Um dia uma emissora de televisão me perguntou o que era preciso para fazer uma bienal e eu respondi: “Um louco e um burocrata”. E para fazer uma revista de arte? Alguns loucos, mas todos da mesma enfermaria.
Há dois anos, fui convidada para editar ARTE!Brasileiros e cheguei com entusiasmo juvenil, mesmo sabendo das dificuldades para se fazer uma revista do gênero no Brasil. Dois anos se passaram e agora estamos comemorando os 24 meses dessa “loucura” divertida, tensa e desafiadora. Entramos no mercado editorial quando o Brasil surfava na crista da onda da economia mundial, e alguns países quase se afundavam.
Chegamos sem estardalhaços, mas firmes quanto ao que não queríamos fazer. Depois de alguns meses falando a mesma língua, decidimos nos tornar poliglotas e editar a revista em português, inglês e espanhol. A partir deste momento, haja fôlego para as viagens rápidas por feiras e bienais internacionais. Lançamos ARTE!Brasileiros em Miami, Paris, Basileia, Londres e em vários seminários internacionais.
Nossas edições tanto contemplam notícias factuais como também resgatam textos antigos, que se beneficiam com o passar dos anos, como é o caso de Crônica da Morte Anunciada, de Lucilla Saccà, da Universidade de Milão. Sua análise é cortante sobre a vida e obra da controvertida artista Ana Mendieta, arrancada de Cuba ainda menina e levada para os Estados Unidos pela Operação Peter Pan, arquitetada para “salvar as criancinhas” das garras do comunista Fidel Castro. Ainda no segmento Arte e Política, o criativo e cabeça-dura Ai Weiwei é lembrado por sua ousadia contra as regras do regime chinês.
A Bienal de São Paulo comemora seus 60 anos e quem assopra as velinhas são artistas norte-americanos, com obras do museu norueguês Astrup Fearnley. Nomes de sucesso no mercado compõem a exposição que a Fundação escolheu para sua festa, sem colocar foco sobre sua história. Faltou reflexão, debate e, por que não, marketing. Afinal, os artistas brasileiros estão na moda internacionalmente.
Com trajetória rara dentro das artes deste País, Nelson Leirner completa 50 anos de estrada, com uma produção marota, cheia de humor, crítica e inventiva. Ele é o nosso artista convidado para dividir o bolo. Criou uma capa especial para este número, que ficou com a cara dele. Parabéns Nelson, nosso colega de enfermaria!
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