Skate, arquitetura, fotografia e videoarte na obra de Fabiano Rodrigues

Trabalho da série RATSREPUS. Foto: Fabiano Rodrigues
Trabalho da série RATSREPUS. Foto: Fabiano Rodrigues

Fabiano Rodrigues ainda era um menino quando o skate entrou em sua vida, há cerca de 30 anos. Nascido em Santos, no litoral paulista, o garoto se profissionalizou no esporte e passou mais de dez anos vivendo dele, até parar de competir em 2008. Foi mais ou menos nessa época – quando começou a desenvolver, intuitivamente, suas pesquisas e experimentações fotográficas e artísticas – que seu principal instrumento de trabalho passou a ser a câmera fotográfica. Mas as quatro rodinhas nunca deixaram de fazer parte desta produção: em pistas ou espaços arquitetônicos impactantes – como o Pavilhão da Bienal, a Pinacoteca do Estado de SP e o MAC de Niterói, entre outros –, o artista passou a fazer autorretratos andando de skate (com a câmera ligada a um controle remoto), preocupado menos com as manobras e seus graus de dificuldade do que com a inserção do corpo nos espaços.

“Comecei a fotografar porque queria fazer colagens. Fui aprendendo a fotografar registrando amigos, mas percebi que não me atraia fotografar só as manobras. Eu queria mais encaixar um corpo no espaço arquitetônico, e mostrar uma coisa mais plástica do que radical.” A pesquisa de Rodrigues, hoje aos 41 anos, resultou em trabalhos que ganharam destaque no meio da arte contemporânea nos últimos anos. Entre eles está a série RATSREPUS, exposta na galeria Andrea Rehder, em São Paulo, até o dia 14 de agosto. RATSREPUS (“superstar” escrito de trás para frente) inclui fotos e um vídeo, registrados na Cidade das Artes, no Rio, além de uma performance que foi realizada na última mostra VERBO.

Trabalho de Rodrigues feito em Brasília
Trabalho de Rodrigues feito em Brasília

O trabalho, feito em parceria com o skatista Akira Shiroma, surgiu da ideia de subverter a visão do que é um ser um superstar, considerando que no mundo atual qualquer um – ou ninguém, dependendo do ponto de vista – pode ser uma estrela, um famoso. Neste sentido, Rodrigues fez uma fotomontagem onde os rostos dos dois skatistas em movimento são apagados, assim como suas vestimentas e comportamentos são o oposto do que é esperado. Em um ambiente que remete a uma dimensão paralela, inspirada no universo do personagem Bizarro (a antítese do Super Homem), dois skatistas fazem movimentos “errados”, que um profissional jamais faria.

Assim como em séries anteriores, Rodrigues coloca o próprio corpo como objeto do trabalho. “Isso para mim sempre foi algo natural, não é muito pensado. Eu trabalho com meu corpo há 30 anos…”, diz ele, lembrando também que o próprio esporte é uma espécie de performance. “A performance é um ato corporal com começo, meio e fim, assim como é uma sessão de skate”. Apesar de o esporte aparecer de algum modo em toda a produção de Rodrigues, o artista procura ressaltar que este não é o foco principal. Diz também que não considera seu trabalho street art ou arte urbana. “É uma expressão artística, e eu não procuro rotulá-la.” De fato, o trabalho de Rodrigues tem ganhado mais destaque em espaços ligados à arte contemporânea, à videoarte, à performance e à fotografia do que à street art ou ao skate. O artista recebeu, nos últimos anos, prêmios de fotografia e artes visuais, teve obras adquiridas pela Pinacoteca e pelo MASP e participou de mostras de filmes.

Imagem da série Autocollage. Foto: Fabiano Rodrigues
Imagem da série Autocollage. Foto: Fabiano Rodrigues

Um distanciamento de Rodrigues do universo do esporte radical se dá agora, de modo mais concreto, na série de fotos Autocollage, primeiro trabalho produzido sem o skate, apenas com o corpo. “Faço uma performance e me transformo em uma colagem”, diz Rodrigues. Mais uma vez, a arquitetura tem grande destaque na série – algumas das fotos foram feitas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – e aí, inevitavelmente, o artista admite que a série não deixa de ter relação com seu olhar de skatista: “A fascinação com a arquitetura tem a ver com ser skatista. Nós nunca olhamos a arquitetura de uma forma normal, sempre buscamos qualquer coisa que seja ‘skatável’: uma borda, um corrimão… Então eu geralmente pego um fragmento da arquitetura, mostro um recorte, uma parte. Sempre gostei de fazer essa desconstrução”, conclui.

Serviço – RATSREPUS
Av. Brasil, 2079, São Paulo 
Até 14 de agosto
andrearehder.com.br


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