A morte do ambulante Índio: um retrato da intolerância que ascendeu em 2016

Imagem utilizada pelo deputado Jean Willys para repercutir a morte de Índio. Foto:  Reprodução / Facebook
Imagem utilizada pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) para repercutir a morte de Índio. Foto: Reprodução / Facebook

A morte do vendedor ambulante Luis Carlos Ruas, o Índio, de 54 anos, como era conhecido nas cercanias da estação Dom Pedro II do Metrô, em São Paulo, onde brutalmente foi assassinado a socos e pontapés por dois homens identificados pela polícia militar da capital paulista como Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins. é sintomática de um dos saldos mais negativos deste 2016 que chega ao fim: a ascensão da intolerância no Brasil.

Segundo o relato de testemunhas e imagens gravadas pela segurança do Metrô, que somente prestou socorro ao ambulante cerca de uma hora depois, as agressões que levaram Índio a óbito foram motivadas pelo fato de ele tentar defender duas travestis que estavam sendo perseguidas pelos suspeitos de seu homicídio.     

Ocorrido em pleno Natal, o episódio de barbárie causa comoção nacional. Na rede social Facebook, cerca de duas mil pessoas confirmaram presença em um ato público programado para ocorrer na mesma estação, no início da tarde desta terça-feira (27), em repulsa à violência que vitimou o ambulante – Ruas será sepultado, às 16h30, no cemitério Vale da Paz, em Diadema, no ABC paulista.

Capa da edição de janeiro de 2015 de Brasileiros, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) manifestou solidariedade aos familiares de Índio, e também advertiu seus mais de 1,2 milhão de seguidores para o risco de, ao relevarmos o significado explícito do episódio de violência gratuita, ignorarmos a ameaça do pensamento fascista.

“A homofobia não se restringe às pessoas LGBTs e suas famílias, mas também às pessoas que se levantam contra ela, seja como acusação (Se está defendendo um homossexual ou uma travesti, é porque é ‘viado’ ou gosta de ‘traveco), seja como agressão física ou até como crime de ódio”, afirmou Jean Willys.

O deputado também enfatizou a reincidência de episódios desta natureza. “Não é a primeira vez: lembremos o caso dos dois irmãos atacados porque andavam juntos, abraçados, e os agressores pensaram que eram gays (o ataque foi tão violento que um deles morreu), ou também aquele pai que perdeu a orelha num ataque homofóbico porque acharam que seu filho era o namorado.”

Leia abaixo, na íntegra, o depoimento de Jean Willys.

Leia a entrevista com o parlamentar, publicada na edição 90 de Brasileiros.

Quando um vendedor é assassinado a socos e pontapés em uma estação de metrô de São Paulo por tentar proteger a vida de duas travestis em situação de rua, muita gente descobre da pior maneira que a homofobia e a transfobia não vitimam unicamente as pessoas LGBT. Nessa ressaca de Natal, depois de nos reunimos com nossos entes queridos aspirando por um mundo com mais diálogo, tolerância e amor, fomos puxados de volta para a realidade com a notícia do espancamento de Luis Carlos Ruas na estação Pedro II.
A homofobia não se restringe às pessoas LGBTs e suas famílias, mas também às pessoas que se levantam contra ela, seja como acusação (“Se está defendendo um homossexual ou uma travesti, é porque é ‘viado’ ou gosta de “traveco”), seja como agressão física ou até como crime de ódio. Não é a primeira vez: lembremos o caso dos dois irmãos atacados porque andavam juntos, abraçados, e os agressores pensaram que eram gays (o ataque foi tão violento que um deles morreu), ou também aquele pai que perdeu a orelha num ataque homofóbico porque acharam que seu filho era o namorado.
O recrudescimento da violência contra as pessoas LGBT está se reproduzindo num contexto de excessiva polarização política, reacionarismo no poder legislativo (não só no Congresso Nacional, mas nas assembleias legislativas e câmaras de vereadores), demonização da agenda política progressista e humanista, ataques às liberdades civis e crescimento do fundamentalismo religioso e do fascismo no Brasil.
É um problema seríssimo e os organismos internacionais de direitos humanos há anos cobram, do Estado brasileiro, uma resposta eficaz contra esse mal em todas as suas nuances. Neste caso recente de São Paulo, a polícia já identificou os agressores; agora cabe ao governo Alckmin não permitir que eles fiquem impunes, bem como reforçar as campanhas de conscientização e aprimorar as políticas de segurança – dentro e fora das estações de metrô – que levem em conta as vulnerabilidades das pessoas LGBTs, sobretudo aquelas que estão em situação de rua.
Peço às pessoas heterossexuais de bom-senso e não contaminadas pela estupidez motivada que, apesar desses casos de violência, não deixem de se levantar contra essas injustiças. Precisamos estar todos unidos para assegurar o direito de todos os cidadãos brasileiras de ir e vir.


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