A arte de fazer livros

Foto: Divulgação
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Desde 2013
, ano no qual surgiu oficialmente, a Editora Olhavê já lançou oito livros e teve quatro deles (de Montserrat Baches, Elaine Pessoa, Ligia Jardim e Katia Kuwabara) indicados para o prêmio de melhor livro de fotografia no PhotoEspaña. Também apresentou publicações durante festivais no Uruguai, Argentina, Chile, Portugual e Guatemala. Quatro livros, dos fotógrafos Beto Figueroa, André Conti, Leslie Markus e Jane Paris, além de um livro de pesquisa de Georgia Quintas, serão lançados em breve e mais cinco estão em fase de edição.

Capitaneada pelo fotógrafo e jornalista Alexandre Belém e por sua esposa, Georgia Quintas, antropóloga e pesquisadora de imagem, a Olhavê vem se firmando com  característica bem definida no trabalho com os autores: acompanhamento e desenvolvimento do projeto, tanto o fotográfico como o da pesquisa nos arquivos dos autores. “Gostamos de acompanhar desde a escolha das imagens até a edição, o texto e o processo na gráfica”, conta Belém. “Alguns livros nasceram nos nossos grupos de estudos, em que tivemos a possibilidade de acompanhar também o nascimento do ensaio fotográfico.”

Olhavê surgiu como um blog ainda no Recife, em 2007, de onde Belém e Georgia são originários. Um blog de reflexão e pensamento como vários que surgiram na época. Ali o casal começou a demarcar sua forma de pensar e entender fotografia. No ano seguinte, Belém quis presentear Georgia com a publicação de sua pesquisa Man Ray e a Imagem da Mulher: “Tudo feito com recurso próprio. Foi minha primeira experiência como editor”. Quatro anos depois, em 2012, com o blog consolidado, já reconhecidos, eles resolveram dar perenidade à série de entrevistas que haviam feito com diversos fotógrafos e pequisadores. Aí nasceu o livro Olhavê Entrevista.

Foi o que bastou para que o germe do editor aflorasse e eles, num passo mais ousado, decidissem montar a editora: “Neste momento lançamos dois livros: um sobre a mostra do fotógrafo Ricardo Labá, Abismo da Carne, e outro com textos e reflexões da Georgia, Inquietações Fotográficas – Narrativas Poéticas e Crítica Visual (ambos contemplados com o prêmio Marc Ferrez). No início, o apoio e a parceria com a editora Tempo d’Imagem, de Tiago e Isabel Santana, foram fundamentais. Não tinha  volta. A paixão pelo papel, pela permanência do livro, e o acompanhamento e desenvolvimento de trabalhos de novos fotógrafos ficariam cada vez mais fortes: “Fazer livros é ter boa companhia, trabalhos sérios e uma rede profissional regada por confiança, gentilezas, respeito e consciência de que exercer a sua formação é sobretudo um exercício de escolhas e afinidades”, diz Georgia.

Também estão no catálogo da editora o livro Ninguém é de Ninguém (2015), de Rogério Reis, e 1978 (2016), de Gabriela Oliveira. “É um trabalho de se aproximar das imagens do artista e seguir refletindo o seu discurso, suas buscas e experimentações. A isso o termo processo de criação se coloca indiscutivelmente”, diz Georgia.

Assim, livros bem cuidados, em que a estética está ligada à feitura e ao cuidado com o qual o livro é formatado, vêm trazendo um entendimento sobre o fazer contemporâneo. Mas o cuidado não fica só na escolha dos fotógrafos e no tempo de trabalho para cada livro – que já chegou a dois anos –, mas também no refinamento dos textos de Georgia e da reflexão feita para cada ensaio: “Os autores trazem desafios poéticos e o exercício ad infinitum da edição. Acompanhar projetos é como um lugar repleto de diálogo e discussão. Um lugar de compreensão”, diz Georgia.

Há muito sabemos que o fotolivro tem ocupado lugar de destaque quando se fala de fotografia. Diversas editoras têm surgido ultimamente com a proposta de se dedicar somente à fotografia. O livro, nesta época de incertezas, dá uma certa permanência: “Nos doamos e sentimos um prazer enorme no processo de edição. Colocamos o nosso profissionalismo em tudo isso, com muita amorosidade e delicadeza, rigor e comprometimento. São livros que acarinhamos. Mergulhamos”, conclui ela.


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