Um computador, um dispositivo móvel, uma conexão com internet e um professor distante. A educação tradicional já não é mais a mesma há alguns anos e o avanço de tecnologias converge para que ela seja cada vez mais híbrida, integrando práticas tradicionais e virtuais. Segundo o último censo da Associação Brasileira de Educação à Distância, mais de 5 milhões de alunos estão matriculados em algum curso online.
Já o National Center for Education Statistics, órgão dos Estados Unidos, responsável por estatísticas em educação, aponta que até 2020, os “estudantes tradicionais” serão apenas 15% do total, contra 85% de alunos tradicionais. E por estudantes ‘não-tradicionais’ entendem-se aqueles que não compreendem a faixa etária que vai até a conclusão do ensino superior, aqueles que trabalham, já são pais ou que de, qualquer forma, optam por sistemas de ensino diferentes do presencial.
Democratização do ensino
Uma das primeiras coisas que Carlos Souza, CEO e um dos criadores do site Veduca sentencia em entrevista ao telefone é sobre a potencialidade da educação nos tempos atuais: “O uso da tecnologia consegue democratizar a educação de alta qualidade. Principalmente, em um país como o nosso. Dá a oportunidade de você treinar muito”, conta.
Era em março de 2012, que nascia o Veduca, portal que, inicialmente, reunia vídeos de aulas de faculdades tradicionais, incluindo aí Harvard, Oxford, MIT, Stanford, USP e Unicamp. De lá para cá muita coisa evolui e os números aumentaram. Hoje o Veduca conta com 4,3 milhões de visitas, e uma base de 275 mil estudantes cadastrados. “É um número respeitável, já que a gente não exige o cadastro das pessoas. Isso prova que há um mercado para isso”, defende.
Desde que inaugurou, a plataforma evolui para melhorar a experiência do aluno com o site. O Veduca deixou de somente transmitir conteúdo online, os chamados MOOCs – sigla em inglês para cursos abertos massivos online, para também oferecer cursos com certificação. Outro salto significativo foi ter lançado o primeiro MBA aberto online do mundo.
O curso em Engenharia e Inovação é composto de videoaulas cujo acesso é aberto e conta com a parceria da USP e da UFSC, que fornecem o conteúdo. Outro diferencial é que há uma opção para aqueles que querem entrar no MBA e também obterem certificação reconhecida pelo Ministério da Educação. Neste caso, o aluno entra em um programa de certificação pago, que inclui uma série de atividades também presenciais, incluindo aí até apresentação de Trabalho de Conclusão de Curso.
Segundo Carlos, a expectativa é lançar neste ano mais outros MBAs. Outras novidades também estão a caminho do Veduca, que pretende se tornar cada vez personalizado ao aluno e às suas possíveis lacunas de aprendizado. Ao mesmo tempo, parte para uma vocação mais interativa, permitindo criar entre os estudantes uma comunidade de afinidades e interesses destinada ao compartilhamento e incentivo de conhecimento.
“A gente quer reconfigurar um modelo tradicional, mas também acredito que vamos melhorar a educação presencial. As pessoas me perguntam se o Veduca vai acabar com a educação presencial. Não, e muito pelo contrario, eu acho que nós viemos para potencializar a educação presencial”, defende Carlos.
Para descomplicar o vestibular
O professor de física Marco Fisbhen deixou os limites tradicionais de uma sala de aula quando decidiu que era hora de testar novos modelos. Munido de uma câmera e um tripé, Marcos começou a se filmar. O conteúdo e a descontração eram os mesmos das aulas presenciais, mas com a possibilidade de atingir muito mais alunos. E deu certo. Em 2011, surgia então o Descomplica, site de videoaulas cuja intenção é ajudar o aluno “a se dar bem no Enem e no vestibular”. Ali, um time de 30 professores entusiasmados e carismáticos dão aulas das disciplinas do Ensino Médio, como Física, Química, Matemática, Português e Redação. É como um cursinho online e com outra diferença: os planos de assinatura são muito mais acessíveis que um cursinho tradicional. No plano anual, por exemplo, a mensalidade sai a R$9,99, e inclui ainda duas redações corrigidas e três aulas com monitoria por mês, além de aulas ao vivo.
“A proposta do valor acessível vem da vontade de dar escala àquela aula que era para uma turma pequena, dar escala para algo prazeroso e fazer a sala de aula ficar gigante. O Descomplica nasceu para ajudar os alunos a se prepararem para o ENEM e vestibulares, sejam os que não têm possibilidade de se inscreverem em um cursinho preparatório por uma barreira financeira ou porque não há essa opção na sua cidade”, explica Marco Fisbhen.
E os números do Descomplica são bem significativos para um comportamento atrelado à educação à distância. Segundo Marco, o ano de 2013 atraiu mais de 3 milhões de alunos e 78% ficaram acima da média nacional do ENEM. Na véspera da prova, mais de 115 mil estudantes assistiram a uma aula ao vivo transmitida pela plataforma.
Com uma comunidade no Facebook com mais de 755 mil fãs, Marco diz que o “calor” dos alunos é ainda sentido. Se vozes mais tradicionais se opõem a virtualização do ensino por ‘distanciar’ alunos de professores, Marco rebate: “na prática, a interação e o feedback são os mesmos, apenas realizados por meios diferentes. Se antes, na sala de aula presencial, percebíamos rostos iluminados e recebíamos sorrisos e abraços de gratidão, hoje chegam mensagens em todas as redes sociais nos dizendo o quanto fomos importantes naquela etapa da vida de cada aluno. Isso posso dizer com muita tranquilidade: o sentimento de “missão cumprida” é idêntico!”.
Para este ano, Marco garante outras inovações que se alinham com algumas tendências da educação à distancia, como o estudo adaptativo. Através de uma nova plataforma, será possível entender o que um aluno precisa em termos de conteúdo, entregando a ele o que é realmente relevante e de modo personalizado. “A digitalização do conteúdo e melhoria da banda larga são parte de um movimento que, de maneira geral, significa mais escala no acesso ao conteúdo, a qualquer hora do dia e de qualquer lugar, e uma maior personalização das experiências de aprendizado”, prevê.
No último final de semana, o LearnFest, evento voltado para iniciativas de educação e inovação que aconteceu em São Paulo, também revelou um cenário crescente para start-ups, empresas iniciantes de tecnologia, se dedicarem a empreender no campo da educação. Brasileiros esteve por lá e conversou com alguns empreendedores.
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