Um ano de Boteco do Balaio, onde o virtual virou real

Foi no dia 4 de fevereiro do ano passado que entrou no ar uma experiência inédita na internet: uma filial criada no Google pelos próprios leitores deste Balaio. Semanas antes, eu me vi obrigado a fazer a moderação do blog em razão da quantidade de comentários ofensivos enviados por um grupo de cachorros loucos e também para evitar que o Balaio se transformasse num chat, uma sala de bate-papo dos leitores.

Não era este meu objetivo, declarado no dia em que o Balaio entrou no ar, no dia 11 de setembro de 2008. Queria que este fosse um espaço absolutamente livre, mas a realidade me levou a implantar a moderação, que dá um trabalho danado e perdura até hoje. Passo boa parte do dia no meu computador e leio todos os comentários. Com o tempo, os cachorros loucos desistiram, mas vira e mexe aparecem novos, e sou obrigado a excluí-los do nosso convívio. A opinião aqui é livre, mas a baixaria, não. Internet não é porta de banheiro.

Já habituados ao bate papo diário, alguns leitores não se conformaram e resolveram criar seu próprio espaço para conversar. Eles se conheceram aqui, ganharam vida própria, muitos se tornaram amigos e, em setembro do ano passado, no primeiro aniversário do Balaio do Kotscho, promoveram um encontro em São Paulo, com a participação de leitores de várias regiões do estado e do país. O que era virtual virou real.

A iniciativa foi da jornalista Aliz de Castro Lambiazzi, a incansável animadora do Boteco do Balaio, a quem pedi que me enviasse um depoimento, que reproduzo abaixo, sobre esta inédita experiência, que agora vai virar trabalho acadêmico. Aliz já foi entrevistada sobre o Boteco pela estudante Fernanda Magalhães, da UNIP, que está fazendo seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) centrado na experiência dos blogs. Com apenas 16 meses no ar, o Balaio do Kotscho já foi linkado por mais de 65 mil blogs de todo o país. Por tudo isso, só posso me sentir muito gratificado com este trabalho, para mim também inédito, graças aos leitores fiéis e aos novos que não param de chegar.

Quem quiser participar do Boteco do Balaio é só entrar em contato com a Aliz: jornalizta@gmail.comr (atenção: este jornalizta é com “z” mesmo, alusão ao nome dela).

Abaixo, o relato de Aliz:

Boteco do Balaio – 1 ano no ar

Números:

Hoje, o Boteco tem 64 membros registrados e até este momento temos temos 13.060 mensagens trocadas.

Veja, no quadro abaixo, o volume de mensagens trocadas por mês desde que o Boteco nasceu:

Arquivo
2009
jan – 1460
fev – 714
mar – 614
abr – 664
maio – 840
jun – 1052
jul – 805
ago – 1036
set – 2252
out – 1032
nov – 1150
dez – 1374

2010
jan – 67

Um Balaio inédito só poderia gerar um Boteco mais inédito ainda

Kotscho, você costuma dizer que este é um fato inédito: um blog ganhar uma filial. Eu também acho que é, pelo menos não vi nada parecido na net ainda. Detalhe: o seu Balaio, tão amado por todos nós, não possui apenas uma lista de discussão como filial, mas também um outro blog (http://boteco-do-balaio.blogspot.com/), onde colocamos as brincadeiras e fatos interessantes que vivemos por neste Boteco doido que nasceu dos seus leitores. E diferente como só o Balaio é, o Boteco do Balaio não foge à regra, pois é um espaço completamente inusitado!

Parece um boteco de verdade. Balcão, mesas espalhadas onde despejamos os papos variados da gente, cachaça, vinho, suco e até samambaia enfeitando o espaço. Até arranca-rabos tem, acredita? Esse humilde antro de bebericagens já rendeu risos e lágrimas intensamente, acho que a todos. Ali, a emoção acontece em todos os sentidos, de forma plena. Não é á toa que chegamos a um ano de vida, não é?

Você me pergunta sobre algum fato pitoresco, e eu passei a madrugada procurando, mas é tão difícil escolher! Esses balaieiros-botequeiros é que são pitorescos em tudo. O interessante ali é que todos partilham da mesma fantasia, numa sintonia mágica em que um dá continuidade à criação do outro. Foi assim que o Boteco ganhou cor, objetos, situações e vida! E se os papos não são tão intensos como no Balaio, é porque hoje a amizade fala mais forte. Muitos preferem calar do que entrar em litígio com o amigo. Aos meus olhos, isso é lindo!

Mas vou te contar: conversamos sobre tudo o que você possa imaginar. Às vezes levamos temas do Balaio pra lá, ou simplesmente fatos da sua área de comentários, que ganham continuidade ali, entre nós. Temas em alta na mídia também são discutidos, como a morte do Michael Jackson, as leis absurdas de Kassabs e Serras, enfim, uma variedade enorme. Mas tem um algo mais. Eles escrevem poemas, compõem músicas, repentes, fazem piada, discutem política e religião, criam vídeos. Riem de si mesmos e uns dos outros na cara dura. Contam casos e causos.

Temos contistas, cronistas, poetas, psicólogos, políticos natos. Cantam, tocam violão, trocam fotos, mostram a cara, a casa e a família. São transparentes, e por isso mesmo no dia do seu Encontrão ninguém se estranhou: estavam ali exatamente as mesmas pessoas que convivem com a gente on-line, com as mesmas manias e a mesma conversa, sem nenhuma contradição.

Acho que um dos fatos que marcou o Boteco foi quando o Robson saiu de Campinas pra achar o Enio, em São Paulo. Ninguém conhecia ninguém pessoalmente ainda, mas já éramos bastante íntimos. O Robson nem tinha o endereço do Enio, apenas algumas referências obtidas nas conversas do Boteco. O Enio estava sumido há um mês e todos nós estávamos muito preocupados (ele é essencial, fazer o que?).

Num belo domingo, Robson pegou as referências que tinha e fuçou até achar a casa do Enio. Passaram horas juntos, e essa surpresa emocionou todos nós para sempre, além de nos tranqüilizar com notícias desse ilustre botequeiro. Foi a partir disso que o nosso amigo ganhou o nome de Sherlock Robson, que é avisado logo que algum botequeiro demore a aparecer.

E esses encontros surpresa vivem acontecendo, viu! A relação entre os botequeiros já deixou de ser virtual há muito tempo, e isso é que legal. O que tenho orgulho de destacar sempre é a transparência dessas pessoas. Pessoalmente, nenhum de nós se estranha, mesmo no primeiro encontro, porque na internet ninguém tenta ser diferente do que é, e isso reflete quando nos vemos pessoalmente, como se já nos conhecêssemos há muito tempo. E fora isso, rola também uma troca de presentes por correio, cartas, enfim

Ah! Algo de legal que fizemos também, agora no final do ano, foi o amigo secreto do Boteco. Organizamos um amigo secreto virtual. Sorteamos os nomes com a ajuda do site amigosecreto.com.br, brincamos muito com mensagens anônimas, mas o melhor foram os presentes. O presente tinha que ser virtual, então, tivemos que soltar a imaginação para bolar uma homenagem ao amigo secreto exclusiva, personalizada. O dia da entrega foi emocionante! O pessoal se dedicou de verdade e surgiram surpresas lindas, bacanérrimas. Vídeos, músicas, poesias, uma infinidade de presentes virtuais que surtiram efeitos reais e inesquecíveis, melhor do que se tivéssemos trocado presentes de verdade.

O próprio Encontrão do Balaio foi “o acontecimento” pra nós, a coisa mais marcante de todas. Nele, além de nos conhecermos pessoalmente, conhecemos outros balaieiros e você, o nosso grande presente.

Nessa caminhada, dividimos muito, coisas tristes e alegres, e acho que é isso que dá alma ao Boteco. Perdemos a Ana Luíza, tão novinha, nossa Borboletinha amarela, o que nos chocou e entristeceu profundamente. Giu anunciou a chegada de seu primeiro filho. Norma e Sandrinha foram, recentemente, visitar Enrique (o nosso motobóico) na casa dele, no meio da enchente em Sampa – e pelos relatos, foi uma tarde incrível.

Até a vaquinha do Simei, lá do Acre, já é celebridade entre nós, tornando-se pintura sensual (risos). A morte da cachorrinha do Robson, após 11 anos de convivência, que mexeu com todos.Enfim não tem como classificar, esse boteco é, de fato, livre,louco e informal. E pulsante! Essa é a melhor parte.

Por essas e outras que esse primeiro ano está sendo comemorado. Essas pessoas que formam o Boteco, e que renasceram uns para os outros no seu Balaio, têm descoberto outra forma de vida na internet, e dividido isso com muito amor e muita solidariedade. Espero que comemoremos muitos outros aniversários!

Obrigada Kotscho, mais uma vez, a culpa é toda sua!

Aliz


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