Todos pelo real

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A arte é pivô
das inúmeras tentativas do homem de representar o real, de questionar o que é efetivamente real naquilo que sente, pensa ou com o que convive. Esta edição dá início à discussão sobre Arte Contemporânea e Realidade, tema do IV Seminário Internacional ARTE!Brasileiros, que acontecerá em setembro, na semana de abertura da 32ª Bienal de São Paulo. Diversos especialistas, entre críticos, psicanalistas, artistas, curadores e diretores de grandes instituições de arte, estarão presentes. Entre eles, o psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP Christian Dunker, que abre esta edição com um artigo no qual fala sobre o mal-estar na arte brasileira. Dunker articula as teorias dos críticos Hal Foster​,​ autor de O Retorno do Real, e Didi-Huberman​, ​para quem a materialidade da imagem é paradigma na abordagem do real​, ​ definindo este como a “realidade perdida, verdadeira obsessão, paixão e programa para as artes e para a crítica da subjetividade”. ​

Na sequência, em​ estreito diálogo com essas ideias, ​o crítico ​Fabio Cypriano ​entrevista​
​o artista Alfredo Jaar, que abrirá o seminário com uma de suas conferências/performances. A obra de Jaar problematiza o real a partir da alegada disjunção entre imagem e informação, questionando a “realidade” representada pela mídia e situando a arte como uma espécie de contrainformação, para usar o conceito de Didi-Huberman. Em outra entrevista, a dupla Till Fellrath e Sam Bardaouil, curadores do pavilhão libanês na 55ª Bienal de Veneza, recentemente nomeados para a Fundação Montblanc de la Culture, fala ​dos desafios da atuação curatorial em uma instituição privada, bem como do papel desse tipo de iniciativa  no sistema de artes.

Abordando o real a partir do virtual e refletindo sobre as (im)possibilidades de futuro abertas pelos avanços tecnológicos recentes, temos as matérias de Nuno Brito sobre a Bienal
de Berlim – The Present in Drag; de Germano Dushá sobre o artista pós-contemporâneo Jon Rafman, que participa tanto da Bienal de Berlim quanto da Manifesta de Zurique; e do crítico italiano Vincenzo Latronico, que escreve sobre a exposição de Goshka Macuga na Fundação Prada, onde reflete sobre
a realidade dos museus após o fim da humanidade. Questões semelhantes aparecem também na exposição do artista inglês Haroon Mirza, no Pivô, que intersecta temas aparentemente aleatórios – cosmologia, enteógenos, música e política brasileiras – para falar sobre a emergência de um novo paradigma e realidade.

Refletindo sobre a realidade sociopolítica e seus cruzamentos com a estética, temos matérias de Thais Gouveia sobre a obra de Débora Bolsoni, que foi destaque na Frieze NY; de Miguel Chaia sobre a exposição Coletiva na galeria Vermelho; e ainda artigo de Marta Ramos-Yzquierdo sobre a atuação do artista Ícaro Lira dentro de uma ocupação do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). Em contraste, há a fala de Iran do Espiríto Santo, em conversa com Fabio Cypriano, que afirma: “Não é todo artista que sabe fazer arte política, mas a opinião política é que é  importante, assim como a maneira de se relacionar com o mundo da arte”. Esta última questão reaparece na matéria de Guilherme Aquino sobre a instalação do artista Christo, na Itália, que não só tornou “real” o mito cristão de “caminhar sobre a água” como também demonstrou outras possibilidades de lidar com o sistema e o mercado de arte ao desenvolver um método único de financiamento de suas obras.

Abordando ​a realidade a partir do corpo, Cibelle Cavalli Bastos conversa com Pablo Léon de La Barra sobre como matar os monstros da normatividade, assunto também tratado pelo artista-curador-etc Bruno Mendonça em sua resenha do Caderno Videobrasil – aliança de corpos vulneráveis: feminismos, ativismo bicha e cultura visual. O corpo, assim como o erotismo e o desejo, era, aliás, preocupação recorrente de Tunga, a quem prestamos uma homenagem em matéria de Leonor Amarante e na capa desta edição, que traz imagem de uma escultura da série Morfológicas. Resultado de extensa pesquisa do artista sobre corpo e formas, um prelúdio dessas esculturas já havia aparecido nas peças da exposição From La Voie Humide, que refletem a pesquisa do artista sobre a psicanálise de Lacan.

Boa leitura!


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