Tony Hits é um dos pioneiros na arte da discotecagem no Brasil. Trajetória que teve início em uma tarde de 1968, quando, aos 13 anos, saiu da carvoaria onde trabalhava como empacotador e pôs-se a cruzar as ladeiras que o levavam de volta para casa. Hipnotizado com o ritmo vibrante que vinha do fundo de um quintal, não hesitou: bateu palmas diante do portão e ouviu de uma senhora que a canção era de Ray Charles, o clássico Hit the Road Jack. Tony havia acabado de receber o salário semanal e correu em busca de uma coletânea idêntica. O disco foi o marco zero de uma extensa coleção, que o motivou a oferecer precárias discotecagens em festas de amigos aos finais de semana.
Pau para toda obra, Tony chegou a trabalhar na rua como flanelinha para ajudar a mãe, Francisca. Aos 8 anos, ele conta, ficava na porta de teatros, como o Paramount e o Record, e mais de uma vez deu de cara com Wilson Simonal e o Rei Roberto Carlos. Em 1972, depois de encarar outros subempregos em postos de gasolina e na construção civil, a brincadeira nos toca-discos tornou-se coisa séria. Ao lado dos amigos Ubirajara, Lourenço e Hélio, a equipe Verde Amarelo, Tony foi à sede da Sociedade Amigos de Vila Santa Catarina, bairro da Zona Sul de São Paulo onde morava, e arriscou produzir por lá seu primeiro baile profissional.
Foi um sucesso, mais de 400 pagantes, a maior parte formada por negros. “Nos anos 1970, você contava nos dedos os caras de pele clara nesses bailes. Hoje, o público é mais diverso e os lugares que tocamos também. Sou filho de um negro com uma branca, neta de portugueses, mas minha cultura é 100% black.”
Tony é mesmo uma autoridade, quando o assunto é música de matrizes negras, sejam elas americanas, como o soul e o funk, ou brasileiríssimas, como o partido-alto e o samba-rock, que ele vem ajudando a resgatar em programas de rádio, como o extinto Clássicos da Nostalgia, da Rádio Imprensa, e o Tony Hits, há seis anos na Rádio UOL. DJ de clubes como o Picasso, no Centro de São Paulo, onde às quartas-feiras comanda o Clube do Samba-Rock, ele ainda organiza grandes bailes, como a Festa do Vinil, discotecada a seis mãos por ele, o também veterano Charles Team e Seu Osvaldo que, aos 74 anos, é considerado o primeiro DJ do Brasil. A festa embala mais de 800 pessoas na choperia do Sesc-Pompeia.
A frenética agenda de Tony, que também é dono de uma requisitada loja de LP’s, ganhou terças-feiras gordas com um happy hour no cultuado Bar Brahma, há mais de seis décadas no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, ponto de São Paulo imortalizado por Caetano Veloso em Sampa. Acompanhado dos DJ’s Gugu Reis e Jay, da banda Bola de Meia, e do compositor Flavinho Mello e seu conjunto, Tony põe o eclético público do Brahma para dançar e seduz até os menos hábeis, que podem tomar, já na primeira hora do encontro, lições infalíveis dos professores William Diaz, Luciana Reis e Kinho. Uma celebração à boa música e uma aula prática do que é samba-rock e gafieira.
Tony Hits no bar brahma
Terças-feiras, a partir das 18h30, na Avenida São João, 677 – 11 3367-3600
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