Provocação saudável

Chocolate: em novo filme de Roschdy Zem, Omar Sy, a esq., interpreta um palhaço - Foto: Julian Torres/Agência Febre
Chocolate: em novo filme de Roschdy Zem, Omar Sy, a esq., interpreta um palhaço – Foto: Julian Torres/Agência Febre

De mãe marroquina, Roschdy Zem é o único nascido na França entre cinco irmãos. Embora não negue as origens, ele é enfático ao dizer que não gosta de falar sobre isso. Diz “ter conseguido afastar-se dessa imagem de filho de imigrante da periferia francesa”. O que não muda o fato de ele ter sido um dos primeiros a abrir espaço para descendentes da imigração magrebina no cinema francês.

Zem é famoso na França, talvez não tanto pelo nome, mas pelo rosto. Aos 50 anos, viveu mais de 80 papéis nas telonas e dirigiu cinco longas-metragens. Do bandido toxicômano em Não se Esqueça que Você Vai Morrer ao soldado africano em Dias de Glória, sempre foi uma figura marcante. Desde 2006, dirige filmes abordando temas como o racismo e outros males da sociedade. “Queria conhecer a criatividade no seu estado mais puro, estar na gênese de um projeto e levá-lo até o fim”, contou o diretor em entrevista exclusiva à CULTURA!Brasileiros.

Roschdy Zem - Foto: Rogério Resende
Roschdy Zem – Foto: Rogério Resende
Chocolate é o último filme que produziu, escrito especialmente para Omar Sy, famosíssimo ator francês, revelado na cena internacional em Os Intocáveis. Trata-se, basicamente, da trajetória de um negro no meio de brancos no período da belle époque, quando o “racismo se baseava no estranhamento do outro”, explicou. Apresentado no Brasil por ocasião do Festival de Cinema Francês Varilux, Chocolate estreia no País dia 21 de julho. O cubano Rafael Padilha (Sy) é vendido ainda criança
e vai parar num circo de província, onde faz sucesso por causa da cor de sua pele, uma raridade na Europa de então. O encontro com o palhaço Foottit (James Thierrée, neto de Charlie Chaplin) transforma Rafael numa estrela em Paris. Ele passa
a ser conhecido como “Chocolat” e torna-se o primeiro artista circense negro da França.

Para Zem, “o interessante é a evolução do racismo. Hoje, como somos mais informados, acredito que o racismo assumiu outra forma”, explica. Será que a França mudou de um século para o outro? Essa seria a questão que quis suscitar. “O meu objetivo não é de dar respostas, mas apenas provocar as perguntas”, diz.

O próximo projeto do francês será a adaptação do longa-metragem brasileiro O Invasor, drama dirigido por Beto Brant, de 2002, adaptação do livro de Marçal Aquino .“O filme fala sobre a corrupção, a traição, o crime, a cobiça, tudo que há de perverso no ser humano e que se revela cada vez mais presente no nosso mundo”, avalia. “Tentei adaptar o filme para a realidade francesa, que não é a mesma da brasileira quanto à violência, por exemplo. Mas acredito que há vários pontos em comum” conclui. As filmagens começam no ano que vem.


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