Galerias brasileiras terão filiais no exterior e intensificam internacionalização da arte do País

Nova filial da galeria paulistana Nara Roesler, na ilha de Manhattan, em Nova York. Crédito: Divulgação
Nova filial da galeria paulistana Nara Roesler, na ilha de Manhattan, em Nova York. Crédito: Divulgação

No fim de 2015, a divulgação de um aumento expressivo no volume de exportações de arte contemporânea brasileira – quase 100% em relação à 2014 – surpreendeu o mercado de arte nacional. A abertura de uma filial da galeria paulistana Nara Roesler em Nova York foi outro fato que veio para evidenciar a crescente internacionalização da arte brasileira. Neste caso, no entanto, era um caso isolado, apenas a primeira casa brasileira com espaço também no exterior. Passados pouco mais de seis meses, no momento em que Mendes Wood DM, Emma Thomas e Galeria Marcelo Guarnieri anunciam aberturas de filiais em outros países, o quadro começa a mudar, e a força da arte brasileira no exterior parece se tornar ainda mais evidente.

A iniciativa das galerias foi, desde o caso da Nara Roesler, associado por muitos (especialmente da grande mídia) ao momento de crise econômica pelo qual passa o Brasil. Seria uma tentativa das casas de compensar uma queda de vendas no mercado interno. Uma análise mais cuidadosa, no entanto, mostra um quadro mais complexo, parte de um processo histórico de internacionalização da arte brasileira e amadurecimento de seu mercado. É o que afirma Monica Novaes Esmanhotto, consultora do Latitude – Platform for Brazilian Art Galleries Abroad: “Fazer um investimento desses, de abrir filial fora, é algo pensado a longo prazo, não de uma hora para a outra. Talvez a questão de o mercado nacional ter oscilado tenha acelerado algumas decisões, mas acho que essas ideias já estavam latentes a mais tempo”. “É uma continuidade importante de um trabalho, uma maneira de estar perto dos museus e colecionadores internacionais, de abrir um canal mais forte para os artistas representados… Essa percepção, ela é mais antiga do que a crise”, conclui.

Galeria Marcelo Guarnieri, em São Paulo, que deve abrir filial em Portugal. Foto: Divulgação
Galeria Marcelo Guarnieri, em São Paulo, que deve abrir filial em Portugal. Foto: Divulgação

Os galeristas ouvidos pela ARTE!Brasileiros seguem a mesma linha. Marcelo Guarnieri, por exemplo, que já tem sua galeria com espaços em São Paulo, Rio e Ribeirão Preto, deve abrir filial em Portugal até 2018. Ele diz que “embora a crise tenha também nos atingido, não estamos trabalhando com esse projeto no sentido de busca imediata de retorno ou compensação financeira. Na realidade é um investimento buscando cada vez mais dar visibilidade aos nossos artistas e construir um mercado fora do Brasil”. Em conversa no início do ano, Daniel Roesler também falou sobre a abertura da filial da Nara Roesler em Nova York: “Não foi pensado com o propósito de compensar alguma retração do mercado interno, mas certamente vamos dar mais atenção a isso na situação atual. Somos basicamente uma galeria com presença nacional, mais forte em São Paulo, mas participando das feiras americanas ficou claro que precisávamos estar lá não só algumas semanas por ano”.

O caso da Mendes Wood DM, que abre sede este ano em Nova York, no Upper East Side, e no próximo ano em Bruxelas, é outro que também não pode ser associado diretamente à crise, já que a galeria, desde o início, teve foco especial no mercado externo – cerca de 70% de suas vendas já são, atualmente, feitas para o exterior. As filiais, segundo representante da galeria, devem ajudar em questões de logística, mas também na pesquisa para descobrir novos artistas nos países europeus e nos EUA. A Emma Thomas, por sua vez, prepara ainda para este mês uma experiência diferente, com a abertura de filial temporária, também em Nova York, que após seis meses de teste mostrará se a casa vai manter ou não uma sede permanente na cidade.

Assim como as aberturas das filiais, o aumento no volume nas exportações de arte brasileira está associado a um crescente interesse internacional pela produção do País. O número de mostras, cada vez maior, de nomes contemporâneos nacionais em grandes instituições estrangeiras – de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mira Schendel a Cildo Meireles, Ernesto Neto e Fernanda Gomes, ou ainda artistas mais jovens, como Maria Nepomuceno, Henrique Oliveira e Tiago Carneiro da Cunha – pode ser um termômetro deste interesse. “A qualidade do conteúdo de arte contemporânea que existe no Brasil é tão grande e tão forte que o mundo segue interessado, com crise ou sem crise”, disse Felipe Dmab, da Mendes Wood DM, em entrevista a ARTE!Brasileiros no início do ano. Sobre a internacionalização, Esmanhotto diz: “Há dez anos você tinha algumas poucas grandes galerias brasileiras indo para os grandes mercados, mas fazendo as pequenas feiras. Depois, passados uns anos, você tinha as grandes galerias já nas grandes feiras. E hoje você tem mais galerias fazendo as grandes e também outras feiras. Estamos só ampliando”. No mesmo sentido, ela conclui: “Algum tempo atrás falávamos das galerias que estavam abrindo segundos espaços no Brasil como um movimento inédito. E agora estão abrindo no exterior. Então é uma historinha, faz sentido, há capítulos bem definidos. Não é aleatório e por isso que eu não acho que é por causa da crise. Esse era um próximo passo natural”.  


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