Bate-papo com Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado de são paulo e Jochen Volz, curador e diretor artístico do Instituto Inhotim

ARTE!Brasileiros: Olafur Eliasson é um dos artistas mais importantes da cena mundial contemporânea. Que tipo de esforços foram necessários para trazer à São Paulo uma exposição desta escala e importância?

MARCELO ARAÚJO: Apresentar uma exposição com obras de um artista contemporâneo da importância de Olafur demanda sempre uma preparação muito antecipada que comporta, dentre outras ações, uma visita prévia do artista para conhecer o espaço no qual as obras serão criadas e depois todo um acompanhamento das equipes técnicas envolvidas, uma vez que o trabalho exige preparo e inclui a definição de inúmeras decisões técnicas. Isso significa, portanto, o trabalho de uma equipe multidisciplinar, envolvendo técnicos de diferentes áreas, e uma antecedência nos preparativos, que deve ser muito rigorosa para que todas as etapas sejam adequadamente cumpridas.

AB: Uma parceria como esta, entre a Videobrasil, o SESC e a Pinacoteca, sugere um novo modelo de organização institucional para trazer ao Brasil produções de ponta na arte contemporânea? De Rodin (1995) a Eliasson (2011), a estratégia de ação pública da Pinacoteca nestes 16 anos tem seguido uma linha contínua, ou sofreu alguma mudança importante?
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M. A.: Esta apresentação do Olafur é uma parceria entre a Pinacoteca, SESC e Videobrasil. É uma iniciativa muito interessante porque permite a apresentação das obras do artista em três espaços diferentes da cidade de São Paulo. Além disso, a parceria agiliza e torna mais fácil essa iniciativa, do que se feita apenas por uma instituição. De Rodin até hoje, a Pinacoteca vem consolidando uma presença na cidade com a apresentação de mostras temporárias, que focam desde produções históricas, como foi o caso do Rodin, até a produção contemporânea, como é o caso do Olafur – tudo sempre com muita qualidade e lembrando que uma característica da Pinacoteca é a articulação dessas exposições temporárias com a apresentação do acervo que, do ponto de vista da ação museológica, é uma questão muito importante.

ARTE!Brasileiros: Como foi possível trazer ao Brasil uma exposição tão grande, de um artista tão importante (e caro) da cena contemporânea internacional?
JOCHEN VOLZ: O convite que Solange Farkas (curadora geral do 17o Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil) e eu fizemos a Olafur Eliasson em junho de 2010 foi um convite especial e importante também para o artista. Desde o início pensamos numa mostra que se espalhasse por três instituições em São Paulo, em três bairros distintos, abarcando a cidade. Foi uma situação muito interessante para Olafur Eliasson, porque esta divisão em capítulos demandava um entendimento da mostra como um todo, e paralelamente de cada parte como uma mostra individual. Também foi necessário pensar sobre o que acontece entre os espaços, como inserir a experiência com a obra de Olafur ao longo do percurso pela cidade. Foi uma discussão e reflexão longa e muito produtiva. A colaboração entre o Videobrasil, o SESC e a Pinacoteca ajudou também para criar uma situação orçamentária sólida, o que ficaria bem mais complicado se cada instituição tivesse trabalhado por si só. E finalmente, para que o Olafur aceitasse um convite bem em cima da hora, ajudou também o fato de que nós nos conhecemos há quase 15 anos. Uma base de confiança é muito importante entre artista e curador para desenvolver uma mostra desta escala, num prazo relativamente curto, e em um contexto ainda pouco conhecido para o artista.

AB: Qual é o seu envolvimento com o trabalho de Olafur, e por que decidiu trazer uma exposição dele para São Paulo?
J. V.: Pessoalmente, acompanho de perto o trabalho de Olafur Eliasson desde 1997. Temos um diálogo desde então, e sempre me interessei bastante pelas questões que o trabalho de Eliasson levanta. Internacionalmente, são poucos os artistas que na década passada exploraram tão explicitamente o papel do espectador como coprodutor de uma obra de arte. E muito menos artistas conseguiram juntar tão eloquentemente ideias de fenomenologia a ideias de conscientização individual e coletiva, com uma consciência ética e política na sociedade. Embora vindo de um contexto e uma geografia opostos ao brasileiro, Eliasson toca em conceitos prevalentes na arte brasileira desde os anos 1960. Muito mais de que simplesmente curar mais uma mostra da obra de Eliasson, eu fiquei instigado por organizar uma exposição com ele no Brasil, quer dizer, levar a pesquisa dele para dentro de um contexto da cultura brasileira.

AB: Considerando sua experiência no Brasil (Bienal de São Paulo, Inhotim, SESC) e no exterior (Alemanha, Veneza), diria que a cena artística brasileira é de “primeiro mundo”?
J. V.: Esta categoria de primeiro e outros mundos não me interessa. Posso dizer que uma mostra de Olafur Eliasson como a de São Paulo, Seu corpo da obra, seria muito difícil realizar em qualquer outro lugar do mundo, neste ano de 2011. E a Bienal de Veneza de 2009, por exemplo, em que eu assinei a organização artística, contava com um orçamento e uma infraestrutura bem menores do que as últimas edições da Bienal de São Paulo. Mas não quero julgar por medidas econômicas exclusivamente, que claramente demonstram que não há como sustentar mais a classificação em mundos. O que interessa muito mais, acho, é pensar questões como a seguinte: de onde veio a força empreendedora – por parte de quem estruturou o Serviço Social do Comércio de São Paulo, e da visão artística de Lina Bo Bardi, entre 1977 e 1982 – para se conseguir criar um lugar tão utopicamente real como o SESC Pompéia?


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