Quando o foco são as crianças

Ana Estela Haddad, coordenadora do São Paulo Carinhosa – Foto: Luiza Sigulem
Ana Estela Haddad, coordenadora do São Paulo Carinhosa – Foto: Luiza Sigulem

A cidade de São Paulo tem 900 mil crianças com até 6 anos de idade. Esse contingente integra a chamada primeira infância e está no foco do programa São Paulo Carinhosa, criado pela prefeitura em agosto de 2013, para integrar as ações do governo dirigidas a crianças dessa faixa etária. Um balanço do trabalho e análises feitas por especialistas de diferentes áreas está no livro O que Grandes Cidades e Políticas Intersetoriais Podem Fazer pela Primeira Infância, que será lançado às 19h30 desta quinta-feira (30) no Teatro Municipal. O tema também será discutido em seminário que antecede o lançamento e acontecerá das 8h30 às 18h na Praça das Artes, na avenida São João, 281, no centro da cidade.

“O livro foi escrito a muitas mãos. Procuramos registrar o percurso e quem nos acompanhou nele, de tal forma que uma futura gestão que queira trabalhar com a primeira infância encontre referências”, afirma a odontopediatra e primeira-dama Ana Estela Haddad, que coordena o São Paulo Carinhosa e atuou como organizadora da obra. “Claro que cada um faz o seu caminho, mas não precisa incorrer nos mesmos erros, inventar a roda.”

Como o programa envolve 14 secretarias municipais, as intervenções são preparadas e colocadas em prática a partir da articulação de diversas áreas. Um dos projetos diz respeito a crianças que vivem em cortiços e está sendo desenvolvido na região do Glicério, no centro da cidade. “Em uma situação como essa, temos de trabalhar em duas frentes”, diz Ana Estela. “A preferência é buscar uma situação melhor de habitação, mas, enquanto isso não acontece, precisamos trabalhar a questão da territorialidade, para melhorar a convivência.”

Entre os resultados da intervenção no Glicério está a conquista de um espaço público para as crianças brincarem nos finais de semana. Trata-se de uma rua sem saída, que era usada para estacionar carros. No começo, os moradores ficavam incomodados com as crianças brincando no local. A partir do processo de intermediação feito por profissionais vinculados ao São Paulo Carinhosa, eles perceberam que poderia haver uma convivência pacífica e passaram até a tirar os carros da rua para as crianças brincarem. 

“Houve uma mudança na forma de perceber e de usar aquele espaço comum”, lembra Ana Estela. “Por outro lado, nos cortiços as famílias foram cadastradas para serem referenciadas nos serviços de saúde e nenhuma criança ficou fora da escola.” Um dos inspiradores do trabalho foi o poeta e escritor Mário de Andrade, secretário de cultura da cidade na década de 1930, quando criou parques infantis com perspectiva integradora. “Ele foi um precursor. As atividades dos parques envolviam educação, saúde, cultura, esporte”, conta Ana Estela.

O escritor Mário de Andrade, secretário municipal de cultura na década de 1930 – Foto: Benedito Junqueira Andrade
O escritor Mário de Andrade, secretário municipal de Cultura nos anos 1930 – Foto: Benedito Junqueira Andrade

No seminário, ela vai coordenar um painel intitulado a partir do provérbio africano “É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”. O tema está, na realidade, na agenda mundial, como ressalta o psiquiatra infantil James Leckman, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. “Ainda que, em uma perspectiva global, a atenção para o desenvolvimento da primeira infância vem aumentando, mais de 40% das crianças com menos de 5 anos de idade em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento não estão atingindo seu potencial pleno de desenvolvimento”, escreve Leckman, que é um dos articulistas do livro O que Grandes Cidades e Políticas Intersetoriais Podem Fazer pela Primeira Infância.


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