Cristal e concreto

Pinacoteca do MASP com os cavaletes. Foto: Divulgação
Pinacoteca do MASP com os cavaletes. Foto: Divulgação

O resgate da expografia original criada pela arquiteta Lina Bo Bardi para sede do MASP inaugurada em 1968, na avenida Paulista, faz parte de um processo maior de recuperação da dimensão crítica de seu projeto político.  Desde a entrada da nova direção, a instituição passa por um intenso processo de desconstrução metafórica e literal – derrubar as paredes falsas e descobrir as janelas foi, afinal, o primeiro ato simbólico de Adriano Pedrosa ao assumir a direção artística do museu. A intenção é revelar a arquitetura original, permitir a existência de espaços amplos livres de divisórias, que permitam ao público construir seu próprio percurso dentro do espaço da instituição. É nesse sentido que a prática de Lina se aproxima da chamada pedagogia da emancipação e liberdade, defendida por Paulo Freire, como destaca Olivia de Oliveira em seu texto “Os Antimuseus e Antiescolas de Lina Bo Bardi e Paulo Freire”, presente na publicação.  Para a autora, o que aproxima a obra do pedagogo e a da arquiteta, tornado-as tão singulares, é o fato de que a busca pela liberdade aparece em ambos em seu “modo de instauração histórica”, e não meramente como conceito aspiracional.
Capa do livro (320 págs, R$ 150), Editora Cobogó, organização: Adriano Pedrosa e Luiza Proença
O livro (320 págs, R$ 150), Editora Cobogó, organização: Adriano Pedrosa e Luiza Proença

O projeto, realizado pelo MASP em parceria com o Metro Arquitetos, acaba de receber o Prêmio APCA 2015, na categoria “Patrimônio cultural”, modalidade “Arquitetura e Urbanismo”. Parte essencial da recuperação da instituição, os cavaletes representam, por sua vez, um microcosmo do conceito arquitetônico e político do museu, expandindo-a para a expografia. Importante é, afinal, não somente o que se vê, mas a forma como e o lugar de onde se vê. Permitindo instalações e configurações espaciais distintas, os cavaletes abrem a possibilidade de construção de novos diálogos e narrativas, fazendo com que o público atribua à exposição diferentes sentidos e significados daqueles sugeridos pelo partido curatorial. Gabriela Campagnol e Stephen Mark Caffrey sugerem em seu artigo no livro a comparação com o conceito de rizoma de Deleuze e Guattari. Da mesma forma que “o rizoma conecta qualquer ponto a qualquer outro ponto”, os cavaletes de cristal permitem também essa mesma conectividade e multiplicidade de visões, histórias e sentidos no interior de uma mesma exposição.

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