Se é um exagero dizer que o Brasil vive uma ditadura após a chegada de Michel Temer ao poder, não é exagerado questionar o comportamento cada vez mais autoritário da Polícia Militar em São Paulo depois que o peemedebista assumiu a presidência. Embora a PM paulista esteja sob o comando do governador Geraldo Alckmin (PSDB), as arbitrariedades de seus oficiais atingiram níveis alarmantes no pós-Dilma, e o fim da manifestação do último domingo (4), que levou dezenas de milhares às ruas de São Paulo, é só o mais recente exemplo.
Quem acompanhou a manifestação de ontem na capital paulista sabe que ela foi pacífica. Iniciada na Avenida Paulista, só terminou no Largo da Batata, na zona Oeste, em clima de que o próximo ato será maior. Talvez tenha sido essa a razão para o que se viu a seguir.
Segundo a PM, “vândalos” tentaram entrar no metrô Faria Lima sem pagar e os seguranças pediram ajuda policial. Não houve testemunhas do ocorrido e os seguranças do metrô negam ter feito o pedido de intervenção. Bombas e gás lacrimogêneo invadiram a estação e as ruas do entorno, levando tensão a bares e estabelecimentos comerciais da região.
Embora não seja novidade que a polícia inicie alguns confrontos para que as televisões mostrem “baderneiros” como responsáveis pela “arruaça”, a PM raramente reprime manifestações com tamanha quantidade de gente. Ela prefere dispersar os protestos menores, ocorridos durante a semana.
Mas a maior das novidades chegou depois ao conhecimento da população. Advogados e defensores públicos relatam que pelo menos 27 pessoas foram presas antes mesmo do protesto começar. Esses profissionais foram impedidos pelas delegacias de receber qualquer informação sobre a razão para as prisões, uma arbitrariedade digna de ditaduras.
“Em 32 anos de advocacia é a primeira vez que vejo um defensor público ou um advogado não conseguir ingressar num prédio público onde são exercidas as atividades da polícia judiciária”, contou o defensor público Marcelo Carneiro Novaes ao coletivo Jornalistas Livres.
Na manifestação menor do dia anterior, um manifestante relatou nas redes sociais a forma como foi preso: descontente com as barricadas em chamas colocadas por black blocs, ele passou a retirá-las da rua para facilitar o tráfego. Acabou abordado pela polícia e preso. Acreditava que tudo seria esclarecido na delegacia. Terminou colocado em uma cela de quatro metros quadrados com outros detentos sem saber as razões, até quem um advogado lhe contou: acabou na cadeia por “depredar uma concessionária, corrupção de menores, desacato, quebra de um ponto de ônibus e que fomos pego em flagrante”.
O caráter repressor e arbitrário das autoridades policiais nos últimos tempos exige das ruas não apenas protestos por novas eleições, mas, principalmente, pela garantia da nossa frágil democracia, uma conquista recente e claramente sob ameaça.
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