Quem é o objeto?

Crystal de cinema I, 1991, Ponta de Quartzo, bancos de madeira, estúdio da Marina, Berlim. Foto: Cortesia do acervo Marina Abramovic
Crystal de cinema I, 1991, Ponta de Quartzo, bancos de madeira, estúdio da Marina, Berlim. Foto: Cortesia do acervo Marina Abramovic

Marina Abramović fala de si mesma como a “avó da performance”. Pudera. Ainda que o mundo tenha assistido às primeiras manifestações do gênero nos movimentos de vanguarda do início do século XX, como o Dadaísmo e o Futurismo, a artista nascida há 69 anos, em Belgrado, na Sérvia, e hoje radicada em Nova York, tornou-se sinônimo da live art, à qual trouxe popularidade e uma aura pop, com apresentações em feiras do porte da Art Basel, sem demérito de sua relevância artística. Iniciada nos anos 1970, sua carreira ganha agora a maior retrospectiva já feita em solo sul-americano, no SESC Pompeia, em São Paulo. Batizado de Terra Comunal – Marina Abramović + MAI, o projeto engloba também a maior experiência performática com o Método Abramović já  realizada pelo instituto que leva seu nome, o MAI.

Por meio de oito exercícios, com duas horas de duração, o público entra em contato direto com a intensa exploração dos limites do corpo e da mente da performer, atividades interativas que não raro levam os participantes às lágrimas. Para tanto, a artista criou uma série intitulada Objetos Transitórios (cadeiras, camas, etc.), com os quais visitantes pré-inscritos vão interagir. A performance envolve ainda ações como caminhar, como se estivesse em câmera lenta, e controlar respiração e pensamentos. Completam a programação do MAI oito encontros com Abramović e oito apresentações de artistas brasileiros selecionados pelo instituto.

O Método Abramović, ressalte-se, coloca uma questão: quem é objeto e quem é sujeito nas performances da artista? A relação é abordada por Tania Rivera, doutora em psicologia pela Université Catholique de Louvain, da Bélgica, em seu livro O Avesso do Imaginário. Segundo Tania, convidado a participar, o espectador cai em uma espécie de armadilha. “A oferta de si como objeto proposta pela artista pode engatar no outro o pendor para dela se servir sem o respeito devido a seu semelhante ou até mesmo com crueldade”, diz Tania que, em seguida, cita Lacan, a propósito da psicanálise em si, para abordar a dualidade sujeito/objeto do Método: “Trata-se de um ato cujo trajeto de alguma maneira tem de ser cumprido pelo outro”.

Por fim, diz a psicanalista: “O sujeito é efeito de um ato que se dá numa trajetória, num circuito que necessita do outro, o convoca e só com ele se completa”.

Com curadoria de Jochen Volz, ex-diretor artístico do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, e curador da Bienal de São Paulo de 2016, a parte retrospectiva da exposição é composta de três instalações de imersão, desenvolvidas a partir de apresentações célebres de Abramović na última década. Entre elas estão The Artist is Present, realizada em 2010 no MoMA, em Nova York, e 512 Hours, que aconteceu no ano passado na Serpentine, galeria londrina da qual Volz é curador-chefe. A mostra abriga ainda dez vídeos de performances históricas, como Rhythm 5 e Freeing the Body, ambas da década de 1970, e uma série de 14 filmes produzidos pela artista entre 1975 e o início dos anos 2000.

Terra Comunal – Marina Abramović + MAI 

Até 10 de maio
SESC Pompeia
Rua Clélia, 93 – São Paulo – SP
11 3871-7700 – www.sescsp.org.br/terracomunal


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