“Se necessário, iremos à greve”, revela Altino Prazeres

Manifestação de metroviários e MPL no terminal Ana Rosa. Foto: Osvaldo Corneti/ Fotos Públicas
Manifestação de metroviários e MPL no terminal Ana Rosa. Foto: Osvaldo Corneti/ Fotos Públicas

Altino Prazeres provavelmente não vai assistir a partida inaugural da Copa do Mundo, que acontecerá nesta quinta-feira (12), na Arena Corinthians, em Itaquera. No dia, considerado histórico para boa parte dos brasileiros, o presidente do Sindicato dos Metroviários permanecerá procurando a melhor forma de protestar contra os problemas que a categoria sofre. Desde abril, segundo ele, o sindicato negocia com o governo.

A greve – que começou no dia 5 de junho e se estendeu até o dia 9 – pode voltar a qualquer momento, principalmente depois que a Cia. do Metropolitano demitiu 42 dos seus companheiros durante a crise. “A categoria está muito revoltada com as injustas demissões, não vamos parar de lutar, se for necessário, iremos a greve”, admite nesta entrevista à Brasileiros que você lê abaixo:

Brasileiros: Há um desencontro quanto ao número de demissões. Alguns jornais falam em 42 e outros veículos já disseram até 60 despedidos. De fato, quantos funcionários foram demitidos?
Altino Prazeres: Foram emitidos 42 comunicados de desligamento por justa causa, mas no dia de hoje (quarta-feira, 11) dois foram cancelados. No total hoje, temos 40 demitidos.

Brasileiros: É verdade que a Cia. do Metropolitano voltou atrás nas demissões e o governo pressionou para mantê-las?
Altino Prazeres: Na negociação intermediada pela Secretaria Regional do Trabalho e Emprego, sr. Luis Antonio de Medeiros, no dia nove [de junho], a Cia do Metropolitano sinalizou com a reversão das demissões, mas que teria que consultar o Palácio dos Bandeirantes. Após consulta, a Cia manteve todas as 42 demissões.

Brasileiros: Alguns desses funcionários eram de cargos de chefia, sejam elas operacionais?
Altino Prazeres: Não há nenhum chefe. Há um funcionário da manutenção, um do CCO (Centro de Controle Operacional), um da administração e os demais são operadores de transporte metroviário e agentes de segurança metroviário.

Brasileiros: Algumas fotos publicadas nas redes sociais mostraram PMs dentro das cabines dos trens. Houve algum tipo de repressão aos grevistas?
Altino Prazeres: A tropa de choque invadiu a estação Ana Rosa [Linha 2 – Verde] duas vezes. Na primeira vez a Tropa de Choque atacou os grevistas com balas de borracha, cassetetes e gás quando os grevistas se preparavam para sair. Foi uma atitude covarde. Na segunda vez, parte da tropa veio de metrô. A tropa de choque ainda invadiu as estações Bresser-Moóca, Brás e Sé [Linha 3 – Vermelha], todas de uma vez. É uma temeridade enviar a Tropa de Choque para atuar em um espaço confinado como é uma estação de metrô. O governador não poderia fazer isso. Já a PM ingressou em algumas estações várias vezes.

Brasileiros: A Revista Veja publicou uma reportagem com fotos de metroviários jogando dominó e tomando cerveja na sede da categoria. Estas imagens procedem?
Altino Prazeres: O sindicato é um espaço de representação dos metroviários e também de convívio social. Temos área para churrasco, quadra poliesportiva, TV, duas mesas para dominó e uma lanchonete. No dia 9, nós convocamos a assembléia para às 13h na expectativa que o governador recuasse das demissões e a Assembléia poderia votar pelo retorno ao trabalho. No entanto, a negociação com o Metrô começou às 15h e demorou bastante. Nesse meio tempo os trabalhadores ficaram aguardando, possivelmente jogando dominó, vendo o noticiário na TV e nas redes sociais ou conversando com colegas. Uma vez iniciada a assembléia, todas as atividades recreativas, inclusive TV, dominó e lanchonete, são interrompidas.

Brasileiros: Sabendo que vai ter uma assembleia na quarta-feira, você acha que existe uma chance real de greve no dia 12 de junho, quinta-feira?
Altino Prazeres: Nossa proposta é realizar uma grande campanha pela readmissão dos 40 colegas demitidos. As formas serão definidas na Assembléia. Antes da assembléia faremos um ato pela readmissão com a presença das centrais sindicais, parlamentares e do juiz [Jorge Luiz] Sottomaior. A categoria está muito revoltada com as injustas demissões, não vamos parar de lutar, se for necessário, iremos à greve. Vamos participar de um ato que está sendo organizado para o dia 12, às 10h, com concentração no próprio sindicato.

Brasileiros: A categoria já está disposta a aceitar os 8,7% de reajuste propostos pelo governo ou de reduzir os 12,2% sugeridos pelo Paolo Pasin, da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários), na audiência de quinta-feira passada?
Altino Prazeres: A categoria luta neste momento pela readmissão dos 40 demitidos. A greve está marcada pela questão da readmissão. A luta pelas demais reivindicações seguirá ao longo do ano. Além do salário, temos questões como o direito do pessoal da segurança fazer concurso interno para as áreas operacionais para crescer dentro da companhia. Temos o adicionais de periculosidade para o pessoal de estação e áreas da manutenção. Temos a questão da PR igualitária, que não tem custo nenhum para a companhia mas ela se recusa a atender. Temos a equiparação salarial que é um direito legal. Tem o plano de carreira da manutenção e segurança, enfim várias questões que vamos trabalhar ao longo do ano.

Brasileiros: Vocês chegaram a ter alguma conversa reservada com o Metrô, fora das audiências e do conhecimento da grande mídia?
Altino Prazeres: Houve negociações em todos os níveis, várias rodadas com a gerência de recursos humanos, com presidência do Metrô, Secretaria de Transportes Metropolitanos, só o governador [Geraldo] Alckmin se recusou a nos receber. Apesar de buscarmos a negociação, o governador segue intransigente em não recuar das demissões.


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