Bienal de Arquitetura ocupa São Paulo para discutir urbanismo

A recém-inaugurada praça das artes, no Vale do Anhangabaú, projetada pelo escritório Brasil Arquitetura, será exibida ao lado de obras internacionais que transformaram regiões de grandes cidades

Depois de uma edição criticada por sua inexpressividade e por ter mais caráter de feira que de mostra em 2009, a Bienal de Arquitetura de São Paulo chega à sua 10a edição, buscando retomar sua relevância como principal evento para a discussão sobre arquitetura e urbanismo no Brasil. Para isso, o foco neste ano será na cidade, o que gera desdobramentos tanto em seu conteúdo quanto na própria forma. Pois, além de expor projetos de obras públicas e discutir o espaço urbano, a Bienal de 2013, marcada para outubro, estará espalhada por diferentes pontos de São Paulo, e não mais concentrada apenas no Pavilhão do Ibirapuera.

“Quisemos colocar a arquitetura na pauta da cidade como um todo. E chegamos à constatação de que se quisermos discutir a cidade, teremos de promover a experiência dentro dela. Seria inócuo colocar uma discussão só do ponto de vista teórico”, explica o curador Guilherme Wisnik. A bienal, com o tema Cidades: Modos de Fazer, Modos de Usar, ocupará o Centro Cultural São Paulo, o MASP, o Museu da Casa Brasileira e o Centro Maria Antônia, todos pontos ligados pelo metrô. Está sendo negociada ainda a utilização de espaço dentro da Estação Pedro II do Metrô. “Há um discurso muito contundente nessa direção: é uma bienal em rede, toda conectada pelo transporte público de massa da cidade. Pode-se visitar a mostra toda sem carro”, diz Wisnik.

A ideia de colocar a cidade em pauta e de utilizar diferentes sedes vem com a busca pelo diálogo com um público mais amplo – não só de arquitetos e especialistas –, e explicita também o tom mais politizado da edição. Para enriquecer o debate, estarão expostos no Centro Cultural São Paulo importantes trabalhos nacionais e estrangeiros que transformaram seus entornos urbanos e a vida da população, como o High Line Park de Nova York (criado em um antigo trilho de trem), o MetroCable (sistema de transporte nas favelas) e as bibliotecas públicas de Medellín e o recém-inaugurado edifício da Praça das Artes, no centro de São Paulo.

O Metrocable, tipo de teleférico que transformou o transporte público nas favelas de Medellín, estará exposto junto a obras de bibliotecas públicas da cidade. Medellín é um dos grandes exemplos mundiais de transformação urbana feita pela arquitetura de vanguarda

No MASP, arte e arquitetura brasileiras dos anos 1960 e 1970 estarão em exposição que relaciona as obras de nomes como Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Hélio Oiticica e Cildo Meireles. O Museu da Casa Brasileira, por sua vez, exibirá o legado de arquitetos considerados pela curadoria “inventivos e visionários”: os brasileiros Sérgio Bernardes e Eduardo Longo, autor da Casa Bola, e o grupo inglês Archigram. Por fim, o Centro Maria Antônia abrigará o Arquivo Brasília, de Michael Wesely e Lina Kim, com fotografias consagradas da construção de Brasília.

Segundo Wisnik, todos os formatos estabelecidos da bienal serão mudados, o que trabalha também para tirar seu ar de um “feirão de arquitetura”. Salas oficiais de governos e prefeituras, pavilhões de países e a chamada representação geral dos arquitetos (que reunia um grande apanhado de projetos enviados) serão extintos nesta edição e darão lugar à divisão temática. Com curadoria forte, orçamento maior e mais tempo de planejamento que das últimas edições, a 10a edição do evento dá boas pistas de que vem para reestabelecer a relevância da Bienal de Arquitetura, que comemora 40 anos de existência.


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