Colecionar fotografias em álbuns faz parte da própria história da mídia desde o século XIX. Hoje, dois séculos depois, quando a imagem invade a internet e as galerias constroem sites e blogs, os fotolivros ressurgem como uma maneira de organizar, guardar e exibir o pensamento fotográfico. Assim, desde 2014 o Instituto Moreira Salles vem organizando suas coleções em caixas com cinco livros que contemplam ensaios e não retrospectivas dos fotógrafos que estão em seu acervo. Organizada por Sergio Burgi e Samuel Titan, a primeirca caixa, “A Forma da Luz”, privilegiou trabalhos do argentino Horácio Coppola sobre as obras de Aleijadinho realizadas em Minas Gerais em 1945; de Marcel Gautherot, mostra as fotos feitas no litoral cearense na década de 1950; de Maureen Bisilliat, o belíssimo ensaio Terra Preta realizado no início dos anos 1960; de Thomaz Farkas seu divertido ensaio realizado no estádio do Pacaembu entre os anos de 1942 e 1946; e por fim a série fotográfica de David Drew Zingg sobre o Brasil nos anos de 1960 e 1970.
Lançada no final do ano passado, a segunda caixa nos apresenta novos olhares sob o título genérico de “A Hora e o Lugar”. Os organizadores apresentam mais cinco livros-ensaios realizados entre 1919 e 1974. Desta maneira, podemos acompanhar o fotógrafo amador Guilherme Santos, que entre 1919 e 1932 fez da avenida Central, no Rio de Janeiro, sua passarela, registrando desde os desfiles de Carnaval, os famosos corsos, onde os foliões desfilavam em carros abertos, até as manifestações políticas dos anos 1930. Já em São Paulo, no final da década de 1940, a alemã Alice Brill fazia da câmera fotográfica sua maneira de conhecer a cidade para a qual acabara de se mudar. E o fazia com seu olhar modernista, inspirado nas vanguardas europeias. O fotojornalismo também tem vez através de Luciano Carneiro, fotógrafo da revista O Cruzeiro, que cobriu a Guerra da Coreia em 1951. De Saigon, o fotógrafo Otto Stupakoff nos mostra como viu a cidade em 1967. Mais conhecido por seu primoroso trabalho como fotógrafo de moda, ao fotografar pelas ruas de Saigon não deixa de lado seu olhar de esteta e fotografa como se a cidade fosse um grande desfile. Jorge Bodanzky, famoso por seus filmes, iniciou, na verdade, sua carreira como fotógrafo e este seu ensaio nos apresenta sua visita ao Brasil entre 1964 e 1974. A fotografia não foi inventada para ficar presa em arquivos fechados ou nas paredes de um museu. A organização destes fotolivros (como de todos os outros) busca devolver para a fotografia sua ontologia, circular entre as pessoas e nos apresentar versões diversas de um mesmo tema.
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