Sem precisar os números, Bienal do Mercosul anuncia corte de obras de sua 10ª edição

A apenas nove dias da abertura de sua esperada 10ª edição, anunciada em julho como uma “exposição de grande envergadura” com o objetivo de “promover a visibilidade, a legibilidade e a recepção da produção artística” da América Latina, a Bienal do Mercosul divulgou comunicado nesta quarta-feira (14), em que afirma ter de “abrir mão de determinadas obras inicialmente planejadas”, devido à “vertiginosa alta do dólar nos últimos meses e dos altos custos de transporte logístico e de impostos decorrentes de importação”. Sem mencionar o número de cortes, a organização da mostra informa que foram mantidas as sete exposições previstas, com “cerca de 650 obras”, de artistas de 20 países: Brasil, Chile, Paraguai, Cuba, México, Uruguai, Argentina, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Equador, Guatemala, Peru, Costa Rica, Panamá, Nicarágua, El Salvador, Porto Rico, Jamaica e Honduras.

Diz ainda o comunicado, citando José Antonio Fernandes Martins, Presidente da Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul: “Optamos por realizar ajustes no projeto e viabilizar sua execução porque temos convicção de que garantir a 10ª edição da Bienal em um contexto de recessão econômica, quando tantos eventos estão sendo cancelados no Estado e no país, demonstra todo o nosso respeito à comunidade, artistas, emprestadores e parceiros. Trata-se de um ato de superação”.

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A Bienal do Mercosul já havia alegado problemas de logística da importação das obras quando anunciou o adiamento de 15 dias de sua abertura – do dia 8 para o dia 23 de outubro. Em comunicado enviado à imprensa no dia 4 de setembro, Gaudêncio Fidelis, curador-chefe da mostra, argumentou que havia dificuldade de “transporte de obras de países que possuem pouca oferta de rotas aéreas e de aeronaves de transporte, envolvendo um trânsito complexo que incide diretamente sobre o tempo para que as obras cheguem à Porto Alegre”. O corte é mais um capítulo na crise por que passa a Bienal do Mercosul, e que culminou no pedido de demissão de três de seus curadores-assistentes: Fernando Davis (Argentina), Raphael Fonseca (Brasil) e Ramón Castillo Inostroza (Chile).

Em entrevista à ARTE!Brasileiros, Fonseca conta que ele e seus colegas foram comunicados dos cortes – segundo ele, de “dezenas” de obras – no dia 21 de setembro, faltando pouco menos de um mês para a inauguração da mostra. Na notificação, diz o curador, a Fundação Bienal do Mercosul avisava que obras dependendo de transporte internacional não chegariam a Porto Alegre. Para o curador, “seguir na equipe curatorial seria assinar embaixo deste modo descartável de lidar com os artistas”.

Em entrevista ao jornal gaúcho Zero Hora, publicada na terça-feira (13), Fidelis afirmou que a bienal “continua com a participação de 20 países e inúmeras obras de artistas estrangeiros” e que “todas as sete exposições permanecem conforme o projeto curatorial anunciado em julho”. Quanto aos artistas que serão cortados da exposição, a assessoria de imprensa da Bienal informa que a instituição está “produzindo um comunicado oficial sobre o assunto que será encaminho a toda a imprensa, em breve”. 

Na carta que Fernando Davis enviou à Fundação Bienal do Mercosul, datada de 6 de outubro, e à qual ARTE!Brasileiros teve acesso, o curador argentino ressalta que propôs reiteradamente ao curador-chefe, Gaudêncio Fidelis, e a seu adjunto, Tavares, “redefinir o projeto curatorial da Bienal, diante da iminência da crise econômica no Brasil e o óbvio impacto que ela tem na Bienal”. Com o título Mensagens de uma Nova América, a Bienal do Mercosul está prevista para ser inaugurada no dia 23 de outubro, em Porto Alegre, e seu orçamento, de R$ 6,5 milhões, é 50% menor que o da edição anterior, de 2013. 

O comunicado de imprensa desta quarta informa ainda que “os espaços expositivos tiveram concluídos sua fase de adequação museográfica e o primeiro grupo de obras de arte nacionais e estrangeiras que irão integrar as exposições chega à Porto Alegre nesta semana”. O orçamento desta edição da Bienal do Mercosul gira em torno de R$ 7,5 milhões, contra R$ 12,5 milhões, em 2013. 

A mostra será aberta no dia 23 de outubro. Entre os artistas inicialmente elencados para mostra estão brasileiros como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica, e vizinhos latinos-americanos, entre eles Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez e mexicano Diego Rivera. A assessoria de imprensa da Bienal promete divulgar ainda esta semana a lista definitiva de artistas e respectivas obras.

 


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