Uma brisa brasileira sopra nos EUA

Solange Pessoa, "4 Hammocks", 199-2003, tecido, terra e esponjas, dimensões. variáveis. Foto: Cortesia  Família Rubell
Solange Pessoa, “4 Hammocks”, 199-2003, tecido, terra e esponjas, dimensões. variáveis. Foto: Cortesia Família Rubell


Um trio de inovadoras
artistas brasileiras aterrissou em uma das exposições mais influentes da cena de arte contemporânea, a mostra anual da coleção Família Rubell em Miami (EUA). Solange Pessoa, Sonia Gomes e Marina Rheingantz, tiveram suas obras incluídas na já histórica No Man’s Land, que atraiu a atenção dos visitantes da Coleção Particular
da Família Rubell.

Todos os anos no mês de dezembro, mais de 85 mil pessoas viajam até Miami para conferir os trabalhos exibidos por mais de 1.500 galerias participantes de um total de 24 feiras de arte que ocorrem por toda a cidade, inclusive a famosa Art Basel Miami Beach. São especialistas altamente informados que estão em busca do que há de mais inovador no mundo da arte. Anualmente também, Mera e Donald Rubell, conhecidos colecionadores da cidade de Miami, abrem as portas do seu museu de 4.500 metros quadrados para atender aos anseios desse público com a exibição de uma seleção de trabalhos que eles acreditam ser os mais importantes dentre suas aquisições recentes. No ano passado, os Rubells deram um tom político à exibição e apresentaram trabalhos concebidos somente por mulheres artistas reunidos na mostra intitulada No Man’s Land. A exposição contou com obras da coleção particular que o casal vêm construindo há 40 anos, e incluiu trabalhos de mais de cem artistas do gênero feminino, dentre as quais Jenny Holzer, Cady Noland e Cindy Sherman, além das três artistas brasileiras cujos trabalhos foram recentemente adquiridos: Marina Rheingantz, Sonia Gomes e Solange Pessoa. Graças ao apoio e incentivo de Fernanda Feitosa e de sua equipe da SP-Arte, tive a oportunidade de acompanhar os Rubells em sua primeira visita a São Paulo em abril de 2015 para adquirir novas obras. Como guia, planejei uma extensa e exaustiva maratona de oito dias com visitas a mais de 80 estúdios, dezenas de galerias e museus, e visitas diárias à SP-Arte.  Quando havíamos cumprido metade do roteiro, os Rubells comentaram: “Incríveis a vitalidade e a energia de artistas de todas as idades, trabalhando em disciplinas tão diversas. Precisamos nos envolver”. Graças a Brenda Valansi, o casal retornou ao Brasil em setembro de 2015, dessa vez como convidados VIPs da feira ArtRio. O roteiro incluiu vários outros estúdios e galerias além de Inhotim, o parque de arte de Bernardo Paz em Minas Gerais. 

Sonia Gomes, "Tantas Estórias", 2015, tecido e cordas, 350 x 300 cm. Foto: Cortesia Família Rubell
Sonia Gomes, “Tantas Estórias”, 2015, tecido e cordas, 350 cm x 300 cm. Foto: Cortesia Família Rubell

Uma das artistas que chamou a atenção do casal de colecionadores durante suas visitas ao Brasil foi Solange Pessoa. Após 30 anos exibindo na cidade de Belo Horizonte, ela finalmente alcançou o sucesso. Sua primeira exposição individual na galeria Mendes Wood foi um sucesso absoluto em termos de instalação e crítica. Seu trabalho, comenta a galeria, “incorpora um desejo ancestral de materializar-se em um mundo de sólidos e é como se tivesse sido esculpido em fogo, terra, vento e água”. Suas silhuetas negras e abstrações figurativas são instantaneamente reconhecidas e parecem conter em si a memória histórica de petróglifos brasileiros. Além de expor seu próprio trabalho, Pessoa é também professora de arte e contribuiu com a carreira de muitos artistas.

Sônia Gomes tem trajetória parecida. Após muitos anos desenvolvendo seu trabalho em anonimato quase total, em 2015 também ela despontou no mundo da arte, inclusive internacionalmente. Estreou em grande estilo na Bienal de Veneza, além de ter uma de suas instalações incluídas na coleção particular da família Rubell. Suas obras parecem com algo que aconteceria se você trancasse sua tia louca no porão com um monte de colchas de cama. O resultado muito provavelmente seria um turbilhão caótico de cores e panos que parecem despretensiosamente jogados sobre cabides de roupas – mas que são, apesar disso, extremamente sofisticados. Em março, Gomes participará da inauguração do tão esperado novo espaço, de proporções imperiais, da galeria Hauser & Wirth em Los Angeles, com a exposição de estreia Revolution in the Making: Abstract Sculpture by Women que incluirá obras de lendas como Lygia Clark, Eva Hesse e Louise Bourgeois. Sonia Gomes certamente irá se destacar como uma das artistas vivas participando ao lado de mestres já consagradas.

Marina Rheingantz, "Um", 2014, óleo sobre tela, 200 cm x 245 cm. Foto: Eduardo Ortega
Marina Rheingantz, “Um”, 2014, óleo sobre tela, 200 cm x 245 cm. Foto: Eduardo Ortega

Embora ainda jovem, Marina Rheingantz já vem exibindo suas obras há uma década. Abordando consistentemente o tema da paisagem desolada, com obras que embora construídas sobre as bases da tradição expressionista contêm uma paisagem interior profundamente marcada por devaneios pessoais. Suas telas evocam um equilíbrio entre contradições. São pinturas deliciosamente melancólicas que apenas sugerem fragmentos arquitetônicos ou paisagens vibrantemente coloridas. Com uma mensagem ambiciosa que não esta atrelada à escala, essas pinturas convidam o espectador a mergulhar em uma jornada. As pinturas parecem provocar estados alterados mas simultâneos de existência, como se, sem sair do lugar, pudéssemos penetrar em seu mundo e flutuar em seus devaneios. É nesse sentido que as obras de Rheingantz se aproximam da poesia. Essa ressonância ficou explicita já no título da primeira exposição individual da artista há três anos, na galeria Fortes Vilaça, intitulada Uma Hora e Mais Outra, referência ao poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, que sugere a ideia de que a vida é como um sonho em vigília.

No Man’s Land Women Artists from the Rubell Family Collection
Até 28 de maio
Rubell Family Collection
95 NW 29 ST, Miami – Estados Unidos
rfc.museum

 
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