Edição épica – versão especial da Odisseia, de Homero

Capa de "Odisseia", de Homero, edição especial da Cosac Naify
Capa de “Odisseia”, de Homero, edição especial da Cosac Naify

Lançado em outubro do ano passado pela Cosac Naify, a edição especial da Odisseia, de Homero, com ilustrações do artista plástico Odires Mlászho, esgotou já em janeiro deste ano sua tiragem inicial, que teve dois mil exemplares. A segunda edição chega às livrarias em abril, com o dobro do número de cópias e promete repetir o sucesso desse projeto editorial que começou entre 2005 e 2006. Na época, Augusto Massi, o então diretor-presidente da casa, ofereceu a missão de uma nova tradução ao professor e pesquisador Christian Werner, cuja tese de doutorado teve como tema a representação do herói grego Odisseu nos poemas épicos de Homero. Werner, que concluiu uma primeira versão em cerca de quatro anos, lembra que algumas traduções publicadas até 2005 “afastavam parcela dos leitores”, entre outros motivos porque “optaram por uma dicção poética bastante sofisticada, mas que, em boa medida, utiliza recursos lexicais e sintáticos penosos para um leitor contemporâneo”.

Em dezembro de 2013, Florencia Ferrari, diretora-editorial da Cosac Naify, retomou a empreitada, levada em frente também pela designer Gabriela Castro. “(O livro) começou a tomar forma no que chamamos reunião de conceito, em que as equipes editorial e de design discutem os projetos e decidem o caminho do livro em termos de público e preço de capa”, conta Gabriela, lembrando que o título seguiria o formato de outros da casa, que misturam arte e literatura, como Primeiro Amor, de Samuel Beckett, com criações de Célia Euvaldo; Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, com trabalhos de Luiz Zerbini; e Decameron, de Giovanni Boccaccio, com ilustrações de Alex Cerveny.

Determinado o formato, chegou o momento de escolher quem faria as pranchas que ilustram o volume. Não foi difícil chegar até o nome de Mlászho. “Sua obra tem forte relação com o universo dos livros, com a ideia de acumulação cultural que eles representam, trabalhando sempre com colagens, múltiplas camadas, adensamentos, características que teriam um diálogo interessante com o texto de Odisseia, que atravessou toda a história do Ocidente sendo traduzido e editado inúmeras vezes”, afirma Gabriela.

O processo e a técnica que seriam utilizados foram discutidos semanalmente, durante quatro meses, por Mlászho e pela equipe da Cosac Naify. Juntas, Gabriela e a diretora de arte Elaine Ramos definiram aspectos do projeto gráfico, como fonte, cor, as passagens onde seriam incluídas as colagens, cada uma referente a um canto. O artista produziu 33 imagens, das quais 30 foram usadas no título, que tem ainda uma apresentação do homerista americano Richard Martin, posfácio do escritor e professor de filosofia Luiz Alfredo Garcia-Roza, um texto de Franz Kafka e um poema de Konstantinos Kaváfis. Esses quatro também estão presentes na edição convencional, que traz as pranchas apenas na capa e nas guardas.

Para Mlászho, o convite foi um desafio aceito com facilidade: “Havia um preparo anterior, não sei de que ordem, mas lá estava. Talvez pelo fato de ser uma obra já bem conhecida para mim e isso, sem dúvida, trabalhou bastante a favor. E o interessante quanto a isso é que eu já tinha arquivada uma boa quantidade de imagens a respeito, de esculturas gregas e afins”, conta ele, que revela seu interesse de fazer ensaios semelhantes com Ilíada, também de Homero, e A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Mlászho diz ainda que o livro foi também uma oportunidade para aprofundar seu interesse por colagem, tipo de trabalho em que ele já acumula um grande repertório. O artista não aponta quais teriam sido as mais trabalhosas, apenas cita suas imagens favoritas: as figuras de números 19 e 20. “O nível de complexidade não é uniforme e, pontualmente, eu não teria como descrever o que provoca essas diferenças no nível de execução”, diz. “Pertence, quem sabe, ao mistério padrão que, no final do percurso e apesar dessas diferenças mínimas, gera um senso de conjunto que equilibra espontaneamente o discurso”.


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