiras sólidas. Apresentaram-se desde o Théâtre des Champs-Élysées, em Paris, o Municipal do Rio de Janeiro, o Teatro Nacional, em Brasília, o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, o Castro Alves, na Bahia, o Auditório Ibirapuera, em SP, o São Pedro, em Porto Alegre.
Pitágoras Silveira, um dos meninos de Araçuaí que está desde as primeiras gerações no projeto, conquistou seu objetivo: se transformou em um compositor, e hoje além de seguir com carreira própria, ajuda com a nova formação da garotada: “Isso definitivamente mudou minha vida, é muito gratificante olhar essa nova geração e saber que passei exatamente por isso”, comenta.
E neste final de semana, nos dias 8 e 9, o grupo vem até São Paulo, onde apresentará o espetáculo “Presente de Vô”, em parceria com o Programa Natura Musical. O espetáculo é em comemoração aos 15 anos do projeto, no Teatro do Ibirapuera.
As canções contam com Cirandas Guaranis, cantigas de ninar africanas, batuques aprendidos com avós do Vale do Jequitinhonha, Aleluias misturados a vozes indígenas, Tom Jobim, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Milton Nascimento e músicas do folclore português.
Serviço
Presente de Vô
Auditório Ibirapuera – Av. Pedro Alvares Cabral, s/n – Portão 2
8 e 9 de novembro
Horário: 21h (sexta-feira) e 18h (sábado)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
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