Ele escapou da escravidão pelo serviço de entrega rápida

O termo Box acabou incorporado ao nome de Henry Brown – Foto: Reprodução/Library of Congress
O termo Box acabou incorporado ao nome de Henry Brown – Foto: Reprodução/Library of Congress

Uma litografia do artista plástico Samuel W. Rowse circulou por todos os circuitos da campanha antiescravagista americana. Intitulada A Ressurreição de Henry Box Brown na Filadélfia, retrata o momento em que o escravo emerge de uma caixa de madeira entregue pela empresa Adams Express no escritório da Sociedade Antiescravagista da Pensilvânia.

A “encomenda” tinha sido despachada 27 horas antes em Richmond, na Virgínia, onde Henry Brown mourejava em uma fábrica de tabaco. Com aparência similar à de outras cargas, a caixa tinha 3 pés de comprimento por 2 de largura e 2,5 de profundidade, o que equivale a 0,91 centímetro por 0,61 de largura, com 0,76 centímetro de profundidade.

Era uma sexta-feira, 23 de março de 1849, quando o escravo se encolheu dentro da caixa e os dois homens que o ajudaram na empreitada pregaram a tampa. Não dava para ele se mexer. Três pequenos buracos na altura do rosto garantiriam a entrada do ar necessário para a sobrevivência. Havia ainda uma etiqueta: “Cuidado. Este lado para cima”.

O alerta não adiantou. Nas baldeações, a caixa era jogada de um lado para o outro, sem nenhum cuidado. Em um determinado momento, Henry ficou de cabeça para baixo. Não demorou a sentir os olhos inchando, como se fossem estourar. Ao mesmo tempo, as veias da têmpora pareceram prestes a ser distendidas pela pressão do sangue.

“Nessa posição, tentei levantar a mão para o meu rosto, mas não tinha como movê-la. Senti um suor frio vindo sobre mim, que parecia uma advertência de que a morte estava prestes a terminar com minhas misérias terrenas”, escreveu Henry em sua autobiografia. Nisso, dois homens, procurando um lugar para sentar, viraram a caixa para cima.

Henry, que incorporou o termo Box ao próprio nome, teve a ideia de se despachar para a liberdade depois que foi separado da mulher e dos três filhos, vendidos em um leilão para escravocratas da Carolina do Norte. Foi bem-sucedido na fuga, mas o plano de repetir a estratégia para libertar outros escravos não deu certo, pois a notícia vazou para os jornais.

Sem jamais reencontrar a família, Henry seguiu no ano seguinte para a Inglaterra. Nos Estados Unidos, tinha ficado famoso, mas continuava sendo um escravo fugido. E uma lei de agosto de 1850 deu aos caçadores de escravos a posse de todos que capturassem. Na Inglaterra, Henry atuou em campanhas antiescravagistas e se casou de novo. Só voltou aos Estados Unidos em 1875, dez anos depois que o país aboliu a escravatura.


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