Peter Handke nunca pretendeu ser um autor de fácil digestão, muito ao contrário. Seu gosto pela provocação e principalmente pela recusa ao lugar comum está presente em todas as suas obras, desde romances como A Mulher Canhota e O Medo do Goleiro Diante do Pênalti, e roteiros para filmes de Win Wenders, como O Movimento em Falso e Asas do Desejo, até peças perturbadoras, que discutem o próprio teatro.
Inéditas no Brasil, suas primeiras obras dramáticas – se é que podemos chamá-las assim -, estão sendo lançadas agora pela Perspectiva, com organização, tradução e introdução de Samir Signeu Porto Oliveira.
As quatro Peças Faladas, que Handke escreveu nos anos 1960, com vinte e poucos anos, vão ser debatidas nesta quarta, dia 26, a partir das 19:30, no Instituto Goethe, em São Paulo.
Entre os convidados estão o próprio tradutor, que lerá trechos das obras, a professora Doutora Ingrid Dormien Koudela, que falará sobre o diálogo Brecht e Handke, e a escritora e tradutora literária Simone Homem de Mello, que abordará o dialógico na obra dramática e narrativa de Handke. Daniel Benevides, editor de literatura de Brasileiros, será o mediador.
Da quarta-capa do livro, texto assinado por Jacó Guinsburg:
“Os conturbados anos de 1960 caracterizam-se por uma contestação aos mais arraigados princípios e valores da tradição ocidental. Em sua esteira, uma efetiva revolução não só comportamental como social propagou-se por todo o seu âmbito, tendo como promotor e agente principal o jovem. A juventude recusava-se a aceitar as regras e os valores recebidos e a ela impostos. O que dizer, como agir, aonde ir, tornaram-se objeto de sua confrontação com o status quo, o que se traduziu de maneira visível tanto em procedimentos culturais e intelectuais quanto nas formas desafiadoras do seu rock “vestimental e capilar” e nos atrevimentos de sua linguagem oral. Tal é o contexto em que ocorreram, e em que se expressaram – e ainda se expressam -, os primeiros textos teatrais do escritor e encenador Peter Handke. As Sprechstücke, Peças Faladas, como ele as denominou, falam por si próprias desse testemunho cênico. Ao editar Predição, Insulto ao Público, Autoacusação e Gritos de Socorro, em cuidadosa tradução e análise de Samir Signeu, a editora Perspectiva o faz para transmitir pela força da palavra e, se possível, ao vivo da cena, a manifestação das figuras e do espírito dessa geração.”
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