Poética e criação

Boris Kossoy se destaca como teórico e historiador da fotografia no Brasil, mas sua produção como fotógrafo e como criador é pouco divulgada, apesar de, nos últimos anos, ser cada vez mais admirada e reconhecida, inclusive no âmbito internacional. Boris Kossoy: fotógrafo vem preencher essa lacuna.

A edição volta-se para sua produção fotográfica realizada ao longo de quatro décadas. Dá ênfase a sua poética e discute seu processo criativo, assim como a sua trajetória de intelectual e artista. Conta ainda com uma apresentação de Jorge Coli, duas entrevistas extensas do autor com Augusto Massi, Julia Bussius e Paulo César Boni.
[nggallery id=15131]

A publicação é decorrência de um cuidadoso trabalho editorial da Cosac Naify, e também faz parte de um amplo projeto de difusão da fotografia brasileira desenvolvido com acuidade pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.

No prefácio, Boris chama a atenção para a importância do seu olhar como fotógrafo e para o desempenho de sua atividade teórica. Cultas e refinadas, suas imagens são densas e inquietantes.

O livro exibe diversas vertentes temáticas, algumas com caráter de crítica social, documental; outras de caráter ficcional e, até mesmo, de preocupação estético-formal. Contudo, percebemos que Kossoy segue um percurso contínuo, voltado para a construção de uma poética pessoal, muitas vezes onírica, e que transita sem fronteiras entre o real e o imaginário. O mundo exterior projeta outras esferas do real, evoca sensações vividas, desejadas, coloca-nos perante o desconhecido, causando-nos apreensão.

Em suas imagens, principalmente naquelas executadas na década de 1970, percebemos certos elementos visuais, inclusive personagens, que ao interagirem na cena desestruturam toda a lógica do entorno, isto é, desconstroem o significado da imagem. Em todos os períodos de sua produção fotográfica, há sempre algo que provoca estranheza, que desorganiza nossa leitura e que nos desconcerta, portanto. Às vezes de modo tão sutil que não identificamos o agente provocador do nosso desassossego.

Jorge Coli, na apresentação do livro, comenta os aspectos perturbadores da obra de Boris Kossoy: “Suas fotografias, tenham elas intenções realistas ou fantásticas, superpõem ao universo visível uma camada de sugestões misteriosas. Seja numa brusca exclamação visual, seja num envolvimento que progride vagaroso, mas certeiro, desencadeiam em nós o inesperado, o indefinível e o estranho. Expõem-nos aos enigmas do mundo. Exploram estranhas regiões da percepção”.


Boris Kossoy: fotógrafo – Coedição: Editora Cosac Naify/Pinacoteca do Estado de São Paulo/Imprensa Oficial, 216 páginas e 134 imagens



Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.