Goldfajn e Bresser-Pereira concordam sobre necessidade de responsabilidade fiscal

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O primeiro painel do seminário Rumos da Economia – Desafios para o Crescimento, promovido pela revista Brasileiros foi O Mercado de Crédito no Brasil, e contou com a participação do economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, e o ex-ministro e professor emérito da Fundação Getulio Vargas, Luiz Carlos Bresser-Pereira. 

Segundo Goldfajn, “é preciso entender que, desde 2008, o mundo mudou”. Para os países latino-americanos, o ciclo terminou em 2010, com o fim do boom das commodities. O segundo, internacional, de juros muito baixos e dinheiro barato, está terminando também. A América Latina desacelerou, mas no Brasil, o movimento foi mais forte. “Parte tem a ver com políticas internas e com a necessidade de ajustes serem feitos: fiscal, quase fiscal, tarifas públicas, balanço de pagamentos e o ajuste de juros por parte do BC, para a inflação voltar a atingir o centro da meta, de 4,5% ao ano.

O economista diz que, sem dúvida alguma, a economia hoje está em recessão. No flanco externo, existe a perspectiva de os Bancos Centrais elevarem os juros. “Não se sabe se o Federal Reserve eleva em setembro ou dezembro.”

Já o ciclo de commodities terminou, com os preços voltando a cair, como ocorreu na Primeira Guerra Mundial, na Segunda, na  crise do petróleo e durante o forte crescimento da China. Ou seja, há uma questão global do crescimento baixo. Mas isso não significa que políticas internas não sejam importantes.

Para Goldfajn, se não houver reformas profundas, dificilmente o País voltará a crescer 4,5% ao ano. Observa-se alguma melhora no mercado financeiro: os credit default swaps alcançaram 320 pontos, em fevereiro. Significa que o risco é compatível com grau especulativo. Mas agora refluíram e voltaram a indicar grau de investimento. Os juros sobem, o câmbio cai e Bovespa avança..

O papel do ajuste é a menor intervenção no câmbio pelo BC e o realismo tarifários. De todo modo, afirmou, é “muito difícil ter um superávit primário de 1,2% neste ano, por conta da arrecadação em queda.

Bem-humorado, Bresser disse que concordava com 95% do que Goldfajn falou, apesar de serem de campos opostos na economia. O primeiro é desenvolvimentista e o segundo, liberal.

Os 5% de discórdia: “Estamos fazendo um estranho ajuste, por que feito na recessão”. Segundo ele, a política fiscal foi equivocada em 2013/2014. Mas, com o fim doboom das commodities e a crise da Petrobras, agora sobra desconfiança. Para ele, é preciso fazer o ajuste fiscal para também pagar “os custos absurdos da taxa de juros”.

Feito o ajuste, o Brasil retomará o crescimento? “Se falarmos em 1% ao ano, sim. Precisaríamos crescer entre 3,5% e 4%, para retomarmos o padrão dos anos 1950 a 70”, disse Bresser-Pereira.

O baixo crescimento não é decorrente da falta de confiança desde o Plano Real, mas sim educação e infraestrutura insuficientes. A corrupção sempre existiu no Brasil. “Hoje, ao menos a Polícia Federal investiga. Mas não são fatos novos.”

Quais são as causas da quase estagnação? “Inventamos que o Estado não tem recursos e não pode poupar e investir em infraestrutura e temos alta preferência pelo consumo imediato”, diagnosticou. Na sequência vêm a taxa de juros elevada e a taxa de câmbio, que não é competitiva desde 1990/1991. “Isso porque queremos crescer com poupança externa, com déficit em conta corrente. Isso é populismo cambial, chancelado inclusive pelo Fundo Monetário Internacional Se não resolvermos estes três problemas, estaremos fadados a crescimento medíocre.”           

 


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