No final dos ano 1990, Shigetaka Kurita, funcionário de uma empresa japonesa, decidiu transformar caracteres utilizados para expressões faciais “:)” em desenhos: os chamados emojis. E eis que hoje 92% de usuários de celulares e computadores on-line se utilizam do recurso para se expressarem. Há expressões para sarcasmo, choro, dor, raiva… e não importa a idade: uma pesquisa de 2014 nos Estados Unidos mostrou que apenas 52% dos internautas estão na faixa de 18 a 34 anos.
Os dados acima são de artigo publicado neta terça-feira (17) no Trends in Cognitive Sciences, publicação associada à prestigiada revista científica Cell. O texto das psicólogas Linda Kaye, Stephanie Malone e Helen Wall discutem a importância dos emojis para a comunicação e como podem ser um recurso interessante para a psicologia.
“As pessoas estão fazendo julgamentos sobre nós com base em como usamos os emojis, e elas não estão necessariamente certas”, diz Linda Kaye, em nota sobre o artigo.
“O que precisamos estar cientes é que esses julgamentos podem diferir dependendo de onde ou com quem você está usando esses emojis, como no local de trabalho ou entre os membros da família.”
A psicóloga chama a atenção para o fato dos emoticons não serem inócuos. Para a autora, mais do que um elemento adicional sem importância, esses sinais podem passar informações sobre a nossa personalidade e precisam ser analisados tanto quanto o texto em palavras.
“O uso de emoticons também está relacionado a traços de personalidade, mais do que idade. O quão amável ou agradável você é com os outros pode estar relacionado com o uso desses sinais”, diz.
Qual a diferença entre emojis, smiley e emoticons?
Hoje usados como sinônimos, o smiley surgiu em 1982 e especificamente é expressado pela carinha formada pela junção dos caracteres “:-)” ou “:-(“. Já o emoticon é a junção das palavras em inglês “emotion” e “icon” (respectivamente, emoção e ícone), que também são expressões criadas a partir da junção de outros caracteres do teclado – como “:D” ou “;)”. Já os emojis, como vimos, foram criados pelo japonês Shigetaka Kurita e são as expressões com figuras. Em japonês, emoji vem da junção de “e”, que significa imagem, e “moji”, que quer dizer desenho.
Emoticons para eliminar a ambiguidade
Pesquisas também apontam que os usuários de emoticons estão conscientes de como eles podem reduzir a ambiguidade do discurso virtual. Pessoalmente, uma série de outros recursos, como o tom de voz e gestos, ajudam a esclarecer conceitos emocionais e o emoticon seria “um substituto” desses recursos na comunicação on-line.
O artigo também mostra que há uma diferença no uso do emoticon a depender da plataforma: o seu uso é maior em redes sociais e menor que no e-mail.
As especificidades das informações virtuais
As pesquisadoras chamam a atenção para a necessidade de mais estudos sobre o uso dos emojis on-line. Elas atentam para o fato de que a internet não necessariamente é uma substituta da comunicação pessoal – no sentido de que, se utiliza outras ferramentas, tende a produzir outros resultados.
Com isso, os emoticons não seriam apenas substitutos das expressões faciais: eles podem estar levando a outras interpretações e análises.
Como exemplo, elas citam uma pesquisa feita no Facebook. O estudo indicou que o perfil é uma ferramenta mais certeira que o tête-à-tête para avaliar se alguém está aberto a novas experiências. Ou seja, uma rápida análise na timeline de alguém é mais efetiva que as primeiras impressões pessoais.
“Como a interação on-line é tão prevalente hoje, é importante obter uma maior compreensão dos fatores subjacentes relacionados a esta forma de interação”, escrevem as autoras. Elas estão interessadas em saber, por exemplo, se os emojis expressam de fato emoções ou se são usados com outra intencionalidade. Para isso, estudos poderiam medir quais áreas são ativadas no cérebro durante o uso dos emojis. Ou ainda, qual o tipo de relação interpessoal pretendida ;).
Leia o estudo:
Emojis: Insights, Affordances, and Possibilities for Psychological Science. Disponível em: http://www.cell.com/trends/cognitive-sciences/abstract/S1364-6613(16)30178-4
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