Os primeiros passos virtuais

O Cibercultura 10+10 foi iniciado em Santos. O que se viu na primeira mesa de debates foi uma dinâmica volta ao tempo, contextualizando a realidade em que vivíamos e como pensávamos há 10 anos, quando Pierre Lévy, um dos palestrantes da mesa, escreveu o conceituado livro Cibercultura.
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Como não poderia deixar de ser, Lévy foi o centro das atenções no início do bate-papo. O escritor e pesquisador começou falando que a ideia inicial do livro surgiu aproximadamente em 1987, para mostrar que a informática não era um bicho de outro mundo e, sim, uma ferramenta de produção.

Lévy falou da dificuldade que encontrou quando foi explicar sua tese na União Europeia. O pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia, André Lemos, entrou na conversa e contou que, em 1991, quando foi para França desenvolver sua tese sobre cibercultura, a banca avaliadora, formada basicamente por sociólogos tradicionais, não compreendia profundamente o assunto, e que então Lévy foi requisitado para integrar o debate.

Grande parte da desconfiança inicial em torno da Internet se deu também pelo preconceito. Lévy disse que a rede era vista como ferramenta para ação de traficantes e maníacos sexuais. Tinha até quem acreditava que a internet iria causar uma “americanização” no mundo e o inglês viraria a língua oficial. Lendas que o livro de Lévy ajudou a desmistificar.

Gilberto Gil iniciou a conversa apontando para importante fato: seria impossível a internet da maneira como é hoje sem os computadores pessoais. Claudio Prado, mediador do debate, lembrou que os produtores de computadores, como a IBM, nem pensavam na produção de PCs. Lévy foi além, lembrou que a própria IBM alegou produzir supermáquinas e não brinquedos caseiros. Outro grande do mercado foi citado pelo professor ciberativista Sérgio Amadeu. Ele lembrou que, no início dos anos 1990, Bill Gates falou que a internet nunca emplacaria, pois ninguém aceitaria passar informação para uma rede sem dono. Uma demonstração do pensamento proprietário de Gates.

Gilberto Gil ressaltou as políticas brasileiras, muito mais abertas à discussão sobre o assunto que as de países desenvolvidos. “A Europa é voltada para o passado, eles dirigem para frente, mas sempre olhando para o retrovisor”, concordou Lévy. Para completar o pensamento, Amadeu disse que o mundo renascentista separou a arte da ciência e da tecnologia, mas a cibercultura está retomando isso. “Quem disse que desenvolver um software não é arte?”, indagou.

Após os debates, houve uma rodada de perguntas com a plateia, formada quase que exclusivamente por jovens e também com o público que acompanhou ao vivo pela internet.


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