Membro do Collection’s Council do Museu Guggenheim de Nova York e presidente do conselho do MAR – Museu de Arte do Rio, Marcio Fainziliber participou do TALKS – Arte como Valor ao lado do casal de colecionadores Mera e Don Rubell, e do jornalista e consultor Simon Watson. Em entrevista à ARTE!Brasileiros, Fainziliber retoma o tema do painel, falando da importância de uma obra sob a perspectiva dos diferentes personagens do mundo das artes.
ARTE!Brasileiros — Em sua participação no TALKS, o senhor abordou o tema Arte como Valor tendo em vista os diferentes personagens da cena artística…
Marcio Fainziliber – Eu entendi que não se queria discutir o valor econômico ou financeiro de uma obra. Se assim fosse, colecionadores, curadores e pessoas ligadas a museus seriam pouco qualificados, já que são movidos por paixão acima de tudo, por amor à arte. A maioria absoluta das grandes coleções, por exemplo, não começou com troféus. Elas começaram, sim, com paixão, com uma boa escolha, muita sensibilidade e depois algumas obras viraram troféus, transformaram-se em algo com valor financeiro.
O que, então, é valor para um colecionador?
Um colecionador compra uma obra quando ela toca sua sensibilidade, surpreende-o, provoca-o. Em geral, vem de um artista de quem ele já tem informação e que cuja carreira é consistente. A obra, em princípio, deve ser representativa do conjunto da produção do artista, deve também fazer sentido dentro da coleção e, finalmente, ter um preço adequado. Sendo assim, eu sintetizaria como valor para o colecionador o prazer e a emoção que a obra passa.
E para os demais?
A pessoa que compra para decorar a casa adquire, em geral, trabalhos de mais fácil comunicação e entendimento, esteticamente mais atrativos, de artistas que ela conhece ou ouviu falar, que vem de galeria conhecida por ela ou, finalmente, que a pessoa viu em um museu ou sobre quem leu em um jornal. Valor para essa pessoa é, então, ter um apartamento bonito e poder mostrá-lo para seus amigos. Já os que procuram ascensão social, compram obras mais caras, alguns troféus, normalmente de galerias ou casas de leilões de renome, de artistas também de renome. Valor para eles é serem reconhecidos, serem aceitos em nichos da sociedade onde teriam mais dificuldade de penetrar. Por fim, os que buscam investimento são um fenômeno mais recente. Fala-se muito hoje da compra no mercado primário para fazer flipping no mercado secundário. Essas pessoas procuram ganhos a curto e médio prazos. Mas é importante lembrar que elas correm riscos, pois arte não necessariamente tem liquidez. Elas têm menos amor à arte e interessa a elas utilizar todos os meios possíveis para valorizar seus bens. Para elas, então, importante é o valor financeiro da obra de arte a cada dia no mercado.
E quanto a curadores e artistas?
Ao artista importa ter suas obras em bons museus, em boas coleções, ser representado por galerias respeitadas, ter boas exposições e, consequentemente, ter maior chance de ser reconhecido no meio. Logo, valor para ele é estar bem colocado e ser reconhecido. Curadores estão preocupados com a obra física e a estética. E também com tudo que está por trás da obra: trajetória, movimento, representatividade, importância específica e histórica, pensamento do artista, comunicação de uma ideia, etc. Mas estão ainda igualmente preocupados com o tempo: como a obra reflete, sintetiza e dá uma antevisão das questões e dos temas importantes de nosso tempo. Valor, para os curadores, é a obra física, mais tudo que está por trás dela e de sua criação, bem como sua relação com o tempo.
E os museus?
Uma das primeiras lições que aprendi ao me juntar ao Guggenheim foi como o museu avalia a importância de uma obra de seu acervo. Ao museu importa, além de tudo o que eu disse antes, quantas vezes ele teve oportunidade de expor a obra. Mas o museu dá igualmente valor a quantas vezes emprestou a obra para outros museus e para quais instituições, quantas vezes ela foi citada e quem a citou, quantas vezes foi estudada, etc. Isso mostra que o museu tem uma função eminentemente social, que não coleciona somente para si próprio. Quando ele faz uma aquisição de uma nova obra é importante, acima de tudo, preencher lacunas na coleção, fechar núcleos, épocas, movimentos. Em resumo, para um museu a importância é o valor social da obra e como uma determinada obra engrandece a coleção.
E como se definem os preços no mercado de arte?
Teoricamente, deveria ser função da oferta e da demanda. Acontece que o mercado de arte é pouco transparente, os preços não são públicos, é pouco arbitrado. O talento do artista e a qualidade da obra ainda são fundamentais, mas várias outras circunstâncias têm muita importância hoje em dia. Vou citar apenas algumas delas. Por exemplo, se o galerista é respeitado ou conhecido. Se algum museu expôs a obra do artista e qual museu. Se um curador respeitado escreveu ou acompanha de perto o trabalho do artista. Se um importante colecionador tem obras em sua coleção. Quais preços as obras do artista alcançaram em leilões. Se um dealer promove o artista. Se o artista tem talento natural para falar e se relacionar. E, por fim, se a galeria faz um bom marketing institucional.
Leia mais:
ARTE!Brasileiros apresenta TALKS – Arte como Valor
Deixe um comentário