Em julho de 2014, o mundo todo pode assistir um brasileiro paralisado do tórax aos pés dar o chute inicial da Copa do Mundo na abertura do mundial na Arena Corinthians, em Itaquera. Juliano Pinto, 29 anos, utilizou a força do pensamento e o auxílio de um exoesqueleto para dar o pontapé mais aguardado da ciência brasileira.
“É um sonho que se realizou. Nós atingimos todos os objetivos de comunicar para o mundo o que a ciência é capaz de fazer para o bem da humanidade”, afirmou o neurocientista durante a quarta edição do Seminário Inovação Brasileiros.
Na época, o pouco tempo de transmissão dado a demonstração do Projeto Walk Again foi alvo de críticas. “No mundo inteiro, todo mundo adorou não importa quanto segundos foram dados. A mensagem foi passada mesmo com sete segundos”.
O consórcio internacional que envolve 156 cientistas de 25 países e liderado por ele, continua a evoluir após a Copa do Mundo. No laboratório, localizado na zona sul de São Paulo, os oito pacientes que participaram da fase inicial dos testes permanecem em treinamento e contribuem, segundo Nicolelis, com um feedback valioso. “Nós aprendemos muito com a experiência dos pacientes. Eles indicaram coisas que gostariam de ter e outras que poderiam ser removidas porque é só peso extra. Estamos reduzindo peso, fortificando as articulações para poder dar um grau de autonomia muito maior, porque agora temos mais tempo”, pontua.
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Nesta etapa, um segundo protótipo do exoesqueleto está em desenvolvimento. Outra parte essencial do Walk Again diz respeito aos artigos científicos. Os resultados dos últimos testes e outras ideias serão publicados nos próximos meses, adiantou Nicolelis. Da mesma forma, o projeto cresce com a colaboração de outros pesquisadores. “Nossa expectativa é continuar trabalhando e produzir o melhor exoesqueleto possível”, afirma.
Nicolelis também defendeu que o Brasil tem se mostrado mais competitivo em escala global. Exemplo disso é a presença da Finep, agência financiadora de estudos e projetos, como membro da aftie – Rede Europeia de Agências de Inovação. Recentemente a agência brasileira foi convidada para integrar um grupo seleto. O Brasil passa, então, a ser um dos poucos países não europeus, além de Coreia e Israel, a fazer parte do grupo de 28 nações e 26 agências. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio da Finep, investiu R$ 34 milhões na fase clínica do Walk Again.
“Em ciência você tem que assumir certos graus de risco. Você tem que tentar fazer coisas que estão no limite do factível, porque senão você não avança, senão você fica na mesma roda”, destacou.
Para o neurocientista, um dos principais legados que o Walk Again deixa é ter estimulado uma geração de crianças para a ciência. “Mostramos para a juventude brasileira que nós também somos capazes de fazer ciência em português e fazer algo que o mundo inteiro se espanta”. Da mesma forma, revela para o país uma nova forma de fazer ciência, o que Nicolelis chama de ciência concreta.
“E só de você ver esses oito pacientes andando no laboratório, como a gente viu e a gente continua vendo, a imagem que isso vai transmitir para o resto do mundo, de que o Brasil é capaz de fazer, vai contribuir para que outros cientistas brasileiros encontrem canais e aberturas para realizar os seus projetos, sejam eles quais forem”, concluiu.
Acompanhe a cobertura completa da 4ª edição do Seminário Brasileiros Ciclo Inovação.
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