“Vacinadas”, Forças Armadas não querem nem ouvir falar em golpe

Fotos: Luiza Sigulem
Manifestação contra o golpe leva multidão à Avenida Paulista em São Paulo. Fotos: Luiza Sigulem

Brasília, 18 de março de 2016

Nas ruas, vozes mais exaltadas, volta e meia gritam pedindo a volta dos militares, “para dar um jeito no país”. Entre a turma de reserva, senhores já chegando perto dos 70 anos ou mais, talvez saudosos dos tempos em que “governavam” o Brasil “pacifico e ordeiro”, graças ao regime totalitário que impuseram, desde os idos de 1964 – e lá se foram 52 anos – ecoam, de maneira mais discreta na movimentação e no volume das vozes, o sonho antigo de ver o reload da “Revolução”, para “acabar de vez com a baderna e a corrupção”.

Mas todos esses esquecem que o tempo e a passagem dos anos fazem com que intervenções militares, que já foram foi uma espécie de vício nacional, desde, vamos lá, a Proclamação da República, a primeira quartelada bem sucedida, sejam realmente passado para os altamente profissionais militares de hoje.

“Estamos vacinados”, comentaram à Brasileiros fontes militares de alta patente, refletindo um sentimento que permeia o dia a dia e a percepção da oficialidade das três Forças. Esse sentimento, que certamente causa alívio em quem já vivenciou os anos do regime militar, pode ser observado de uma maneira geral. Evidentemente que os militares acompanham os acontecimentos, especialmente a movimentação das ruas, com atenção, mas não com aquele espírito interventor, de donos da verdade, de guardiões de tudo. Mas que ninguém tente chamá-los para um golpe das antigas.

Vai, como se dizia nos idos de 64, “dar com os burros n’água”. E acham que a segurança pública está sendo mantida nas manifestações pelas PMs e, mais importante, por uma aparente redução dos atritos, como as manifestações desta sexta mostraram. “Alguns casos isolados de violência ocorreram, mas tudo indica que os manifestantes a favor e contra o governo estariam adotando a moderação e evitando o confronto”, comentou um atento observador da situação nacional.

De olho na TV, ele acompanhava a chegada do presidente Lula ao palanque da Avenida Paulista, onde centenas de milhares de pessoas marcavam presença. E destacava o caráter ordeiro da multidão como uma garantia de respeito pela ordem.

Na verdade, quando falam em vacina contra o vírus das “intervenções militares e dos golpes”, os oficiais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica refletem as mudanças dos tempos. Afinal de contas, já estão razoavelmente longe os 20 anos de governos militares, iniciados com um verniz de democracia, como o de Castelo Branco, passando pelos anos de chumbo de Costa e Silva e, principalmente de Garrastazu Médici, seguindo mais light com Ernesto Geisel, até acabar com os longos e confusos seis anos de Joao Baptista Figueiredo, o último general-presidente, que saiu do Palácio do Planalto pela porta dos fundos, para não passar a faixa a um presidente civil.

Já o período democrático, iniciado em 1985, já comemora 31 anos de Estado de Direito e democracia. Onze a mais, é sempre bom lembrar, que a ditadura militar dos generais e o dobro da ditadura Getúlio Vargas. Nesse tempo, a renovação e rejuvenescimento da oficialidade, determinada por regras estabelecidas por Castello Branco, limitando até o tempo de permanência em cada posto da carreira, foi mandando para casa todos os que participaram, de formas diretas ou indiretas dos governo e das atividades militares.

Basta observar que, para a totalidade dos capitães-de-mar-e-guerra da Marinha e dos coronéis do Exercito e da FAB, 1964 ainda não era nem um brilho nos olhos de seus pais. Mais ainda, a maior parte dos oficiais-generais com duas estrelas – contra-almirantes, generais-de-brigada e brigadeiros – o primeiro posto do generalato, também nasceu depois do golpe militar. E aprendeu sobre ele como matéria escolar, ou em conversa com os pais. E, dependendo da escola, ou da ideologia das famílias, ou era a Revolução, ou o golpe militar, como aliás, todos os livros escolares ensinam há um bom tempo.

Mesmo quem nasceu antes de 1964, caso dos ocupantes dos postos mais altos da carreira militar (os oficiais-gerais de quatro estrelas), e que hoje, no topo, como almirantes-de-esquadra, generais-de-Exército eenentes-brigadeiros do ar, têm em torno de 62 a 63 anos, eram ainda pré- adolescentes, nos primeiros anos do antigo ginásio. E se tornaram oficiais de 1975 para cá, quando o regime começava a sofrer mudanças em seu rigor e repressão. Ao longo dos anos, foram vivenciando os tempos da abertura, da redemocratização e assumindo com profissionalismo suas tarefas de defender o país, não do chamado “inimigo interno”, como a ditadura rotulava quem pensava diferente.


Comments

2 respostas para ““Vacinadas”, Forças Armadas não querem nem ouvir falar em golpe”

  1. Avatar de Almanakut Brasil
    Almanakut Brasil

    Saindo o governo de gente que está aí por causa da falha do Regime Militar brando, sairão os militares comandados por um comunista!

    E virão os militares anticomunistas!

  2. XÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ 13!
    DESCE A RAMPA ventríloqua!
    FORA! FORA! FORA! FORA! FORA! RUA! RUA! RUA! RUA! RUA!…

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