“Temos que levar conhecimento à produção”, diz ex-ministro


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Foto: Tulio Vidal

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia e diretor-geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos, no interior de São Paulo, Marco Antônio Raupp, afirmou que o desenvolvimento da inovação no Brasil precisa superar as distâncias que existem entre os ramos do conhecimento e da produção e citou exemplos culturais e históricos do País para defender uma maior presença das empresas na formação de profissionais e na expansão das ideias. “O Brasil possui 2% da produção mundial. Vou repetir: 2% do mundo é produzido no Brasil e estamos na 13ª colocação em pesquisa científica mundial. Ou seja, nós estamos bem, porque estamos produzindo na mesma medida que o tamanho do País. Mas os dois setores estão muitos separados. Precisamos levar o conhecimento para a produção, tirando o fosso entre um mundo e outro”, disse ele, na abertura do painel A Tecnologia a Serviço da Pesquisa e do Desenvolvimento, o primeiro do Seminário Inovação: Metas e Desafios perante a concorrência internacional, organizado por Brasileiros nesta quinta-feira (6), em São Paulo.

“Os empresários que estão aqui podem olhar para o Barão de Mauá, que sofria com o problema da ausência de ideias ainda no Império porque vivia em uma sociedade escravagista, onde os escravos trabalhavam com a força, com as mãos, e as inovações ficavam concentradas nas cabeças dos senhores. Veio os Estados Unidos, um país colonizado depois da gente, mas que conseguiu vencer no campo das ideias. São requisitos da nossa cultura que precisamos atacar”, completou.

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Para Raupp, a pesquisa realizada no Brasil é relevante, mas não dialoga com a produção, para quem, de certa forma, trabalha. Ele também lembrou que alguns casos de sucesso no exterior têm características parecidas, como o investimento privado em áreas do conhecimento e do sistema produtivo. “Se a gente observar o cenário atual brasileiro, 95% das pesquisas são realizadas em instituições públicas. Isso desenvolveu, sem dúvida, a forma como os pesquisadores trabalham no País, mas também é fato que criou um ambiente onde eles trabalham apenas em áreas que consideram fundamentais. O pesquisador delimita o seu território e trabalha muito pouco com demandas externas que são colocadas para ele. Criou-se um mundo a parte, portanto. É uma característica histórica, que pode ser observada desde os anos 1940”, disse ele. “Outra demanda que ainda não agimos com propriedade é na educação, especificamente, voltada para inovação, que prestigie o jovem para inovar, para empreender, para seguir seus próprios caminhos. É um desafio para o Brasil”, completou.

Entre os elogios que o ex-ministro destinou, falou sobre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), reconhecida nacionalmente e internacionalmente pelo avanço que proporcionou para a produção agropecuária brasileira, único setor em crescimento na economia do País atualmente, e também citou os programas recentes do governo federal, como o Pronatec e o Plano Inova Empresa, lançado em 2013 pela presidenta Dilma Rousseff para fomentar a pesquisa, o desenvolvimento e para projetos de empresas brasileiras. Raupp acredita que o setor privado precisa investir mais do que a esfera estatal na inovação brasileira. “Em todos os países de sucesso na produção de manufaturas, o esquema de investimento é o dois por um: dois para as empresas privadas e um para o governo. No Brasil é meio a meio. Portanto, o setor privado precisa investir mais nesse País e as pessoas precisam acabar com o paternalismo do Estado, achando que o governo vai resolver tudo”, finalizou.

Marco Antônio Raupp participou do debate do painel A Tecnologia a Serviço da Pesquisa e do Desenvolvimento ao lado de Jim Sullivan, presidente da IDG  Internacional Publishing Services, da escritora Martha Gabriel e do CEO da Litteris Consulting, Cézar Taurion. O evento aconteceu durante esta quinta-feira (6), no Hotel Tivoli, na região da Avenida Paulista, em São Paulo. 

Acompanhe a cobertura completa da 4ª edição do Seminário Brasileiros Ciclo Inovação


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