A cura pelos livros – Parte 2

No post anterior eu comentava as sugestões de remédios literários selecionadas pela dupla Ella Berthoud & Susan Elderkin em The Novel Cure. No mesmo livro elas tratam de “doenças” ou males ligados à própria leitura, indicando saídas razoáveis para cada caso

 

Amnésia

Para quem tende a esquecer os livros que leu uma semana depois, elas recomendam um diário de leituras, com impressões, seleção de trechos etc. Sensato, mas o fato é que pouquíssima gente irá fazer isso. Para quem conseguir, vale muito a pena. Aos que preferirem um caminho mais curto, sugiro anotarem na agenda o dia em que terminaram o livro e principalmente anotarem no livro tudo o que acharem digno de..er..nota. Não temam estragar sua linda edição – ela ficará mais linda com seus rabiscos, comentários, sublinhamentos, asteriscos, insights, telefones (que depois você não lembra de quem é) e até ideias para outras historias (as suas). Um bom leitor está sempre com o lápis na mão. Para citar só dois bons exemplos, as bibliotecas de Graham Greene e George Steiner estão lotadas com suas respectivas caligrafias – Greene chegava ao ponto de criar contos e personagens nas laterais dos livros que ia lendo, inspirado pela leitura.

Compulsão consumista

Aqui estou totalmente de acordo com as autoras, embora ainda não consiga seguir seus conselhos, destinados àqueles incapazes de deixar de comprar livros novos mesmo sabendo que não terão tempo de lê-los. Pra quem realmente gosta, o livro é um objeto muito tentador, inspira até uma certa sensualidade: o toque, o cheiro do papel, a beleza da capa…Como não levá-lo para casa? Uma criança pensaria o mesmo de um filhotinho de cachorro, uma madame frívola também, em relação a um sapato. Não há diferença: é sentimental, é frívolo, é um apego desnecessário.

E o que elas sugerem? O que eu já venho fazendo há um tempo: se o importante é o conteúdo, baixe os livros na versão eletrônica. Se você ler e realmente gostar do que leu, pode até pensar em comprar uma versão física, para consultar manualmente na sua biblioteca. O livro digital traz imensas vantagens (além do desapego pelo objeto): não ocupa espaço na sua casa; é bem mais barato; vem com dicionário automático e você pode sublinhar e fazer notas à vontade e depois encontrar qualquer coisa que te chamou atenção.

No caso de realmente não gostar dos e-books, seja porque aparelhos digitais te dão icterícia, ou porque você não consegue abrir mão das sensações que o objeto livro te dá, a dupla valente recomenda um regime restritivo. Primeiro: coloque os livros novos  (ou seja: para ser lidos) numa mesma prateleira. Segundo: só compre um livro novo se tiver lido algum ou alguns dessa prateleira. Terceiro: se algum desses livros permanecer intocado por mais de quatro meses (eu diria dois anos, vai), você deve dá-lo para um amigo ou uma instituição. Pronto!

Sem tempo para ler

A receita nesse caso é simples e discutível: Audiolivros. O que as doutoras recomendam é que você compre um belo par de fones e ouça, por exemplo, Em busca do tempo perdido na voz de algum ator ou atriz, enquanto passa roupa, lava louça, vai pro trabalho etc. Nunca experimentei. Ou melhor, já ouvi livros, poemas e contos lidos pelo autor, mas não porque não tivesse tempo, e sim porque estava interessado no resultado, nesse casamento entre a voz de quem pensa e seu pensamento. Acho que um livro exige atenção absoluta. Ouvi-lo fazendo qualquer outra coisa, mesmo que seja uma atividade que não exija muito do cérebro, não me parece o ideal. Mas como o ideal é raro, quem sabe?

To be continued…


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