A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e a aprovação do Novo Código Florestal – que atualmente, tramita no Senado e depende de sanção da presidente Dilma Rousseff – são, hoje, dois dos temas mais polêmicos a orbitar na opinião pública brasileira. Se a luta é polarizada entre ambientalistas e ruralistas, defensores das causas indígenas e entusiastas de um desenvolvimentismo pragmático, a oposição aos projetos revela facetas de uma nova espécie de militância. Em 19 de Maio, às vésperas da aprovação do Novo Código Florestal no Congresso, uma família de etnia Kalapalo – grupo que habita a região do Alto Xingu – espontaneamente chegou a São Paulo e invadiu o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP) para protestar contra a aprovação do projeto e os avanços das obras em Belo Monte. Incipiente, e sem recursos prévios de divulgação, a manifestação foi apoiada por um grupo inexpressivo, que vem se multiplicando no desdobramento de ações que ganham cada vez mais entusiastas, entre elas o movimento Brasil Pelas Florestas (brasilpelasflorestas.blogspot.com), fundado no início de junho.
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Formado e mantido por um grupo de cerca de 15 pessoas, composto por artistas e produtores culturais, como Paulo Fonseca, Flavia Cremonesi, Andre Takahashi e Felipe Pimentel, o Brasil Pelas Florestas é um movimento apartidário, sem fins lucrativos, que pretende promover ações que articulem a sociedade civil e ampliem o debate de temas tão complexos, como a questão de Belo Monte e o novo Código Civil. No dia 20 de agosto, um sábado de chuva, cerca de mil manifestantes, muitos deles ligados ao Brasil Pelas Florestas, rumaram do MASP até a sede do IBAMA, nas proximidades do museu, em protesto que, novamente, foi marcado pela presença de dezenas de índios do Parque Nacional do Xingu. Exemplo desses novos tempos de politização apartidária e da capacidade de articulação global, a AVAAZ (avaaz.org/po), organização mundial que atua em 14 países, apoiando causas internacionais urgentes, como os conflitos no Oriente Médio, o combate à pobreza e as mudanças climáticas, patrocinou a vinda dos índios a São Paulo. A manifestação também contou com live streaming (transmissão ao vivo) via internet, promovido pelo Grupo Fora do Eixo (foradoeixo.org.br), rede de intercâmbio de produtores culturais espalhada pelo País e parceira do Brasil Pelas Florestas.
Não é necessário ser um cientista político para concluir que quase meio século de manifestações jovens pautadas pela dicotomia direita/esquerda e seus desdobramentos hierárquicos e ortodoxos deixaram um saldo de muitos fracassos. A primeira década desse novo século e a crescente utilização da internet como plataforma de causas políticas dão pistas que, cada vez mais, a sisudez desses velhos modelos estruturais de oposição parecem fadados ao fim. A nova ação do Brasil pelas Florestas, a Festa no Front, é um exemplo claro desses novos tempos. Mas, o que uma festa e seus fins hedonistas têm a ver com causas tão nobres, diria o manifestante carrancudo de décadas atrás!? Perante a necessidade de recursos para ações pontuais e a indisposição a parcerias que exijam concessões, organizar festas itinerantes foi a maneira encontrada pelo movimento para viabilizar a realização de um festival de dois dias que pretende reunir milhares de pessoas em um circuito de palestras, debates, entrevistas e mostra de artes visuais, apoiada por artistas e galeristas que doarão obras para leilão. Entre os planos urgentes do Brasil Pelas Florestas, a produção de um curta-metragem na região dos conflitos de Belo Monte também está na ordem do dia.
Organizada pelo produtor cultural Felipe Pimentel e a fotógrafa Livia Buchele, a primeira Festa no Front acontece amanhã, no Berlin – clube sediado na Barra Funda, que desde 2007 apresenta, às terças-feiras, as Jazz Nights, série de temporadas mensais que tem servido de vitrine para dezenas de grupos instrumentais da cidade – e terá discotecagem eclética, com MPB, tropicalismo, samba-rock, soul, funk, latin-jazz, afro beats, a cargo dos DJs Julião Pimenta, Nirso e Ismael. O pôster de divulgação da festa faz alusão à capa do álbum Nevermind, do Nirvana, traz um indiozinho, nu, perseguindo uma cédula de real, e a frase “Belo Monte, Do You Mind?” (em tradução livre: Belo Monte, você se importa?). Independentemente do lado que você esteja, é preciso muita convicção e para se chegar a ela, só mesmo evitando o debate raso.
SERVIÇO
Festa no Front
Sábado 10/9, das 23h às 6h
Clube Berlin
Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 85 – Barra Funda
Telefone: 11 3392-4594
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