Uma bienal diferente surge no horizonte latino-americano: a Sur Global, nascida no cerne do UNASUR (Unión de Naciones Suramericanas) e da vontade de um grupo argentino ligado à educação e à arte contemporânea, capitaneado por Anibal Hozami, diretor da universidade portenha UNTREF (Universidad Nacional de Tres de Febrero).
Em 11 de março de 2011, entrou em vigência, na América Latina, o Tratado Constitutivo del UNASUR, assinado pelos governos da Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e da República Bolivariana da Venezuela com o objetivo de desenvolver uma maior integração nos processos regionais do Mercosul e da comunidade andina.
Em 2015, Hozami, que é educador, colecionador e membro do Conselho do Museu Reina Sofia de Madri, promoveu uma série de encontros internacionais com curadores, artistas, especialistas da comunicação, críticos e colecionadores para discutir a criação da primeira Bienal Internacional de Arte Contemporânea da América do Sul, com data prevista para novembro de 2017.
Os três primeiros encontros contaram com a participação de Andrés Duprat, diretor do Museu Nacional de Belas Artes de Buenos Aires; Gustavo Buntix, curador do Micromuseo, do Peru; Tadeu Chiarelli, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo; Luis González Palma, artista guatemalteco; Céleste Boursier-Mougenot, artista que representará a França na Bienal de Veneza; Gilles Lipovetsky, filósofo e sociólogo francês; Tício Escobar, crítico paraguaio; Voluspa Jarpa, artista chilena; Claudia Casarino, artista paraguaia; e Stéphane Aquin, historiador e curador-chefe do Museu Hirshorn, de Washington. O último encontro, realizado nos dias 5 e 6 de abril, no auditório do MUNTREF, Museo de la Universidad Nacional Tres de Febrero, sediado nas docas da cidade de Buenos Aires, em Puerto Madero, reuniu um público de cerca de 800 pessoas e uma transmissão por streeming para mais de dois mil espectadores.
A ARTE!Brasileiros foi convidada a participar do debate Arte, Crítica y Medios mediada pela jornalista e colecionadora Marlise Hozami, para a qual a diretora da revista colombiana Art Nexus, Celia Birbragher, trouxe várias das experiências de projetos que a publicação acompanha no continente latino-americano há quase 40 anos. Estavam também presentes a diretora da revista Ñ, do conhecido jornal argentino Clarín, os críticos Blake Gopnik, colaborador do The New York Times, e Valérie Duponchelle, do Le Figaro, da França. Em uma das mesas coordenadas pelo diretor do Malba, Agustín Perez Rubio, também apresentaram seus trabalhos, destacando a importância de criar novas alternativas de intercâmbio cultural, os artistas Guillermo Kuitca, Matias Duville e Graciela Sacco (Argentina), Marco Maggi (Uruguai), Catalina Swindburn (Chile), Oscar Muñoz (Colômbia) e Ana Bella Geiger, Cildo Meireles e Ivan Grilo (Brasil).
Diferentemente dos modelos que seguem a Bienal de Veneza, ou outras bienais consagradas, com artistas convidados diretamente pelo curador-geral e outros selecionados por seus países de origem, a Sur Global lançou uma convocatória aberta a artistas latino-americanos. Em princípio, a ideia é não ter um tema ou projeto curatorial único que amarre a mostra. Segundo o diretor geral do evento, Aníbal Jozami, “desde o início se pensou em denominar o projeto como ‘Bienal’ por ser uma referência de aproximação com o público”. Ele ainda salientou o apelo desse nome, de fácil compreensão, pois passa a ideia “de um encontro do pensamento, do intercâmbio global, das experiências e das culturas”.
A América do Sul de hoje é muito diferente do que era nas décadas de 1980 e 90. Ganhou força um tipo de regionalismo que confia na capacidade de distanciar-se dos países centrais, particularmente dos Estados Unidos. No entanto, sabemos que o continente carrega ainda o fardo do subdesenvolvimento, da dependência econômica e cultural, e toda iniciativa para erradicar a pobreza e alcançar um maior desenvolvimento social, humano e cultural é bem-vinda. A Bienal Sur Global poderá ser uma vitrine da produção artística da região e uma experiência de troca e encontro com a diversidade.
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