O humor combativo do fundador do Pasquim

“A natureza do humor é ser contra. Contra a autoridade, o estabelecido. A natureza do humor é revelar o que está escondido por trás da aparente normalidade, do poder.” Assim resume Claudius Ceccon, um dos principais cartunistas brasileiros, que celebra agora mais de 50 anos de carreira com a exposição retrospectiva Claudius: Quixote do Humor. Foi justamente com um olhar crítico e aguçado sobre os acontecimentos do Brasil e do mundo que o artista traçou seu caminho no cartunismo brasileiro, tendo colaborado, dos anos 50 até hoje, com veículos como Jornal do Brasil, Folha, Estado, O Globo, revistas Cruzeiro e Manchete, entre outros.

A mostra, de curadoria do próprio artista, tem foco maior na produção feita a partir de 1964, quando o golpe iniciou um período de censura que afetou o cartunista e muitos de seus colegas. “O humor é o grande inimigo dos ditadores. Quando usado como se deve, ele é subversivo”, crava. Claudius se exilou na Europa, onde se engajou em trabalhos pedagógicos e educativos, mas não deixou de colaborar com publicações brasileiras, notadamente O Pasquim (semanário do qual foi um dos fundadores). Hoje, em tempos de democracia, o cartunista de 76 anos não se mostra menos combativo do que foi no passado. E faz questão de ressaltar, inclusive, que não foi só com a censura do regime militar que teve de lidar durante a vida. “Sempre houve uma certa censura, que não tem esse nome, mas que é a dos interesses dos donos do jornal. Então, muito do que eu fiz, foi meio driblando, ou peitando, ou discutindo sobre as charges.”

Nesse sentido, a crise vivida pela grande imprensa em tempos de internet é vista sob um ponto de vista otimista por Claudius: “É a perda do monopólio da opinião. O jornal não faz mais a cabeça das pessoas como fazia, principalmente dos jovens. E essa é a crise”, diz. “E crise, no famoso ideograma chinês, significa perigo e oportunidade. Então, acho que há um momento de possibilidades enormes.” De possibilidades para se expressar, segundo ele, já que, em um país como o Brasil, há ainda muito para se conquistar. “É carro de­mais, poluição demais, consumismo demais, opções erradas sendo feitas, e a gente precisa denunciar. Vivemos um mundo de contradições que precisam ser vistas, e acho que o humor pode ajudar”, conclui. 

Serviço – Claudius: Quixote do Humor
Sesc Santo Amaro (Rua Amador Bueno, 505)
ter. a sex. das 11h a 21h, sab. e dom., das 10h às 18h
Até 27/07


Comentários

Uma resposta para “O humor combativo do fundador do Pasquim”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.