Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) descobriram que o vírus da febre amarela responsável pelo atual surto da doença no Brasil sofreu algumas mutações genéticas. Para chegar a essa conclusão, a equipe submeteu amostras do vírus obtidas de macacos bugio encontrados mortos em fevereiro, no Espírito Santo, a um sequenciamento genético completo. A morte desses animais funciona como um alerta da ocorrência de casos selvagens da doença. Muito sensíveis ao vírus, são os primeiros a morrer.
Era sabido que o surto brasileiro é causado pelo subtipo genético conhecido como linhagem Sul Americana 1E, no Brasil desde 2008. Porém, o que ficou demonstrado agora é que há variações nas proteínas envolvidas na replicação viral. Além disso, as variações encontradas em genes do vírus não haviam sido detectadas anteriormente. A expectativa dos cientistas é que a descoberta ajude a entender melhor como se dá a expansão da doença e a traçar planos de prevenção mais eficientes. Os resultados foram publicados na revista científica “Memórias do Instituto Oswaldo Cruz”.
As descobertas da equipe da Fiocruz ajudarão a preencher lacunas de entendimento sobre a forma como o vírus se espalha. “O estudo dá ferramentas preciosas para fazer uma melhor vigilância sanitária e prever piores casos, além de saber que regiões do Brasil podem ser priorizadas na hora de uma vacinação”, disse a pesquisadora Myrna Bonaldo, uma das autoras do trabalho.
Os vírus naturalmente carregam a capacidade de se modificar geneticamente. Neste caso específico, porém, a baixa cobertura vacinal antes do surto no Espírito Santo e Rio de Janeiro pode ter contribuído para que isso ocorresse, segundo a pesquisadora Bonaldo.
Vacinas
O grupo de cientistas afirma que a vacina atual continua sendo eficaz, apesar das mutações no vírus. O imunizante protege contra diversas cepas do vírus, como as circulantes na África e em países sulamericanos. “A vacina vai proteger certamente. Um exemplo disso é que em qualquer lugar do mundo que você tem variantes da febre amarela, a vacina protege com a mesma eficácia. A princípio não muda nada”, disse a pesquisadora Myrna Bonaldo.
Novos estudos
A análise de outras amostras de vírus obtidas em diferentes locais do Brasil coletadas de humanos, macacos e mosquitos está em andamento. Os resultados devem ser divulgados nas próximas semanas e são essenciais para avaliar o impacto da descoberta na saúde pública. A equipe também irá comparar o vírus atual com amostras mais antigas para analisar sua agressividade. Outro braço do estudo será investigar as diferenças entre os vetores (mosquitos) selvagens e urbanos.
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