Os imperdíveis! Dicas de literatura para este mês

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O Caso Meursault
Kamel Daoud
Tradução de Bernardo Ajzenberg
Biblioteca Azul,
168 páginas

História de O Estrangeiro contada de outro ponto de vista. Aqui, o árabe morto sem motivo por Mersault numa praia da Argélia colonial ganha carne, osso, identidade, nacionalidade, infância, sonhos e ambições, ao contrário da figura quase abstrata descrita por Camus em seu clássico.

Trecho“Depois de perder a mãe, esse homem, o assassino, deixa de ter um país e cai no ócio e no absurdo. É um Robinson que acredita poder mudar o destino matando o seu Sexta-Feira, mas que, ao se ver preso em uma ilha, se põe a discursar, com talento, feito um papagaio complacente consigo mesmo.”

O autor: O argelino Daoud, de 46 anos, ex-jornalista, ganhou o prêmio Goncourt com este seu primeiro romance, que teve os direitos vendidos para mais de 20 países.

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Autoimperialismo
Benjamin Moser
Tradução de Eduardo
Heck de Sá
Planeta, 128 páginas

Em três ensaios – Cemitério da Esperança, A Pornografia dos Bandeirantes e Autoimperialismo -, o autor se dedica a criticar os aspectos autoritários do projeto de Brasília, a confusão simbólica e visual de São Paulo e a conquista predatória do Brasil pelos próprios brasileiros.

TrechoO que comove na arquitetura monumental é a forma desajeitada como ela trai seus próprios propósitos. Enquanto procura transpirar permanência, já se encontra em decadência. Na tentativa de se mostrar majestosa, revela sua vaidade (…)”

O autor: Publicou Clarice, biografia de Clarice Lispector, e traduziu e editou obras da escritora, tornando-a mais conhecida e admirada nos EUA e Grã-Bretanha. No momento prepara biografia de Susan Sontag.

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Conversando com Varejeiras Azuis
Edward Lear
Tradução de Dirce Waltrick do Amarante
Iluminuras, 128 páginas

Quatro crianças viajam pelo mundo num barco com uma gatinha, o estranho Manha-Artimanha e uma enorme chaleira, que serve de cozinha e dormitório. Receitas absurdas, plantas inimagináveis, um poema indiano e uma série de limericks completam esse livro nada “escruvioso”.

Trecho: “Durante o dia, Violeta se ocupava, sobretudo, em colocar água salgada num latão; enquanto seus três irmãos a mexiam violentamente, na esperança de que
ela se transformasse em manteiga, o que raramente, se não nunca, acontecia.”

O autor: Precursor de Lewis Carroll na literatura nonsense, Lear (1812-1888) começou como desenhista e pintor. Viajou muito por conta de doenças respiratórias e produziu vários livros de poemas curtos e de viagens.

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Velázquez
José Ortega y Gasset
Tradução e organização
de Célia Euvaldo
WMF Martins Fontes,
216 páginas

Reunião dos principais ensaios do filósofo sobre o pintor Velázquez (1599-1660), parte deles tirada de Papeles sobre Velázquez y Goya (1950). Há também a transcrição de uma aula ministrada em 1947, além de reproduções de alguns quadros, como Las Meninas e o retrato de Inocêncio X.

Trecho:“Até Velázquez, a pintura queria fugir do temporal e simular na tela um mundo alheio e imune ao tempo, fauna de eternidade. Nosso pintor tenta o contrário: pinta o próprio tempo, que é o instante, que é o ser enquanto condenado a deixar de ser, a transcorrer-se a corromper-se.”

O autor
:O espanhol Ortega y Gasset (1883-1955) foi um dos grandes pensadores do século XX. Filósofo, foi também educador, político e editor.

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O Direito à Preguiça
Paul Lafargue
Tradução, apresentação e notas de Alain François
Edipro, 96 páginas

Escrito na prisão e publicado em 1855, esse manifesto bastante irreverente, mas não menos procedente, exalta a importância do ócio e do prazer em contraposição à febre do trabalho, “contraída” depois da Revolução Industrial e disseminada pelos donos do capital.

Trecho: “(…) quando Villermé visitou a Alsácia, o minotauro moderno, a oficina capitalista, já havia conquistado a região; na sua bulimia de trabalho humano tinha arrancado os operários de seus lares para melhor espremê-los e extrair o trabalho que continham.”

O autor: Casado com Laura, filha de Marx, Lafargue (1845-1911) foi um importante difusor das ideias do sogro e também um militante socialista de peso, tendo fundado o pioneiro Partido Operário.

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O Conto Zero e Outras Histórias
Sérgio Sant’Anna
Companhia das Letras,
174 páginas

Todo novo livro de contos de Sérgio Sant’Anna é algo a celebrar, e aqui ele não decepciona. Trabalho mais pessoal, combina memória e ficção para tratar do amor, da solidão, do ofício de escrever e também de momentos singulares, como o primeiro cigarro ou a residência artística nos EUA.

Trecho: 
“Não seria propriamente um conto, ficaria dias e mais dias rondando a sua cabeça, você não escrevia uma única frase, uma palavra que fosse, pois ela o comprometeria com um seguimento, um desfecho, e o que você queria era uma prosa solta, que não precisasse ser escrita e concluída”

O autor: Um dos grandes da literatura contemporânea brasileira, recebeu quatro vezes o prêmio Jabuti e outros prêmios, e teve textos adaptados para o cinema.

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Os Farsantes
Graham Greene
Tradução de Ana
Maria Capovilla
Biblioteca Azul,
360 páginas

Décimo romance do autor britânico, relata, numa combinação de fatos reais e ficção, o encontro de personagens conflitantes no Haiti do tirano Papa Doc. O narrador é dono de um hotel decadente. Belas mulheres, vigaristas, idealistas e os sangrentos tonton macoutes completam o elenco.

Trecho:“Tinha cortado os pulsos e depois a garganta, para ter certeza. (…) Não devia estar morto havia mais que alguns minutos. Meus primeiros pensamentos foram egoístas: eu não poderia ser culpado por um homem se matar em minha piscina.”

O autor: Greene (1904-1991) dividia seus romances entre “sérios” e “de entretenimento”. Os Farsantes, assim como O Americano Tranquilo (lançado pela mesma editora), está no primeiro caso.

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Censores em Ação
Robert Darnton
Tradução de Rubens Figueiredo
Companhia das Letras,
376 páginas

Estudo sobre a censura, dividido em três casos: a França dos Bourbon, a Índia durante a ocupação inglesa e a Alemanha Oriental comunista. Em comum, a erudição dos censores e o controle do Estado sobre a produção intelectual e a expressão literária em particular.

Trecho: “Levei certo tempo para formar uma imagem clara da organização da burocracia (…) A ficção na Alemanha Oriental era a porta número 215, quarenta porta adiante,
seguindo por um corredor mostarda que parecia não ter fim enquanto fazia curvas e contornava um pátio.”

O autor: Professor e diretor da biblioteca em Harvard, Darnton é autor de O Grande Massacre dos Gatos, O Beijo de Lamourette e, entre outros, O Diabo na Água Benta.

 

 


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