Você quer ser analfabeto?

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Editamos este número
a quatro mãos, eu e Marcos Grinspum Ferraz. Apesar de ele querer ser somente repórter especial e músico, se mostrou um excelente gestor. Nesta edição inauguramos a versão em língua inglesa, encartada em papel especial ao final da revista.

A diversidade de temáticas abordadas pelos artistas e a diversidade de “leituras” que são feitas por eles da realidade, trazendo-as à tona para observação e reflexão, nas inúmeras exposições que acompanhamos, só ratifica a ideia de que a arte está longe de ser uma mera disciplina a ser aprendida na escola. A teoria de que buscar a forma e a materialidade continua sendo a única função das artes plásticas, na arte contemporânea é tão ultrapassada – pela filosofia, psicanálise, ciência e tecnologia – que parece risível que, hoje, políticos de quinta categoria possam apenas por uma canetada ignorar sua verdadeira importância na cultura de um país.

Só para continuar na contracorrente do desmonte e fazer uso da memória, neste número ARTE! estreia a seção História das Exposições, com textos que analisam mostras que fizeram história na América Latina. A ideia surgiu no nosso ciclo Processos Curatoriais, iniciado em setembro deste ano, junto ao crítico, pesquisador e curador espanhol Juan José Santos. O primeiro artigo discorre sobre a Bienal de Havana de 1986, evento que mudou os paradigmas vigentes na arte daquele momento.

T​emáticas relativas às diferentes interpretações da história, à questão indígena, ao consumismo, à originalidade (ou falta dela) na arte contemporânea e à ressignificação dos espaços expositivos surgem nas matérias das mostras de Gustavo Von Ha, Leda Catunda e Ana Maria Tavares ou​ nas exposições coletivas, ​como A Missão Artística Francesa no Brasil e Seus Discípulos e Adornos do BrasilIndígena: Resistências Contemporâneas. Ou ainda com a teimosa obra do jovem Rodrigo Braga, que se enreda o tempo todo na relação homem-natureza.

Para encerrar a ​cobertura da 32ª Bienal de São Paulo, feita durante todo o ano pela ARTE!Brasileiros – com uma série de reportagens,  vídeos e seminários –, Marcos Grinspum Ferraz conversa com visitantes no Pavilhão do Ibirapuera para ouvir suas opiniões; Fabio Cypriano discorre sobre a importância do evento enquanto espaço de experimentação; e Leonor Amarante escreve sobre o trabalho audiovisual de Rachel Rose.

Na seção de críticas, a Bienal ainda é tema de uma análise negativa e outra positiva: enquanto a curadora Amarante aponta para a falta de potência de boa parte dos trabalhos expostos, o antropólogo Pedro Cesarino ressalta o valor da edição como ação transformadora, fundamental nos dias de hoje.Ainda chamam atenção neste número três tipos de mecenato: investidores privados que incentivam artistas; colecionadores que ​doam parte importante das obras do seu acervo a museus públicos; e colecionadores que colaboram com projetos institucionais e exibem suas coleções ao público.

Por fim, Guto Lacaz ganha perfil, escrito por Cypriano, a partir de sua obra Eletro Esfero Espaço. O artista acaba de ter o trabalho, que foi exposto pela primeira vez em 1987, adquirido pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.A arte não é uma escolha. A arte está na garatuja, faz parte do desenvolvimento da escrita, da  construção emocional e cognitiva do sujeito. Você quer ser analfabeto?


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