Sob o peso de seus amores, ou na falta deles, Leonilson criou uma obra delicada, que desafia a escala e a brutalidade dos espaços com fios, tecidos diminutos, desenhos um tanto sôfregos, a radiografia tumultuada do coração. Juntos na maior exposição já feita de seus trabalhos, seus bordados, desenhos e outras obras ganham a dimensão exata dessa dor, agora no Itaú Cultural, em São Paulo, e logo mais, em setembro deste ano, na Bienal de Istambul, em que será revisto à luz da herança de Félix González-Torres.
Em um de seus bordados que está na mostra paulistana, Leonilson se define um homem vazio, feito de sangue e sal. Em outro bordado, articula quadrados de cor que denomina de cheios e vazios, como se costurasse uma estrutura cromática para ilustrar o estado de espírito volúvel de um homem que fez de suas obras um diário íntimo da solidão e da luta contra a Aids – doença que acabou tirando sua vida aos 36 anos de idade.
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“Eu não me preocupo com a forma, não me preocupo com a cor, não me preocupo com o lugar”, disse Leonilson numa entrevista. “Quando vou fazer um trabalho, estou diante do material e me preocupo com as partes que se juntam, dois tons de feltro, ou uma camisa rasgada.”
É como se nas suturas do bordado, nos desvios dos traços, Leonilson obedecesse à cartografia secreta de desejos insaciados. Ele se revela um homem fracionado, diante de rasgos e elementos díspares que nem sempre se compõem na harmonia desejada. Talvez por isso também, hesitou em dar um retrato completo de si, uma descrição capaz de abarcar o homem que era e a frequência trêmula que habitava.
Seu coração, como diz mostrar num dos trabalhos, são pingentes de cristal sobre um manto de feltro – o tecido imortalizado por Joseph Beuys como espécie de matéria da salvação. Também mostra um farol na neblina numa pintura e uma confluência de rios para um delta vermelho noutro quadro, como se tentasse se encontrar em cada espaço mais ou menos fluido.
“Se você quiser uma descrição de mim, eu acho que sou um curioso, sou ambíguo”, disse Leonilson. “Eu nunca me conformei com um lado único das coisas. Sabe esses andarilhos vagabundos na estrada? Que correm o mundo? Sou mais um curioso que artista.”
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – Estação Brigadeiro do Metrô
De 16 de março a 29 de maio
De terça a sexta, das 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
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