Uma das maneiras de desenvolver uma vacina é injetar um vírus inativado no corpo humano para estimular o organismo a desenvolver anticorpos. Quando há o contato com o agente ativo, assim, o sistema imunológico ataca o corpo estranho. Essa é uma estratégia que já salvou muitas vidas ao longo da história da humanidade, mas, às vezes, ela falha. No caso do HIV, por exemplo, algumas pessoas desenvolvem anticorpos; outras não, e isso tem sido um mistério para a ciência.
Um estudo publicado na Science Immunology, no entanto, começa a nos dar algumas pistas. Pesquisadores estudaram 100 soropositivos –metade deles com a capacidade de desenvolver anticorpos e o restante, sem a mesma capacidade. Após a análise, o estudo compilou estratégias que podem servir como um guia para novas tentativas de desenvolvimento da vacina e detalhou mecanismos interessantes:
Ao verificar a diferença entre os soropositivos que desenvolveram anticorpos e os que não desenvolveram, pesquisadores perceberam que o HIV consegue se “esconder” do sistema imunológico, assemelhando-se aos nossos próprios tecidos. Anthony Moody, principal autor do estudo, explica que o vírus fica camuflado de tal maneira que passa a ser protegido pelo corpo, enquanto o sistema de defesa é visto como uma ameaça.
“Isso é um conceito importante para a concepção de uma vacina que vem sendo tentada há mais de 30 anos”, diz Barton Haynes, diretor do Instituto de Vacina Humana de Duke, nos Estados Unidos, e um dos atores do estudo.
Como eles chegaram a essa resposta
Em trabalhos anteriores, Haynes e colegas estudaram uma pessoa que tinha HIV e uma forma de lúpus, que é uma doença autoimune (quando o sistema de defesa pensa que o corpo estranho a ser atacado é o próprio organismo). Eles perceberam que esse indivíduo, especificamente, conseguiu desenvolver anticorpos contra o HIV.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que as mesmas perturbações imunes que levaram a pessoa a desenvolver lúpus, de alguma forma, permitiram que o seu sistema de defesa combatesse o HIV.
Agora, estudando um grande número de pessoas infectadas pelo HIV, eles verificaram que indivíduos que conseguiram desenvolver anticorpos têm alterações imunológicas parecidas com pessoas portadores de doenças autoimunes.
Sim, mas e a vacina?
Os resultados do estudo sugerem que, para uma vacina ser eficaz, ela deve replicar de forma segura as perturbações imunológicas percebidas nesses indivíduos portadores de doenças autoimunes que foram capazes de produzir anticorpos.
O primeiro passo é compreender a biologia do problema, como foi feito pelos cientistas; agora, o próximo passo é imitar o “sistema imune” desses pacientes para que outras pessoas possam ser capazes de lutar contra o vírus.
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