Os teens americanos não estão comprando roupas. Uma pesquisa feita pela empresa Thomsom Reuters revelou que houve um decréscimo de 6.4% nas vendas de varejo de confecções jovens nos últimos quatro meses. Será culpa do rolezinho, (ou aqui do flash mob)? A molecada vai ao shopping só para zoar? Não, dizem os analistas. Falta, à princípio, dinheiro nos bolsos, não apenas dos adolescentes, mas de seus pais, que são a grande fonte de rendas dessa faixa. Pelo visto as lojas da Abercrombie & Fitch estão sendo salvas graças aos turistas brasileiros e chineses, que se esforçam em destrambelhar as balanças comerciais de seus respectivos países.

É claro que os jovens americanos não estão na rua da amargura. A própria sobrevivência deles depende do consumo constante. Mas a redução da mesada ou do limite no cartão de crédito os obriga a priorizar despesas. No topo da lista das necessidades fundamentais estão os equipamentos eletrônicos. O smartphone reina supremo e deve ser trocado numa velocidade que deixa a luz comendo poeira. Estes aparelhos evocam também os aplicativos – únicos elementos que conseguem superar a rapidez do rodízio dos fones. Depois destes vêm os tênis, que gritam ao mundo o status de seus ocupantes. Estes não são tão ligeiros em suas obsolência. Os designers da Nike, Adidas e concorrentes podem ser muito criativos, mas as fábricas na Ásia não dão conta de colocar novos modelos no mercado a cada mês.

Conta-se também com os lançamentos de dois consoles de games, a Xbox e a PlayStation, nos últimos 120 dias. O que, claro, pulverizou orçamentos das novas e – por consequência – das velhas gerações. Lembre-se que, além de esvaziar carteiras, os consoles trazem outras ameaças ao comércio varejista. As máquinas obrigam seus donos a ficarem 24 horas conectados a elas. Jogam como se suas vidas dependessem disso. Nem dá tempo de sair para um rolezinho.

Pensando bem, é uma pena que eu não entenda nada de algorítimos e programação. Acabo de ter uma grande idéia que dou de graça agora para os mais espertos: que tal fazer um game “rolezinho”. O sujeito participaria com os amigos, também conectados, de uma bagunça virtual num shopping de sua escolha. Ninguém iria reclamar e a molecada sumiria.

De todo modo, a turma daqui está vestindo as mesmas roupas de quatro meses atrás (imagine). Deus queira que suas mães sejam lutadoras de MMA e consigam finalizar os filhos para tirar-lhes as vestes e mandar tudo para a lavanderia. Do contrário corremos o risco de uma nova geração de hippies fedorentos, como aconteceu com meus contemporâneos.

Os lojistas brasileiros enfrentam essa onda de falta de fregueses há muito tempo. O pessoal tem ido à Miami e Nova York para fazer compras. E os clientes que não conseguem viajar, simplesmente fazem encomenda aos que têm passagem comprada. Ou então vão à rua 25 de Março e arrematam aquelas cópias malhadas da pirataria. Já os comerciantes americanos só podem mesmo esperar que os turistas os salvem dessa nova tendência de frugalidade dos teens de seu país. E que dêem graças a Deus. O pior está por vir.

Já inventaram e está em fase de aperfeiçoamento uma multi tela que é, na verdade, um recinto fechado. O sujeito entra alí e estará como numa bolha. Terá a sensação de que aterrou em outro mundo onde pode participar interativamente das fantasias dos games como se estivessem acontecendo na realidade. Aí sim, ninguém vai precisar de roupa.


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