O palco para o show principal será montado em Paraty, no Rio de Janeiro. Do dia 4 ao dia 8 de agosto, vão desfilar na Tenda de Autores os convidados das letras, com direito a participação de um roqueiro, Lou Reed (veja programação completa das mesas da Flip aqui). Espera lá, a Flip não é um evento literário? Claro, mas como acontece todos os anos, a programação do evento abre espaço para outras artes, como cinema, pintura, cartum, teatro e, por que não, música. Afinal, quem abre oficialmente o evento de 2010 é o cantor e compositor Edu Lobo, no dia 4. Então, esperem o vozeirão do Lou Reed, que se autointitula “Dostoiévski do rock”, mas para falar sobre os escritores que influenciaram a sua música e de sua geração de cantores populares americanos. Além dessa, digamos, destoada, a Flip trará o cartunista Robert Crumb. De resto: Lionel Shriver, Isabel Allende, Robert Darnton, John Makinson, William Boyd, A.B. Yehoshua, Azar Nafisi, Salman Rushdie, Terry Eagleton, William Kennedy, Colum McCann, Antonio Tabucchi, além dos escritores brasileiros Moacyr Scliar, Patrícia Melo, Beatriz Bracher, Lilia Schwarcz, Alberto da Costa e Silva, entre outros. E não devemos nos esquecer do homenageado do ano, o sociólogo e historiador Gilberto Freyre.
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Números e outras atividades
Como todos já sabem, a Flip cresce e tem cada vez menos espaço para os visitantes. Então, quem não quiser perder a oportunidade de ver de perto um dos convidados, na Tenda dos Autores (há também a Tenda do Telão), corra para comprar os ingressos, que serão vendidos a partir das 10h do dia 5 de julho. Esse ano, o preço do ingresso na Tenda dos Autores é de R$ 40 (inteira) e na Tenda do Telão R$ 10 (a venda também é feita pelo site www.ticketsforfun.com.br e pelo telefone (11) 4003-0848, além dos pontos de venda da Tickets for Fun). Como acontece desde a primeira edição da Flip, o evento reserva espaço para as crianças e jovens leitores, com a Flipinha, além de várias atividades paralelas, compondo um belíssimo tributo à palavra.
Entrevista Flávio Moura (Diretor de Programação da Flip)
Logo após o encerramento da coletiva, o site da Brasileiros entrevistou o diretor de programação da Flip, Flávio Moura, que esse ano completa três anos à frente do maior evento literário da América Latina. Veja os principais trechos da entrevista.
Brasileiros – Você completa três anos como diretor de programação da Flip. O que esses três anos te ensinaram?
Flávio Moura – Me ensinaram que é bastante difícil fazer um evento literário desse porte, mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante. É um evento que tem uma repercussão muito curiosa. Acho que a grande coisa a se pensar sobre a Flip é isso: por que ela consegue essa repercussão que ela tem, sendo um evento sobre literatura e cultura no país de poucos leitores? Essa é, eu acho, a grande questão a se desvendar.
Brasileiros – Você esperava continuar como direto de programação, já que os anteriores ficaram em média dois anos no cargo?
F.M. – A média é de dois anos e teve um diretor que ficou um ano. Mas, confesso que não pensei nisso quando comecei. Enfim, o trabalho é gratificante, e ainda é estimulante e me desafia. Enquanto eu puder continuar contribuindo será interessante.
Brasileiros – Você todo ano ressalta a dificuldade de montar a programação, porque sempre muita gente fica insatisfeita. Como é lidar com isso, com essas pressões?
F.M. – Acho que quem sofre muito com isso é o Dunga (risos). Para mim, claro que tem um pouco disso, é normal, é natural. O evento tem uma repercussão muito grande e tem suas limitações de programação. A gente tem de fazer escolhas, e escolhas implicam sempre exclusão. O que você precisa é montar e depois argumentar a favor da escolha que fez. Tenho bastante convicção das escolhas que faço, porque eu monto dessa maneira. Isso é um pouco doloroso. Confesso que gostaria de poder trazer muito mais autores brasileiros do que acabo trazendo. Isso seria benéfico para literatura brasileira, para os escritores, por causa da repercussão.
Brasileiros – Teu gosto pessoal interfere de alguma maneira nessas escolhas?
F.M. – Confesso que têm autores de que gosto muito, mas não posso misturar meu gosto pessoal com aquilo que me parece que de que ser um evento desse porte. Pessoalmente, tenderia a ter um predomínio total pela não-ficção, se for pensar do ponto de vista pessoal, mas não posso fazer isso.
Brasileiros – Em relação à homenagem ao Gilberto Freyre, li uma tese sobre ele em que o autor trabalha com a ficção do real em sua obra. Ele trazia muito do ficcional para seus artigos e ensaios…
F.M. – Isso é inclusive tema de uma das mesas sobre Gilberto Freyre, Ao correr da pena. Essa mesa é dedicada a discutir esse lado ficcional na obra de Gilberto Freyre. Isso mostra as qualidades inegáveis dele como escritor. Que dizer, ele era um prosador maravilhoso. O escritor Guimarães Rosa reconhecia isso. O Darcy Ribeiro, que fez o prefácio do livro Casa-Grande & Senzala, publicado pela editora Record (agora quem edita toda a obra o Gilberto Freyre é a editora Global e a nova edição teve o prefácio de Fernando Henrique Cardoso), explica isso de maneira maravilhosa. Ele mostra que Freyre era uma potência da literatura por causa do que ele sabia fazer com a palavra.
Brasileiros – Você está acompanhando a celeuma em torno do lançamento do livroDe Menino a Homem, do Gilberto Freyre, em que ele relata sua sexualidade, inclusive suas experiências homossexuais?
F.M. – Estou acompanhando. Acho que esse assunto poderá aparecer nas discussões em torno da obra de Gilberto Freyre na Flip. Penso que é uma coisa que não ofenderia em absoluto Freyre, se ele estivesse vivo, porque ele era a primeira pessoa a fazer provocação sobre ele mesmo nessa direção. Ele deu uma entrevista para a Playboy em 1980, na qual ele repassa toda a sua carreira, e fala de suas experiências sexuais nos anos 1930 e 1940. Fala, inclusive, até da camisa de vênus que usava. Essa entrevista teve uma repercussão enorme na época e ele foi o primeiro a se deliciar com tudo aquilo. Ele ligou para o jornalista da Playboy depois que a matéria saiu e se divertiu com a celeuma que aquilo estava causando. Se essas questões vierem à tona, aparecerem, vão só somar. Vão falar de uma figura controversa que ele foi, como intelectual e também de sua vida pessoal.
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