Bienal do Livro: Futebol-ficção perde para futebol-realidade

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Ainda que considerem que há bastante literatura de alta qualidade sendo feita sobre o futebol, os escritores, jornalistas e blogueiros Sérgio Rodrigues e Xico Sá acabaram passando boa parte do debate Futebol e Literatura na II Bienal Brasil do Livro e da Leitura em Brasília, falando sobre a triste realidade do futebol brasileiro, impulsionados por perguntas da grande plateia e pelos próprios rumos que a conversa, bem mediada por Paulo Rossi, foi tomando.

CPF e federações estaduais foram bastante criticadas por ambos, que lembraram, inclusive, das ligações dessas entidades com a ditadura, outro dos assuntos candentes da Bienal. O advento da Copa em ano eleitoral foi outro assunto inescapável. Para Xico, “a Copa vai ter uma influência fortíssima nas eleições. Claro que a oposição tá secando o Brasil!” Já Rodrigues acha mais provável que as pessoas “não associem a seleção ao governo.” E lembrou da Copa das Confederações, que, mesmo ganha, não aliviou a pressão sobre Dilma. “Sou pelos protestos e por uma boa Copa ao mesmo tempo”, completou Xico.

Sobre a literatura, ambos ressaltaram os muitos lançamentos de ocasião, “alguns bons, outros não”, de não-ficcão, mas discordaram da tese de que não há boa literatura sobre futebol no país do dito cujo. Sérgio, ele mesmo autor de um elogiadíssimo romance O Drible, que tem com personagem central um craque de outro mundo, o Peralvo, lembrou dos livros de Michel Laub, Segundo Tempo, de André Sant’Anna, O Paraíso é bem Bacana e de Marcelo Backes, O Último Minuto, como ótimos exemplos da safra do novo século. Ao que Xico acrescentou, com grande entusiasmo, as coletâneas de contos organizadas por Flávio Moreira da Costa.

Também concordaram quanto às dificuldades de se escrever ficção nas quatro linhas do gramado. Sérgio: “A narrativa do futebol já se apresenta pronta, o drama tá todo ali: a vitória, a derrota, o choro, a tragédia. É muito difícil chegar com suas mentiras de ficcionista e disputar na balança com essa mitologia fortíssima que qualquer esporte de massa gera sozinho.” Xico: “O Rubem Fonseca tem um conto que fala como o Gerson cuspia em campo que é maravilhoso. Só que a dificuldade é grande. Você escreve 500 páginas de um romance e aí surge um acontecimento real e mata tudo aquilo. A linguagem do futebol é fortíssima.”

Para os dois, a salvação está na crônica e nas possibilidades da internet. Nélson Rodrigues e Paulo Mendes Campos são fartamente citados. Para Sérgio, no entanto, hoje ela “é muito mais objetiva, tem muito menos espaço para arroubos poéticos.” Dizendo-se “cria do mundo” de Nelson Rodrigues, Xico, autor do ótimo Big Jato, lembra que hoje a “o que prevalece nos jornais é a a prancheta e a leitura do jogo de quem vê e não de quem não vê o jogo” (numa alusão ao míope e mítico cronista de A Pátria de Chuteiras), à exceção do maravilhoso Tostão que consegue fundir objetividade e lirismo.”. Xico ressaltou também o trabalho de jovens na internet, como o site impedimento.org.


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